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    Tragédia em voo da Chapecoense

    Acidente com a Chapecoense lança alerta no mercado de voos fretados

    CAMILA MATTOSO
    DE BRASÍLIA
    EDUARDO GERAQUE
    DE SÃO PAULO
    SÉRGIO RANGEL
    DO RIO

    04/12/2016 02h00

    Martin Bernetti - 2.mai.1996/AFP
    Futebol- Taça Libertadores da América -1996: bombeiros equatorianos fazem vistoria no avião da delegação do Corinthians que sofreu acidente no momento da decolagem de volta ao Brasil, depois da vitória sobre o Espoli por 3 a 1. [FSP-Esporte-02.05.96] A Boeing 727-200 of the Brazilian company Fly lies across Luis Tufino street in Quito 01 May after it failed to takeoff and overran the runway. The plane on a charter flight back to Brazil was carrying the Corinthian soccer team which had played a game in Ecuador 30 April. No major injuries were reported among the 90 passengers and crew which included reporters and fans of the team. The accident is under investigation. AFP PHOTO/Martin BERNETTI*** NÃO UTILIZAR SEM ANTES CHECAR CRÉDITO E LEGENDA***
    Bombeiros equatorianos fazem vistoria no avião da delegação do Corinthians após acidente em 1996

    Duas décadas se passaram entre a quase tragédia com o time do Corinthians no aeroporto de Quito em 1996 -mesmo ano do acidente fatal com a banda Mamonas Assassinas, em São Paulo- e a queda do avião da Chapecoense nos Andes colombianos.

    No Equador, o avião da delegação alvinegra não conseguiu decolar e foi parar na avenida em frente ao aeroporto. A aeronave fretada, que havia sido usada por uma empresa de Marrocos, era da então novata companhia brasileira Fly, que teve vida curta.

    Nesta semana, a morte de 71 pessoas, entre jogadores, comissão técnica, dirigentes e jornalistas após a queda do único avião em funcionamento da empresa boliviana LaMia voltou a disparar o sinal de alerta no mercado de fretamentos aéreos.

    Principalmente os times de futebol, formados por grandes grupos, preferem alugar um avião inteiro porque isso facilita o deslocamento.

    Os horários, normalmente, são definidos pelas comissões técnicas, o que é conveniente para o descanso e a preparação dos atletas. Os custos tendem a ser menores.

    Após a tragédia, os times brasileiros querem que a Conmebol, órgão responsável pelo futebol no continente, organize um sistema único de logística para os deslocamentos pela América Latina.

    Os jogadores do Boca Juniors pediram para usar apenas os voos de carreira. Isso apesar de o time de Buenos Aires usar muitas vezes uma empresa argentina especializada em fretamentos, considerada idônea no mercado.

    Em Chapecó, os enlutados pais de alguns jogadores reclamaram de o clube ter escolhido voar em um avião alugado, de uma empresa praticamente desconhecida.

    Reprodução
    Sem Qualidade - Todos os jogadores e a comissão técnica da Chapecoense posaram para foto à frente do avião, antes de embarcar na Bolívia rumo a Medellín.
    Jogadores e comissão técnica da Chapecoense posam para foto à frente do avião

    Os dirigentes da agremiação se defenderam, dizendo que alugaram um equipamento de uma empresa conhecida, que havia feito dezenas de voos com times de futebol nos últimos meses.

    "É um processo de logística importante, não pode ser feito pensando apenas no custo. Ou como se fosse o aluguel de um carro em uma locadora", diz Marcus Reis, piloto e coordenador do curso de ciências aeronáuticas da Universidade Estácio, do Rio.

    Segundo ele, é comum ocorrer muitos acidentes rodoviários, em finais de semanas, com grandes grupos, porque o aluguel foi feito apenas levando em consideração o custo da viagem. E não o estado do ônibus nem a habilitação dos motoristas.

    "No caso da logística aérea, existem pessoas especializadas em achar soluções, porque conhecem o setor."

    Apesar da insegurança gerada pelo acidente, o mercado de fretamento no Brasil e na maioria dos países é seguro, dizem os especialistas.

    Ele é feito normalmente com aviões das grandes empresas do setor e também segue as mesmas regras da aviação comercial nacional.

    Mesmo as empresas especializadas em fretamentos usam aviões de renome. Inclusive o modelo britânico que caiu nesta semana.

    No Brasil, os especialistas afirmam, um acidente como o registrado na Colômbia não teria chances de ocorrer.

    Isso porque, segundo eles, se um piloto apresentar um plano de voo em que a autonomia for a mesma da duração da viagem, a decolagem não seria autorizada.

    As evidências mostram que isso ocorreu na Bolívia e, mesmo assim, houve a saída.

    O mercado de fretamentos no Brasil não é maior mais por uma questão comercial do que logística ou de segurança, afirma o coronel Douglas Machado, piloto, consultor de empresas do setor e especialista em investigações de acidentes aéreos.

    "É um mercado com muito potencial. Seja por causa dos times de futebol, seja por causa do turismo", diz.

    "No caso do futebol, existe demanda o ano inteiro. Portugal [um país menor], por exemplo, tem ao menos três empresas de fretamento."

    Apesar de o preço variar bastante, o fretamento de um jato para quase 200 pessoas, estimam os especialistas do setor, pode variar de US$ 8 mil a US$ 15 mil a hora de voo.

    Os clubes que costumam fazer isso ainda podem vender os lugares vazios para torcedores ou jornalistas.

    "No Brasil, atualmente, deve existir, em média, a decolagem de cinco a seis voos fretados por dia", estima Machado. São mais de 3.000 voos regulares por dia no país.

    CLUBES PRESSIONAM CONMEBOL

    Depois da tragédia com o avião da Chapecoense, clubes brasileiros cogitam pressionar a Conmebol para que a confederação mude a forma como as viagens de competições sul-americanas são feitas.

    Uma das ideias é pedir que a entidade dê suporte para os deslocamentos, no formato que a CBF faz no Brasileiro, por exemplo.

    Atualmente, a Conmebol não orienta os clubes sobre voos para os jogos.

    Ao longo dos anos, para disputar Libertadores e Copa Sul-Americana, os times acabaram formando especialistas em logística.

    Não foram poucos os perrengues enfrentados por clubes de futebol em viagens no continente devido à pouca oferta de rotas diretas entre os países.

    Em muitos casos, os clubes viajam em voos comerciais para uma capital e depois fretam um avião para cidades menores. Outras vezes, optam por ônibus por ser mais barato ou por não existir aeroporto.

    Em março, por exemplo, o São Paulo teve um fretamento para a Venezuela vetado e teve de fazer uma maratona de voos para enfrentar o Trujillanos.

    Foram várias paradas: de São Paulo para o Panamá e do Panamá para Maracaibo, em voos comerciais. Depois, um jato para apenas 25 pessoas levou a delegação para a cidade de Valera, local do duelo. O grupo teve de se dividir. Primeiro foram os atletas, depois a comissão técnica.

    Os clubes ainda não definiram o que pretendem fazer, mas passaram os últimos dias em contato.

    O presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello, afirmou que não vê necessidade em mudar os deslocamentos do time.

    Durante a temporada de 2016, o time foi o que mais viajou no país, percorrendo a distância de duas voltas e meia em torno da Terra, segundo sua assessoria de imprensa.

    Neste período, por diversas vezes o clube optou por voos fretados para melhorar a logística e dar mais conforto aos jogadores e à comissão técnica.

    Geralmente, a agência responsável faz uma cotação nas principais companhias aéreas do Brasil (Avianca, Azul, Gol e Latam), levando em consideração horários, custo, capacidade, dias de utilização e distância percorrida.

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