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    Corinthians, Palmeiras e São Paulo vivem clima de ebulição política

    GUILHERME SETO
    DE SÃO PAULO

    16/01/2017 02h00

    Eduardo Anizelli - 15.jun.2016/Folhapress
    Roberto de Andrade fez parte do grupo político dos dois presidentes anteriores e agora pode sofrer processo de impeachment no Corinthians
    Roberto de Andrade pode sofrer processo de impeachment no Corinthians

    Os três clubes de maior torcida da capital paulista viveram recentemente períodos de calmaria que pareciam sem prazo para acabar.

    Com paz política, o Corinthians conseguiu seu ansiado estádio e enfileirou os inéditos títulos da Libertadores e do Mundial.

    Em cenário semelhante, algo raro na história do clube, o Palmeiras ganhou a Copa do Brasil em 2015, o Brasileiro de 2016 e renegociou suas dívidas.

    Até 2014, com Juvenal Juvêncio na presidência, o São Paulo foi visto como exemplo de gestão e disputas entre dirigentes não eram vistas no Morumbi.

    No entanto, 2017 mal começou e a política interna dos clubes está em ebulição, com briga por poder no trio.

    INSTABILIDADE E RISCO DE IMPEACHMENT NO CORINTHIANS

    O Corinthians parece ter em mãos o nó mais difícil de desatar. Com as contas comprometidas especialmente devido ao pagamento da construção do Itaquerão, o que tem refletido na composição de um elenco desqualificado, o clube tensionou-se de tal forma que o atual presidente, Roberto de Andrade, terá que responder a pedido de impeachment feito por conselheiros.

    O motivo para a abertura do caso foi a presença de assinaturas do dirigente em atas de reuniões com a Odebrecht sobre a Arena Corinthians com datas anteriores à sua eleição, em fevereiro de 2015. Andrade alega que os documentos só chegaram às suas mãos depois da eleição.

    Diante da crise, Andrade foi ostracizado politicamente no clube. Quase sem aliados, ele resiste no cargo, repetindo que enfrentará o impeachment de cabeça erguida, já que não fez nada de irregular.

    Ex-presidente do clube, Andrés Sanchez propôs assumir o clube com uma brigada de emergência, composta por aliados. Luis Paulo Rosenberg foi cotado como diretor de marketing.

    "Ouvi sexta-feira passada (6) do Andrés sua ideia de reunir profissionais para ajudar o Roberto e aceitei por 'patriotismo'. Ele não quis, mantenho-me no meu canto, sem qualquer vontade de me envolver na política do clube", disse Rosenberg à Folha.

    Andrade recusou a ideia e negou-se a ter uma reunião a sós com Andrés, deixando o recinto antes do final do encontro.

    "Eu queria uma composição para pacificar o clube, com pessoas que queriam ajudar o Corinthians. Elas ficariam até setembro, outubro, e aí deixariam as coisas continuarem normalmente. Ninguém quis, vida que segue", diz Andrés.

    "O clube está assim por vários motivos. Primeiro, porque o time não esteve bem. Segundo, porque tem muitos conselheiros querendo aparecer e não tem vagas para todos. Terceiro, porque o presidente precisa dizer mais 'sim' do que 'não'", completou o ex-presidente, que diz que o impeachment é a pior coisa que poderia acontecer. "Prejudicaria muito a credibilidade do clube".

    Durante o mandato, iniciado em 2015, diversos diretores saíram devido a quedas de braço políticas: Eduardo Ferreira (diretor adjunto de futebol), Sergio Janikian (diretor de futebol), Gustavo Herbetta (superintendente de marketing) e Rogério Mollica (diretor jurídico) foram apenas alguns deles.

    Além disso, a instabilidade política, somada à escassez de jogadores de qualidade, fez com que nenhum técnico ficasse por muito tempo no clube após a saída de Tite. Cristóvão Borges assumiu e foi trocado em pouco tempo pelo técnico auxiliar Fábio Carille, que então foi visto como inexperiente e perdeu a vaga para Oswaldo de Oliveira, que ouviu a promessa de que continuaria em 2017. No entanto, Andrade sucumbiu à pressão de conselheiros e demitiu o técnico, que o criticou publicamente por voltar atrás em sua palavra. Depois de ouvir "nãos" de treinadores assustados com a situação política, o Corinthians deu nova chance a Carille.

    Daniel Vorley - 25.mai.2015/AGIF
    Galiotte (esq.) terá de tomar uma decisão sobre patrocinadora
    Galiotte (esq.) terá de tomar uma decisão sobre patrocinadora

    BRIGA AMEAÇA APOIO AO PRESIDENTE DO PALMEIRAS

    O presidente do Palmeiras, Maurício Galiotte, elegeu-se em novembro com apoio maciço de Paulo Nobre, que foi seu antecessor e de quem foi braço direito durante dois mandatos, e de Mustafá Contursi, ex-presidente e cartola mais influente no conselho deliberativo da agremiação.

    Sem rivais no pleito, o cartola teria um caminho de paz política pela frente para administrar o atual campeão brasileiro por duas temporadas, certo? Não foi o que os fatos seguintes à sua eleição, porém, indicaram.

    Em seu último ato no cargo, Paulo Nobre rejeitou pedido de reconhecimento de título benemérito de sócia do Palmeiras de Leila Pereira, dona da Crefisa e da Faculdade das Américas, patrocinadoras do clube.

    O pedido foi feito por Contursi, já que Leila é candidata ao conselho palmeirense por sua chapa e ele mesmo que teria concedido o título benemérito em 1996.

    A decisão de Nobre implicou na impugnação da candidatura de Leila. Seu título de sócia mais recente data de 2015, e o estatuto do clube determina que são necessários ao menos oito anos de associação para se ocupar o cargo de conselheiro.

    Assim, até 11 de fevereiro, data da eleição para o conselho deliberativo, Galiotte terá que tomar uma decisão que pode desagradar bastante a seus apoiadores.

    Nobre teve desentendimentos públicos com Leila ao longo de seu mandato. O desgosto mútuo é conhecido, com apelidos jocosos utilizados por ambas as partes.

    Além disso, a empresária tem o projeto de se tornar presidente do Palmeiras, algo que pode se chocar com as pretensões do seu desafeto, que quer voltar a ocupar o cargo que deixou em 2016.

    Já Contursi é amigo de longa data de José Roberto Lamacchia, marido de Leila e sócio do clube desde 1955. Com Leila em sua chapa, ele somaria ao seu grupo uma das principais fontes de financiamento do clube.

    Além do patrocínio de camisa, a Crefisa decidiu injetar cerca de R$ 31,1 milhões para negociações com jogadores para a temporada 2017.

    A contratação do meia venezuelano Alejandro Guerra, do Atletico Nacional (COL), eleito o melhor jogador da última edição da Libertadores, contou com contribuição de US$ 3,7 milhões (R$ 11, 8 milhões) da empresa de Leila Pereira, que colocou a disposição ainda 2 milhões euros (R$ 6,8 milhões) ao Palmeiras para outras contratações. O dinheiro poderá ser usado pelo diretor de futebol Alexandre Mattos para trazer jogadores para posições vistas como carentes no elenco.

    Crefisa e FAM colocam R$ 66 milhões anuais no Palmeiras para expor as marcas na camisa do time e negociam renovação de contrato para a atual temporada. O resultado dessas tratativas pode sair até o final de fevereiro, ou seja, depois das eleições para o conselho do Palmeiras.

    Instalou-se, assim, um cabo de guerra no clube. Dependendo da decisão de Galiotte sobre a candidatura de Leila, ele pode ver um de seus mentores largando de seu braço: Nobre ou Contursi/Crefisa.

    Gabriela Di Bella - 18.jan.2015/Folhapress
    Carlos Augusto de Barros e Silva assumiu o São Paulo em crise e é candidato a continuar na presidência
    Leco assumiu o São Paulo em crise e é candidato a continuar na presidência

    ELEIÇÃO SÃO-PAULINA ESQUENTA BASTIDORES

    No São Paulo, a temperatura é mais amena, mas promete esquentar nos próximos meses. O clube tem eleições presidenciais marcadas para abril deste ano. O atual mandatário, Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, tentará se manter no cargo.

    Roberto Natel, ex-vice-presidente de Leco, deve ser um dos concorrentes, assim como José Roberto Ópice Blum, presidente do comitê de ética do clube, responsável pelas cassações dos mandatos do ex-presidente Carlos Miguel Aidar e de Ataíde Gil Guerreiro, ex-vice presidente de futebol.

    No clube, há uma disputa em torno da ideia de "modernidade de gestão", que ambos os lados apresentam como projeto de governo, caso sejam eleitos.

    Ainda que apareça como favorito, o atual presidente sofreu baixas entre aliados recentemente. Vice-presidente, Natel entregou o cargo em 2016 para virar rival na futura eleição.

    Leco também perdeu o apoio do empresário Abílio Diniz, que pretende apoiar outra candidato no pleito.

    "É natural que vivamos uma agitação interna a três meses da eleição. Não foi natural, porém, o mesmo fenômeno ter ocorrido no período anterior, motivado por agentes que colocam aspirações pessoais acima do bem do clube e que atuam de forma escusa", afirmou Leco à Folha. "Isso será resolvido em abril, espero, com a continuidade desta gestão."

    "A aprovação do novo estatuto social por unanimidade no conselho deliberativo há apenas dois meses é uma prova de que o São Paulo pode caminhar junto se envolvido em um grande projeto, como o desta gestão, que assumiu o clube em profunda crise e já apresentou resultados extremamente importantes, como a redução da dívida, a recuperação de crédito e imagem e, justa e principalmente, a elaboração de um novo estatuto moderno e profissional", completou.

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