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    Família de Medina constrói instituto para treinar nova geração de surfistas

    JULIANA GRAGNANI
    ENVIADA ESPECIAL A SÃO SEBASTIÃO

    06/01/2017 02h00

    Nas mesmas águas de Maresias, no litoral norte de São Paulo, em que Gabriel Medina, 23, deu suas primeiras remadas em cima de uma prancha, um grupo de 38 adolescentes começará a ser treinado para o surfe profissional.

    Após investimento de cerca de R$ 3 milhões, a família do primeiro brasileiro campeão mundial de surfe prevê inaugurar no próximo dia 31 o Instituto Gabriel Medina, um centro de treinamento para atletas entre 10 e 16 anos -dos escolhidos, nove são meninas.

    "Nosso objetivo é treinar grandes campeões", diz Simone Medina, 46, mãe de Gabriel, que será a presidente da instituição, autorizada a captar mais R$ 3,7 milhões pela Lei de Incentivo ao Esporte.

    Os jovens foram selecionados no Circuito Medina 2016 da ASM (Associação de Surfe de Maresias) -os melhores, inclusive Sophia, 11, irmã mais nova de Gabriel, foram convidados a integrar o grupo, que terá entre os professores Charles, padrasto e treinador do campeão mundial. Gabriel também fará algumas participações especiais.

    Quem caminha por Maresias não tem como perder de vista o chamativo prédio de dois andares, ainda em construção. O espaço de 336 m² terá uma academia, piscina, espaço para consultas médicas, um auditório -onde aulas de espanhol e inglês serão ministradas e vídeos dos atletas serão exibidos para que eles possam ver seus erros e acertos-, um laboratório de informática, uma cama elástica e um palanque de frente para o mar para simular baterias.

    No segundo andar, haverá uma exposição permanente sobre a carreira de Gabriel.

    Ao lado do instituto, estão uma loja de Charles e um restaurante cujo espaço pertence a sua mãe. Na região, a família acaba de inaugurar um restaurante. E Gabriel ainda é dono de um condomínio de casas, em construção. "Ele é empreendedor. Parece que está indo para guerra. Já falei para ele parar de comprar coisas aqui, vai parecer que somos donos de Maresias", diz a mãe.

    Sentada na varanda de sua casa na praia, ela fala sobre o impacto do surfe. "Virou uma ferramenta poderosa para tirar os meninos de roubadas", diz ela, de shorts jeans e camiseta branca com a frase "my dream is real" (meu sonho é real).

    Ela de fato enxerga o projeto como uma espécie de sonho que virou realidade. Simone se mudou para a praia em 1991 por causa do surfe. Ali, conheceu o pai de Gabriel, e foi "garçonete, caixa, empregada doméstica, tudo para sustentar os filhos".

    "Vivi no sertão, sei como é", diz ela, referindo-se à região da praia, distante só duas quadras do mar, por onde os endinheirados passam longe.

    Para ela, o projeto levará "cidadania" às crianças, e o interesse é "de mudança delas", não comercial. Afirma que a pretensão da família "não é agenciar esses surfistas depois". As mães dos atletas que vão estudar ali frequentarão workshops, como um de maquiagem, parte mais social do projeto.

    Mas dos 38 adolescentes que frequentarão o instituto, só 12 são de Maresias -e nenhum do sertão, segundo Simone. "Os meninos têm vergonha de vir para cá. Vou trazê-los por meio da religião. Sou evangélica, eu prego."

    Por sua casa transitam diversos amigos da família -muitos surfistas. Ela e Charles acolheram Fernando Balbino dos Santos Jr., o "John John", 15, de Paúba. Ele é treinado por Charles e integrará o time do instituto.

    SERTÃO

    A 2 km da casa de Simone, um menino e um amigo com cabelo loiro de parafina andam de bicicleta pelo sertão. O estudante Pablo Henrique, 15, tem o sonho de surfar profissionalmente, mas diz nem ter tentado competir para entrar no instituto porque "era só até os 16 anos, não ia dar".

    Na escola onde Medina estudou, a municipal Professora Edileusa Brasil Soares de Souza, os alunos o veem como um ídolo -e a maioria já o encontrou na praia, ou tem conhecidos em comum.

    O miúdo Felipe Marques, 13, diz sonhar em ser como Gabriel, "mas só em algumas partes, porque já tenho o que sempre quis: casa e prancha". Ele treina em uma escola que dá aulas gratuitas de surfe.

    "Falo sobre o Medina para os alunos para dar exemplos sobre respeito e foco", diz a professora de ciências Denize dos Santos, 42, que deu aulas para o surfista e que defende parcerias entre esporte e educação. "Estaremos de portas abertas para o instituto."

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