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    Tragédia em voo da Chapecoense

    Vítimas do voo da Chape são recebidas sob chuva e emoção de parentes

    JULIANA GRAGNANI
    GUSTAVO URIBE
    ENVIADOS ESPECIAIS A CHAPECÓ (SC)

    03/12/2016 13h38 - Atualizado às 16h07

    A vontade era receber o time quase como campeão. Em vez disso, os moradores de Chapecó (SC) viram os jogadores do clube amado entrarem no estádio em caixões.

    A cidade abraçou a trajetória da Chapecoense, que ascendeu em cinco anos da série D para a série A e, de repente, se viu no centro do mundo por causa da maior tragédia do esporte brasileiro.

    A queda do avião fretado do time, na Colômbia, que disputaria a primeira partida da final da Copa Sul-Americana, deixou 71 mortos na madrugada de terça-feira (29), incluindo 19 jogadores, 24 membros da delegação e 20 jornalistas. Sobreviveram dois tripulantes, três jogadores e um jornalista.

    Sob forte chuva depois de dias seguidos de sol, o município do oeste catarinense recebeu na manhã deste sábado (3) os caixões de 51 dos mortos, com milhares de moradores se despedindo das vítimas no estádio, nas ruas e no aeroporto. Torcedores estavam aos prantos –concretizando a perda que parou Chapecó a semana inteira.

    Vítimas do voo da Chape são recebidas sob chuva e emoção de parentes

    Após passagem por Manaus, os corpos das vítimas chegaram à cidade catarinense às 9h25 em dois aviões da FAB (Força Aérea Brasileira).

    Muito emocionados, familiares dos jogadores interromperam encontro com o presidente da República, Michel Temer (PMDB), para acompanhar a retirada dos caixões.

    "O presidente cumprimentou os familiares e já começaram a chegar os aviões com os corpos. Não houve solenidade, não houve nada", disse Daniela de Marco, filha de Edir de Marco, ex-presidente do clube morto no acidente.

    Uma equipe médica ficou no aeroporto –pelo menos seis pessoas passaram mal. Em seguida, houve um cortejo em direção à Arena Condá –o trajeto de cerca de 9 km durou perto de uma hora.

    Com medo de ser vaiado, Temer havia decidido inicialmente receber os familiares só em evento reservado no aeroporto. Após críticas de parentes de vítimas, que falaram em "desrespeito" e "falta de dignidade", ele recuou e decidiu que iria ao estádio.

    'ÚLTIMO ADEUS'

    O velório no estádio da cidade de Chapecó fez parecer que a trama de filme havia chegado ao fim. Os caixões foram carregados por militares, e chegaram à arena sob os gritos de "o campeão voltou". Entre os presentes, o técnico Tite, da seleção brasileira.

    O clube esperava que 100 mil pessoas acompanhassem o velório, mas a chuva afastou parte dos torcedores, que ficaram dias seguidos indo ao espaço prestar homenagens, fazendo dali um memorial com flores e centenas de cartazes.

    O estádio, com capacidade para 19 mil, não chegou a lotar –do lado de fora, os quatro telões instalados não se mostraram necessários.

    Por WhatsApp, moradores de Chapecó haviam sido convocados para se voluntariar na tradução do evento para jornalistas estrangeiros –foram mais de mil credenciados para cobrir o evento, de mais de 15 países.

    Os torcedores repetiram a espontaneidade dos dias anteriores e cantaram gritos de guerra como se os jogadores estivessem em campo, chamando cada um pelo nome.

    "É nosso último adeus", lamentava a professora Mara Ecco, 56, usando uma camisa autografada pelo goleiro Danilo. "Eram nossos amigos queridos, nossos vizinhos."

    Para Sandra Acosta, 31, o momento representava a união chapecoense. "Estamos numa tristeza sem fim. Não vai ser curada hoje, não vai ser curada amanhã. Mas mostramos que somos unidos."

    Torcedores entrevistados pela Folha sempre choravam ao falar da tragédia. Eduardo Barros, 15, colocou as mãos no rosto: "Não consigo acreditar que não vou vê-los nunca mais". Jogador da sub-15 do time, estava na arquibancada, sem proteção, encharcado, lágrimas misturadas à chuva.

    Ilaídes Padilha, mãe do goleiro Danilo, herói da classificação do time na competição, foi extremamente aplaudida ao entrar em campo. Torcedores gritavam o nome do jogador.

    Na sexta, Ilaídes emocionou o público ao consolar o jornalista da SporTV Guido Nunes, no meio de uma entrevista: "Como vocês da imprensa estão se sentindo depois de perder tantos amigos queridos lá?".

    No campo, onde estavam familiares e imprensa, e na arquibancada, espaço dos torcedores, voluntários da Cruz Vermelha e profissionais da saúde circulavam acolhendo quem não se sentia bem. Havia profissionais de atendimento pré-hospital e psicossocial. Às vezes, a acolhida era um abraço ou uma conversa.

    No fim da cerimônia, familiares das vítimas deram uma volta pelo gramado, erguendo fotos delas e camisas dos jogadores. O público, emocionado, respondeu gritando cada um dos nomes.

    À noite, em um cemitério da cidade, amigos e parentes sepultavam um jovem da delegação da Chapecoense. Finda cerimônia, todos viraram para o lado, andaram alguns passos e enterraram outro amigo. E quando não parecia mais ser possível suportar tanta dor, a cena se repetiu mais uma vez.

    Acidente em voo da Chapecoense

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