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    Tragédia em voo da Chapecoense

    Emergência em A320 pode ter forçado voltas do avião da Chapecoense

    EDUARDO GERAQUE
    FABRÍCIO LOBEL
    DE SÃO PAULO

    29/11/2016 16h56 - Atualizado às 11h38

    A declaração do estado de emergência em uma aeronave Airbus sobre Medellín logo antes da queda do avião da Chapecoense pode ajudar a explicar o acidente que matou 71, na madrugada desta terça-feira (29).

    O avião da empresa colombiana Viva Colômbia havia saído da capital Bogotá em direção a San Andres, uma ilha no Caribe. A companhia colombiana confirma que um dos indicadores do painel do piloto acusou um problema com o combustível e que, por segurança, pediu que seu pouso fosse mudado para o aeroporto de Medellín. A empresa, no entanto, diz que não declarou emergência, como informou as autoridades colombianas.

    Enquanto o voo da Viva Colômbia foi direcionado para a pista, o voo da boliviana LaMia, com a equipe da Chapecoense, foi orientado a voar em círculos para esperar a liberação para o pouso. Acredita-se que, por ter pouco combustível, a aeronave boliviana caiu antes de chegar ao aeroporto.

    O Airbus conseguiu pousar em segurança, mas pode ter ajudado a forçar que o avião da Chapecoense rodasse no entorno de Medellín à espera de autorização para o pouso. O sistema de monitoramento FlightRadar mostra que as duas aeronaves passaram praticamente pelo mesmo ponto em um mesmo horário.

    A simples espera do avião da Chapecoense em pleno voo por si só não é perigoso. Existem procedimentos padrões para que uma aeronave voe em círculos enquanto aguarda liberação da pista.

    Segundo o FlightRadar, o piloto que levava o time brasileiro cumpriu este procedimento, mas inexplicavelmente, perdeu altitude e caiu em uma área montanhosa.

    Para um oficial da Força Aérea Brasileira (FAB) ouvido pela Folha que não quis se identificar, o fato de a aeronave ter voado em círculos antes do acidente enquanto aguardava autorização para pousar em Medellín, contudo, é uma das dúvidas que deverão ser esclarecidas.

    "Se ele estava com problemas de combustível, não tem sentido que tenha orbitado", diz.

    Para o especialista em aviação civil Lito Sousa, a velocidade da aeronave, 263 km/h, também era mais baixa do que a de costume em um voo regular e só compatível com uma grande aproximação da pista de pouso, o que não era o caso. O aeroporto de Medellín ainda estava a cerca de 30 km de distância.

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    No meio da aviação especula-se se a capacidade de combustível da aeronave era suficiente para cumprir o trajeto entre Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, e Medellín, na Colômbia.

    Informações ainda preliminares apontam que os tanques de combustível da aeronave dão conta para uma viagem entre as duas cidades sem muita folga. Ou seja, é possível que a aeronave tenha tido problemas com a quantidade de combustível.

    "É uma possibilidade que está sendo muito aventada. Se esses parâmetros forem realmente próximos [autonomia da aeronave e distância entre as cidades], um voo desses não poderia ser feito sem uma escala para reabastecimento", diz Rodrigo Spader, piloto e presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas.

    A falta de combustível, segundo o especialista Sousa, pode ser uma das causas contribuintes para o acidente a serem investigadas. Para ele, no entanto, dificilmente um piloto apresentaria um plano de voo que previsse uma margem de segurança tão pequena.

    Para o oficial da FAB, a falta de combustível parece crível diante das informações disponíveis até agora. "É possível ter ocorrido uma falha na alimentação do motor, ou um entupimento, ou o uso de um combustível de baixa qualidade. Dificilmente uma pane elétrica ou de motor teria causado o acidente", afirma.

    Os especialistas, no entanto, observam que apenas a análise das caixas pretas encontradas no meio da tarde desta terça-feira poderá solucionar as causas contribuintes para o acidente. A análise pode demorar meses.

    VÍTIMAS

    Entre as vítimas, estava a delegação da Chapecoense e jornalistas brasileiros. O time disputaria nesta quarta (30) a primeira partida da final da Copa Sul-Americana contra o Atlético Nacional, que lamentou a morte dos jogadores.

    A informação foi inicialmente divulgada pelo general José Acevedo Ossa, membro da polícia local e responsável pelo resgate, e foi posteriormente confirmada pelo prefeito de Medellín Federico Guitiérrez Zuluaga. Contudo, as autoridades colombianas ainda não localizaram todos os corpos –podem haver sobreviventes sob os destroços.

    O voo da empresa Lamia, proveniente da Bolívia, transportava 9 tripulantes e 68 passageiros. Ao menos 22 jornalistas de Fox Sports, Globo, RBS e rádios estavam no voo. As autoridades colombianas informaram que havia seis sobreviventes.

    São eles: o jornalista Rafael Henzel, da rádio Oeste Capital, os jogadores Alan Luciano Ruschel, Jackson Ragnar Follmann, Hélio Hermito Zampier Neto, e dois tripulantes Ximena Suárez e Erwin Tumiri. Eles foram encaminhados para hospitais da região, alguns em estado grave.

    O goleiro da Chapecoense, Marcos Danilo Padilha, que havia sido resgato com vida, não resistiu aos ferimentos e morreu no hospital. A morte de Padilha foi confirmada por um porta-voz do time catarinense.

    ACIDENTE

    O acidente ocorreu quando a aeronave se aproximava de Medellín, no noroeste da Colômbia, segundo fontes oficiais. Segundo o aeroporto José María Córdova, na cidade de Rionegro, onde a aeronave iria pousar, o acidente ocorreu em Cerro Gordo, no departamento de Antioquia.

    O acesso ao local, a cerca de 30 quilômetros de Medellín, é feito apenas por terra, devido às más condições meteorológicas.

    "Parece que o avião ficou sem combustível", disse Elkin Ospina, prefeito da cidade de La Ceja, vizinho do local do acidente. Segundo o funcionário, as autoridades já estão no local e os centros médicos se preparam para atender os feridos.

    A Aeronáutica Civil colombiana afirmou em comunicado que instalou um posto no aeroporto José María Córdova para gerenciar a situação. A prefeitura de Rionegro, pediu para a população evitar ir ao local do acidente e deixar as vias livres para facilitar o resgate das vítimas.

    O diretor da Aeronáutica Civil Alfredo Bocanegra disse em entrevista à Telemedellín, canal local, que pediu para todos os envolvidos no resgate permanecerem nas buscas. "Nessas próximas horas é preciso um esforço sobre-humano. Uma só vida, vale a pena", disse, sobre o processo de resgate.

    Acidente em voo da Chapecoense

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