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    Clubes criam liga independente de polo e brigam por benefício a atletas

    PAULO ROBERTO CONDE
    DE SÃO PAULO

    08/12/2016 02h00

    Isabella Tirulli/Divulgação
    Gustavo Coutinho, atleta do Club Athlético Paulistano (CAP) (Foto: Isabella Tirulli/Divulgacao) ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Gustavo Coutinho, do Paulistano, em partida disputada pela Liga PAB, independente da CBDA

    Dez clubes montaram neste ano um organização nacional de polo aquático independente da CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos), mas enfrentam dificuldade para liberação de benefícios a seus atletas por não terem aval da entidade.

    A Liga PAB (Polo Aquático Brasil) foi registrada como entidade do desporto nacional na metade do ano, encabeçada por Flamengo, Fluminense, Pinheiros, Hebraica Paulistano, Paineiras e Sesi.

    Sem o reconhecimento da confederação, os jogadores dos clubes não podem pleitear o Bolsa Atleta, concedido pelo Ministério do Esporte, cuja remuneração varia entre R$ 370 e R$ 3.100 em suas categorias, que vão da base ao teto destinado a atletas olímpicos e paraolímpicos.

    Um dos pré-requisitos para a obtenção do benefício é "ter filiação à entidade de administração de sua modalidade, tanto em nível Estadual (federação) como nacional (confederação)". Clubes e cartolas da associação têm tentado reverter isso em negociação com a pasta.

    "A questão do Bolsa Atleta é uma luta. Como a CBDA não chancela [a liga], lutamos para o ministério reconhecer a liga e, assim, os atletas receberem", disse o técnico do Sesi, André Avallone.

    À Folha, o Ministério do Esporte afirmou que "recebeu o pleito da liga independente de polo aquático, e a proposta está em análise".

    Os jogadores dos clubes que compõem a PAB formam a base das seleções brasileiras masculina e feminina.

    A ideia de criá-la surgiu da insatisfação com a CBDA, que promovia um campeonato nacional desorganizado e sem dar voz às equipes.

    "Pedimos pontos em reuniões com a confederação e nenhum foi cumprido", afirmou Eduardo Cunha, vice-presidente da nova liga.

    "Diversas vezes tentamos contato com a CBDA e nunca tivemos sucesso. Queremos mais Estados e mais clubes no polo aquático, para desenvolvê-lo e dar mais qualidade ao país", complementou.

    Felipe Santos da Costa e Silva, que disputou os Jogos do Rio, disse que a "CBDA nunca perguntou se estávamos [jogadores] felizes ou se queríamos mudar alguma coisa". Ele joga no Pinheiros.

    Para constituir a PAB, os clubes se inspiraram no NBB, também administrado por uma associação independente da CBB (confederação brasileira), a Liga Nacional de Basquete –que, inclusive, deu consultoria para os dissidentes do polo aquático.

    A primeira temporada da liga está em andamento, mas a ideia é fortalecê-la em 2017 nos torneios masculino e feminino, e lançar campeonatos de base. A grande queixa é que a CBDA promovia campeonatos que duravam 15 dias e envolviam poucos times.

    A confederação continua a organizar um campeonato nacional, mas esvaziado. A última edição terminou com o Botafogo como campeão.

    "É o primeiro ano da PAB, o primeiro passo, e os atletas têm que ter paciência", afirmou Rudá Franco, do Sesi.

    A segunda temporada da liga independente deve ocorrer de setembro a dezembro de 2017, com formato de disputa em turno e returno.

    No momento, a PAB não possui patrocinadores nem acerto para transmissão em televisão. São os clubes que têm de arcar com despesas.

    Segundo Eduardo da Cunha, vice-presidente da PAB, a intenção é tê-los para 2017, assim como a cooptação do Botafogo, único grande do polo aquático nacional fora da liga. "Há um pacto entre os clubes e jogadores da PAB de não disputar jogos dos campeonatos promovidos pela CBDA", disse o dirigente.

    'MOVIMENTO POLÍTICO'

    Ricardo Cabral, consultor de polo aquático da CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos), afirmou que a entidade não tem "nada contra" a criação de uma nova liga nacional. Mas afirmou que questiona os objetivos dos dissidentes.

    Cabral disse que a alegação dos clubes da PAB, de que o campeonato nacional organizado pela confederação era curto, não procede porque houve concentração de esforços para os Jogos do Rio.

    "Pusemos todos os nossos melhores jogadores em clubes da Europa, e depois em 2016 retomaríamos a duração do campeonato. Mas aí virou um movimento político", afirmou.

    Cabral reclamou que a intenção dos clubes dissidentes era criar uma ingerência dentro da CBDA.

    "Nesses termos, nem a CBDA nem nenhuma confederação vai reconhecer ou chancelar", comentou.

    Ele disse que a CBDA permitiu que atletas de categorias sub-17 e sub-19 formassem equipes avulsas para participar do campeonato nacional e, assim, pleitearem a Bolsa Atleta.

    "Só não fizemos na categoria adulta, porque adulto tem capacidade de decidir", respondeu.

    O Ministério Público Federal pediu, em setembro, afastamento da cúpula da CBDA, entre eles Cabral, por improbidade administrativa. A denúncia partiu de ex-jogador de polo.

    Liminar acatou o pedido, mas ela foi derrubada depois por outro juiz.

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