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    Campeonato Paulista 2017

    Ser vice-campeão já não é bom para o Palmeiras, diz Eduardo Baptista

    GUILHERME SETO
    LUIZ COSENZO
    DE SÃO PAULO

    12/02/2017 02h00

    Com três anos de carreira como treinador, Eduardo Baptista, 46, tem a responsabilidade de harmonizar as peças do elenco mais badalado do país.

    Com Felipe Melo, Guerra, Dudu e, agora, Borja, o jovem técnico, filho de Nelsinho, que teve passagem pelo clube no passado, se arma do estudo de táticas e de um senso de justiça para se preparar para seu "maior desafio".

    *

    Folha - Você conversou com o seu pai antes de assumir o Palmeiras?
    A pressão é grande por resultados. É um time que ganhou o título do Campeonato Brasileiro. Por isso, a cobrança será maior ainda, porque o que você fizer de diferente de um título brasileiro já não é um resultado bom. Se você for vice-campeão neste ano, já não é bom. O parâmetro é o título brasileiro. A responsabilidade nossa, da comissão, da direção e dos atletas é muito grande para fazer as coisas acontecerem. Por isso, você tem que estar preparado para saber o que vai fazer, estar com suas convicções para atingir a expectativa de todos.

    Você tem um elenco cheio de jogadores tarimbados. Como controlá-lo?
    Temos que trabalhar. Tem que se preparar antes do treinamento, estar atento na atividade, saber o que você quer, ter os seus auxiliares e as pessoas que estão em sua volta sabendo o que você quer, cobrar os jogadores e depois desse treinamento voltar a discutir e observar. Em um grupo como o do Palmeiras, você tem que ser justo. Se você vai deixar um jogador de renome no banco ou um campeão brasileiro na reserva é porque tem outro jogador que vive um momento melhor. E esse jogador que ficou na reserva tem que perceber que você está sendo justo com ele. Ele pode até ficar insatisfeito, e tem que ficar, mas tem que trabalhar porque ele sabe que o comando é justo. Vai jogar aquele que tiver no melhor momento. As competições vão acontecendo uma em cima da outra. Vai jogar todo mundo e o Palmeiras tem esse equilíbrio. No ano passado, o Cuca fez isso muito bem e acabou jogando todo mundo, todo mundo teve oportunidade e todos contribuíram na conquista do Brasileiro.

    É sendo justo que você vai controlar o vestiário?
    Primeiro tem que mostrar conhecimento. O jogador hoje é moderno e crítico. Anos atrás, os jogadores de futebol talvez não fossem tão críticos. Hoje, eles querem saber a explicação do porquê daquele treinamento. Querem saber as cobranças, os conceitos que estão sendo trabalhados até para poder desempenhar isso dentro de campo. Então, a comissão técnica e o treinador têm que mostrar o conhecimento, saber o que estão fazendo, mostrar segurança e aí entra nesta parte de ser justo para poder ganhar a confiança do jogador e fazer com que ele trabalhe independentemente se tem renome ou se é menino. Se o menino jogar, é porque ele vive o melhor momento. Vai jogar quem treina forte.

    Explique o esquema tático que você pensa para o Palmeiras este ano.
    Eu gosto do jogo bem jogado, gosto da bola no chão, da saída de bola, gosto de dois meias que procuram fazer as triangulações, que fazem as ligações defesa e ataque. A gente procura cobrar agressividade na marcação, mas para isso você tem que estar em um estágio físico muito grande.
    Aquele Palmeiras que terminou o ano estava em estágio físico muito mais alto de buscar, agredir, pegar. Ainda não estamos neste estágio físico. Com os jogos, vamos chegar. Essa agressividade vamos cobrar como era do Cuca. Talvez não com marcação individualizada. Pode ser individualizado no setor. Jogador caiu no setor tem que ser pego. Na hora que funcionar, na hora que tiver todo mundo bem, os sistemas vão se assemelhar. Por enquanto, buscamos uma melhor condição física, um melhor aprimoramento técnico.

    Qual esquema tático você deve adotar? É o 4-1-4-1?
    Esse esquema é a matriz que a gente tem. Mas no segundo tempo contra o Botafogo marcamos no 4-4-2 e atacamos no 4-2-3-1. As variações vão acontecendo. O que eu procuro didaticamente é fixar um esquema para ele ser entendido. O 4-1-4-1 é uma disposição melhor pra mim. Eu não gosto de jogar com dois volantes por trás. Eu consigo jogar e marcar bem com um volante por trás. Eu gosto de dois meias avançados e chegando lá. Por isso, o 4-1-4-1 é um sistema que eu gosto, que deu certo. A transformação da seleção brasileira foi dentro desse sistema. Você consegue ter dois jogadores entrando, você consegue ter variações entre esses dois. Às vezes você tem os meias por fora e traz os extremos por dentro. A partir do momento que fixarmos o esquema, as variações vão acontecer para o 4-2-3-1.
    Dá para variar também para o 3-4-3, recuando o Felipe Melo. A gente procura treinar, aprimorar, para ter algumas variações.
    Devido à versatilidade dos jogadores, você pode mudar a equipe conforme o jogo. Tem o Michel Bastos, o Guerra, o Vitinho, o Veiga, o Tchê Tchê, que dão essa possibilidade. O Jean é um lateral que pode ser um ala, que pode entrar pelo meio. O Felipe Melo também pode fazer um terceiro zagueiro ou até um segundo zagueiro para situações pontuais quando estivermos sem saída de bola. São ideias que estamos colocando didaticamente, devagarzinho, para eles irem se adaptando.

    Quais são suas referências como treinador?
    Eu trabalhei com o meu pai por dez anos. Então, muito do que eu sei eu aprendi com ele. O Tite é talvez o grande nome do futebol brasileiro e o trabalho na seleção mostrou isso.
    Temos algumas referências de fora que procuramos acompanhar como o Simeone, que defensivamente é muito interessante. O Guardiola, o Jupp Heynckes, que quando têm a bola são ousados. Eles trazem o lateral por dentro e se expõem. Você vai vendo e acompanhando. Não tenho só uma referência.

    O que você pensa das opções que tem para o ataque?
    O Alecsandro é o número nove na essência. O Willian pode atuar de falso nove e se você pedir para ele ficar lá ele sabe. No jogo contra o Botafogo saiu, fez o pivô e fez uma tabela boa com o Jean. Ele consegue jogar pela beirada. O Barrios é o meio termo. Ele faz o nove, mas também pode sair, saber jogar fora da área. Estamos ganhando uma condição boa e observando nos treinamentos e nos jogos. Dependendo da característica do jogo que vamos enfrentar usamos um ou outro. Mas estamos bem servidos [A entrevista foi feita antes da confirmação da contratação de Miguel Borja.

    O que você pode falar sobre o Felipe Melo?
    Dentro do vestiário ele é importantíssimo. Jogando também é importantíssimo. Converso bastante com ele até por conta da experiência que ele tem no futebol europeu, que é um futebol que eu gosto de ver. Ele foi bem na Europa. A gente troca uma ideia de alguma situação de como ele era cobrado lá. A gente procura alguma coisa diferente. É um cara que me ajuda, é companheiro, ajuda os meninos. Ele está sempre conversando com um jogador mais novo, orientando, brincando, cobrando em uma medida normal.
    É um jogador viril, não gosta de perder, não dá espaço, mas é sempre um cara leal. A vibração dentro de campo é importante para a equipe e para a torcida. Se ele não ofender o adversário, para mim é importante. Se incomoda o adversário, não é problema meu.

    Você tem um elenco que já estava praticamente montado quando você chegou. O Cuca algumas vezes se queixou de ter assumido uma equipe pronta. Como você encara isso?
    O Palmeiras vive um momento que está à frente do futebol. Eles não poderiam esperar o treinador chegar em dezembro para contratar. Existe um planejamento. Na Europa é assim, no Japão. Só no Brasil você espera dezembro chegar para definir o que vai fazer. Com o Cuca ou sem o Cuca o planejamento tinha que ser feito e foi. Foram as contratações do Hyoran, do Keno, do Veiga, que foram três destaques do Brasileiro e era normal um time grande pegar. O nome do Michel Bastos surgiu quando eu estava conversando com o Alexandre Mattos. O nome do Felipe Melo também já circulava.
    Eu sou funcionário do clube. Eu tenho um elenco bom para trabalhar e participei de algumas contratações, como o Antonio Carlos, o Willian, o próprio retorno do Fabiano foi um pedido nosso. A ideia é o Alexandre Mattos montar o time durante o ano. Ele não poderia esperar a definição do Cuca para sair no mercado, ou ele perderia várias contratações.

    Você gosta de trabalhar com as categorias de base e tem utilizado com frequência o Vitinho, 18 anos. Qual sua visão sobre ele?
    Eu conhecia o Vitinho desde o ano passado. O que me surpreendeu foi a forma física dele. Ele era fraquinho. O Palmeiras fez um trabalho excepcional. Ele ganhou uma massa muscular. Tecnicamente é um jogador diferenciado. É um menino ainda. Ele vai ter um momento de oscilação. Precisa evoluir taticamente. É uma boa promessa. Estamos trabalhando com atenção, com cuidado para não expor o menino. Enquanto ele tiver a personalidade que está tendo, as oportunidades serão dadas.

    O calendário do futebol brasileiro passou por muitas mudanças. Como te afetarão?
    Só vamos saber se o calendário foi bom ou ruim quando acabar o ano. Vamos jogar uma Libertadores que nunca ninguém jogou. Antes, tudo acontecia dentro de dois meses. Com isso, muitos times foram campeões pelo bom momento que atravessavam. Hoje, no meu entender o campeão vai ser o time que tiver regularidade durante o ano.
    Como o Palmeiras tem um elenco qualificado você tem que ficar atento no melhor momento de cada jogador. Nenhum jogador consegue passar o ano inteiro em um bom momento.

    Você tem superstições?
    Não tenho. Sou um cara católico. Eu gosto de fazer minhas orações. Antes dos jogos você pede uma preparação, uma luz, mas só uma oraçãozinha para concentrar e para dar uma tranquilidade.

    Como tomou a decisão entre Prass e Jailson para assumir a titularidade?
    Foi uma decisão muito difícil de tomar. Passei por isso recentemente no Sport com Magrão e Danilo Fernandes e hoje os dois são top de linha. Me deu muita base a decisão que tomei no Sport para tomar aqui. Qualquer decisão que eu tomasse ia ser acertada e também talvez questionada. Eu vejo o Jailson como um ponto chave do título. Na hora mais importante, o Vágner oscilou um pouquinho. Se o Jailson entra e não dá confiança, o Palmeiras passaria dificuldade. O Palmeiras foi campeão brasileiro com um cara sério, alegre, bom de grupo.
    Você tem o Prass que saiu e perdeu a posição porque ia disputar uma Olimpíada e se machucou. Ele teve essa infelicidade. Ele só perdeu a posição porque estava na seleção e se machucou. Ele tem uma história dentro do clube. Tecnicamente indiscutível. Acho que essa lesão fez ele voltar mais forte. Conhecíamos ele de fora, mas estando aqui a gente vê ele com mais força, com mais vontade, com sangue no olho. Foi pela importância histórica que ele tem. Eu levei muito em consideração a experiência internacional dele. Não que o Jailson teria dificuldade, mas procurei puxar alguma coisinha para poder definir um goleiro.

    Você foi bem no Sport e na Ponte Preta. Por que sua passagem no Fluminense não deu certo?
    Vou dividir essa pergunta em duas respostas. Quando chegamos no Fluminense a equipe vivia um momento difícil. Não tinha risco iminente de rebaixamento, mas tinha um pequeno risco. Não podíamos namorar com o rebaixamento. A Copa do Brasil era um segundo plano quando cheguei. Conseguimos nos livrar do rebaixamento.
    Aí a proposta do Fluminense era dar oportunidade para os meninos. Lancei o Douglas, que é titular da seleção brasileira. O Scarpa e o Marcos Júnior, que estavam alçando voo, demos mais linha para eles. Léo Pelé, que hoje é titular, colocamos para jogar. Demos férias para o Jean, que vinha jogando no sacrifício, coloquei ele pra tratar, o próprio Fred que se lesionou contra o Palmeiras. Tiramos eles e colocamos os meninos.
    Aí tivemos um rendimento razoável, mas não tivemos resultados.
    Fomos disputar no início do ano a Florida Cup e tinha um contrato com o patrocinador, que o Ronaldinho Gaúcho tinha que jogar 15 minutos. Esse contrato foi assinado antes de eu ir para o Fluminense. Se ele não jogasse, gerava uma multa. Então a gente fazia os jogos e nos últimos 15 minutos colocava o Ronaldo para jogar para atender a torcida, para atender o que foi feito. Aí fizemos um bom jogo contra o Shaktar, mas na parte final tínhamos dificuldade. O Ronaldinho não vinha treinando.
    Somou essa última fase do Campeonato Brasileiro com a Flórida Cup. Começamos o Campeonato Carioca sem o Maracanã. Você jogar em Volta Redonda para 800, 1.200 pessoas, isso foi pesado. A campanha do Fluminense ficou muito atrapalhada por não ter casa.

    Você ficou impressionado com o Allianz Parque?
    Eu participei do jogo de estreia do Allianz Parque [treinando o Sport]. Sempre foi espantoso. Era difícil jogar contra. Aquele barulho. A torcida próxima, cantando. Começa o hino nacional e é "Palmeiras, Meu Palmeiras" [alusão à música que a torcida canta durante a execução do hino nacional]. É complicado o adversário jogar ali. A torcida joga junto e faz a diferença. Se o Palmeiras jogar com o Allianz vazio, você não terá o mesmo rendimento. O Allianz dá uma atmosfera para a equipe e os jogadores compraram essa ideia. Você conversa com os jogadores, dirigentes e torcedores e eles têm orgulho de falar isso.

    RAIO-X
    Nome completo
    Eduardo Alexandre Baptista

    Nascimento
    30.mar.1972 (44 anos), em Campinas

    Clubes como técnico

    • Sport (2014-2015)
    • Fluminense (2015-2016)
    • Ponte Preta (2016)
    • Palmeiras (2017)
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