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    Atuação de Ataíde e temor de sanção do Profut ameaçam rachar São Paulo

    GUILHERME SETO
    DE SÃO PAULO

    13/12/2016 13h00

    A aprovação de um novo estatuto no São Paulo, com aceitação de 84% dos associados, sinalizava uma pacificação política do clube no início de dezembro. No entanto, já surge um início de racha político no São Paulo devido a proposta de aprovação do contrato de direitos de transmissão em TV aberta da Globo.

    O presidente do São Paulo, Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, convocou reunião do conselho deliberativo para esta terça-feira (13) para aprovar ou não o novo contrato com a emissora do Rio, que passaria a valer a partir de 2019.

    Para o cartola e seus apoiadores, o interesse está em receber imediatamente R$ 20 milhões de luvas e assim manter o que entendem ser um processo de saneamento das contas do São Paulo. O evento terá início às 19h30.

    No entanto, opositores do presidente têm duas restrições principais ao projeto, entrando assim em rota de colisão: o primeiro deles é o de que receber esses R$ 20 milhões significaria um adiantamento de receitas, contrariando uma proibição do Profut (programa de parcelamento de dívidas dos clubes), o que poderia implicar em sanções ao clube.

    O segundo se refere ao fato de que Ataíde Gil Guerreiro, expulso do conselho deliberativo do clube em abril e que muitos consideram que fez um mau negócio em janeiro ao aceitar R$ 60 milhões para assinar contrato em TV fechada com o SporTV, é quem toca as negociações com a TV Globo. Aplaudido de pé por conselheiros na época, Guerreiro passou a ser criticado depois que conselheiros passaram a acreditar que outros clubes fizeram melhores negócios.

    Conselheiros veem como "manobra" de Leco a convocação de uma reunião antes do final do ano, já que em abril de 2017 será escolhido o presidente do São Paulo que, justamente, poderia fazer uso dessa verba ao longo de sua gestão. Além disso, como se trata de dinheiro referente a 2019, conselheiros se preocupam com a possibilidade de punições por adiantamento de receita, vetado pelo Profut, que prevê multas ou mesmo perdas desportivas, como retirada de pontos ou rebaixamento.

    Contudo, Leco e seus apoiadores acreditam que, como o Profut admite o adiantamento de receitas em alguns casos de abatimento de dívidas, eles não teriam problemas. Procurado pela reportagem, o clube "reafirmou que a proposta está totalmente enquadrada nas condições apontadas pelo Profut".

    "Eu adoto uma postura de conciliação, sou a favor de um grande pacto feito pelas lideranças do São Paulo para que todos sigamos a mesma linha em benefício do clube. No entanto, vejo que hoje o clube segue na contramão disso", explica Julio Casares, conselheiro influente no clube.

    "Pessoalmente, sou contrário a qualquer antecipação. Temos de um lado, Profut, de outro a reforma estatutária, brilhante, que contempla uma gestão muito mais profissional. A antecipação complica a vida futura. Estranho a necessidade do aporte, porque o São Paulo teve receitas significativas e inesperadas ao longo do ano. Espero que não seja aprovada a antecipação", diz Jaime Franco, conselheiro encarregado de trabalho de revisão financeira no clube.

    "Não vou para a reunião pensando em chapas. Quero entender as necessidades do São Paulo. Se o Leco está argumentando que precisa de dinheiro para fechar as contas, vou questionar as condições do acordo, se isso será benéfico para o clube, se essa é a última vez que ele pedirá um aporte como esse. Caso não fique satisfeito com as respostas, votarei 'não'", diz Roberto Natel, que será candidato a presidente do clube nas eleições de abril.

    Expulso do conselho deliberativo do clube em abril por ter supostamente agredido o ex-presidente Carlos Miguel Aidar, Ataíde recebeu o cargo de diretor de relações institucionais das mãos de Leco. Protagonista nos últimos anos do clube, ele vinha adotando postura mais reclusa recentemente. No entanto, ele é uma das figuras centrais da atual negociação com a TV Globo, o que incomoda diferentes representantes de chapas do clube.

    A despeito das críticas recebidas no começo do ano, o valor de R$ 80 milhões em luvas, que seria alcançado com a soma dos dois contratos com a emissora, é visto como satisfatório por conselheiros da situação, que não creem que outros clubes além de Corinthians e Flamengo tenham conseguido cifras superiores.

    "Quando o São Paulo antecipou a TV fechada, o valor foi entendido como razoável e ajudou. Depois, vimos que outros clubes tiveram receita muito mais significativa. Pessoalmente, até gosto do Ataide. O presidente poderia contar com ele como assessor, mas não como diretor de relações institucionais. Isso é brigar com o conselho deliberativo que o expulsou", argumenta Franco.

    Por fim, também é motivo de críticas a convocação de mais uma reunião antes do final do ano, para decidir quais conselheiros ocuparão as vagas remanescentes de conselheiros vitalícios. Opositores veem uma operação "casada" na convocação das duas reuniões: conselheiros tentariam agradar Leco e a chapa da situação ao votarem favoravelmente ao acordo com a Globo e então receberiam em troca o apoio na votação da vitaliciedade. Contudo, a convocação para a eleição dos vitalícios é feita por Marcelo Pupo, presidente do conselho, e não por Leco.

    OUTRO LADO
    Procurado pela Folha, o São Paulo apresentou sua visão sobre a reunião e a relação com o Profut:

    "O acordo de direitos televisivos que será votado pelo Conselho hoje está sendo negociado há mais de um ano. Como em toda negociação, o São Paulo buscou as melhores condições de mercado e só levou a proposta adiante quando entendeu tê-las atingido. Importante ressaltar que o São Paulo está negociando o pagamento de luvas (recursos extraordinários) pela assinatura de renovação de um contrato _mesmo mecanismo quando da celebração do acordo dos direitos de transmissão de TV paga, que depois foi seguido por diversas outras agremiações."

    "Com o apoio do Conselho, que tem sido parceiro no processo de renovação do clube, o São Paulo poderá ter recursos para aumentar sua capacidade de investimento. Em cerca de um ano, o São Paulo reduziu sua dívida total em cerca de 30% e a dívida bancária em quase 45%. O custo mensal de seu endividamento caiu de R$ 14 milhões para R$ 5 milhões _cerca de R$ 9 milhões mensais que eram pagos em serviços da dívida puderam ser reinvestidos no clube."

    "A proposta que será analisada pelo Conselho contempla todas as exigências previstas no Profut. Sobre o adiantamento, o São Paulo esclarece que ele também está previsto na legislação desde que seja utilizado para amortizar a dívida, exatamente o que será feito, dentro do plano de saneamento. É também dever do gestor substituir uma dívida mais cara por uma mais barata e poupar recursos para o clube."

    "Essa gestão segue inabalável no propósito de preparar o São Paulo para o futuro, fato comprovado não apenas pelo aumento substancial de receitas e pelos números consistentes de redução de despesas, mas por iniciativas como a reforma do estatuto, que trará definitivamente a profissionalização do clube."

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