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    Análise

    Saída de Bernie Ecclestone vai acabar com a empolgação da F-1

    ANDREW HILL
    DO "FINANCIAL TIMES"

    24/01/2017 16h47

    A indicação de Bernie Ecclestone ao posto de "presidente emérito" da F-1 faz recordar a história sobre a demissão de Frank Giles por Rupert Murdoch de seu cargo como editor chefe do jornal inglês "Sunday Times", em 1983.

    Murdoch criou o título de "editor emérito" para Giles. Quando perguntado sobre o que isso queria dizer, ele teria supostamente respondido: "Vem do latim, Frank. 'E' quer dizer egresso, e 'mérito' quer dizer 'você merece'".

    No caso de Ecclestone, a questão é determinar se o rei do picadeiro do mais luxuoso dos esportes motorizados realmente está saindo, e, caso seja essa a realidade, se é isso que ele merece.

    No papel, a resposta à primeira pergunta é "sim". A Liberty Media, nova proprietária da F-1, apontou Chase Carey, antigo executivo das empresas de Murdoch, como presidente-executivo da organização, em lugar de Ecclestone.

    Mas Ecclestone exerceu imensa influência sobre o esporte, e o fez principalmente por meio de ligações informais com pilotos, equipes, patrocinadores, investidores e governos. É muito mais difícil romper essas ligações do que substituir o comando de uma rede organizada por meio de acordos formais.

    Ecclestone, ao estilo de outros líderes de negócios empreendedores como Sir Philip Green, dono da Topshop, sempre optou por acordos verbais de preferência a contratos escritos.

    Como disse Eddie Jordan, antigo proprietário de uma equipe de F-1, à BBC na terça (24), "em toda a sua vida, ele jamais fez anotações ou registrou acordos... Costumava dizer, o tempo todo, que 'um aperto de mão quer dizer um acordo para sempre; já assinar um contrato sempre permite que alguém encontre uma maneira de escapar'".

    Os novos proprietários da F-1 reconheceram, e com razão, a dívida do esporte para com Ecclestone, que transformou a categoria, antes um perigoso passatempo para donos de equipes permanentemente inimigos, em um negócio multinacional altamente lucrativo.

    Mas aos 86 anos e sem sucessor evidente, estava claro que Ecclestone se tornaria um obstáculo aos planos da Liberty para acelerar e ir além dos passados sucessos.

    Saber se Carey vai realmente solicitar "conselhos e orientações" de seu predecessor com frequência, como afirma o comunicado da Liberty, é algo que só o tempo dirá.

    As declarações públicas de Ecclestone vinham se provando cada mais divisivas e inoportunas. No ano passado, por exemplo, ele disse que um título mundial para Nico Rosberg, um piloto conhecido por respeitar rigorosamente as regras, "não necessariamente ajudaria o esporte, porque não há coisa alguma a escrever sobre ele".

    Isso é algo que jamais pôde ser dito sobre Ecclestone. E é o maior motivo para que, apesar de todas as controvérsias que cercaram suas últimas voltas no comando da F-1, ele não merecesse sair.

    A Liberty sem dúvida tentará tornar o esporte mais eficiente, transparente e inovador (ainda que, é justo reconhecer, Ecclestone jamais tenha deixado de experimentar novas fórmulas para a F-1). Mas ao tentar tirar Ecclestone da pista, por motivos compreensíveis, a empresa também removeu uma das últimas forças verdadeiramente empolgantes e imprevisíveis do esporte.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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