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    Time amador inglês sonha com zebra histórica contra o Arsenal

    ALEX SABINO
    DE SÃO PAULO

    20/02/2017 02h00

    Matthew Childs/Reuters
    Britain Football Soccer - Sutton United Media Day - FA Cup Fifth Round Preview - The Borough Sports Ground - 16/2/17 Sutton United manager Paul Doswell during the media day Action Images via Reuters / Matthew Childs Livepic ORG XMIT: UKZTN1
    Paul Doswell, treinador do Sutton, que enfrenta o Arsenal pela Copa da Inglaterra

    A placa foi colocada no portão de entrada do estádio Garden Green Lane. Torcedores paravam para tirar fotos e registrar a imagem que, talvez, nunca volte a se repetir:

    "Próximo jogo: domingo, Arsenal, FA Cup"

    "Vai ser televisionado para o Brasil também? Inacreditável!", se espanta Bruce Elliott, em entrevista à Folha.

    Ele é presidente do Sutton United, time amador da 5ª divisão. Nesta segunda (19), o clube recebe o Arsenal pelas oitavas de final da Copa da Inglaterra. Todos os jogadores da equipe têm outras profissões e treinam apenas duas vezes por semana.

    Pela estrutura do futebol inglês, as quatro primeiras divisões são profissionais. A quinta é semi-amadora. Apesar disso, quase todas as agremiações têm atletas empregados o ano inteiro. A única atividade deles é o esporte. Isso vale para 23 dos 24 times. A exceção é o Sutton.

    "É meu lar. É como se fosse todos os finais de semana para a casa da minha avó. Nem considero trabalho", diz o técnico Paul Doswell.

    É bom que ele não considere, já que não recebe um centavo. Ao contrário, paga. Quando o clube estava com pouco caixa, surgiu a ideia de mudar o campo de grama natural para artificial. Seria uma maneira de alugá-lo o ano todo e gerar recursos.

    O Sutton precisava de 500 mil libras (R$ 2,3 milhões) para fazer a troca. Uma fortuna. Doswell emprestou parte do dinheiro. Ele é dono de empresa de construção.

    O clube paga ajuda de custo para os jogadores. São 500 libras por mês (R$ 2,3 mil). Jamie Collins, autor do gol da classificação para as oitavas, teve de voltar correndo para casa após a partida. Quando não treina ou joga, toma conta dos filhos e a mulher sai para trabalhar. Todos os funcionários são voluntários.

    "Sonhamos, claro. Mas tudo indica que a aventura vai acabar. Perder seria um vexame para eles", disse Elliott.

    "Eles" é o Arsenal, um dos clubes mais tradicionais da Europa. Segundo a revista "Forbes", está avaliado em US$ 2 bilhões (R$ 6,2 bilhões). O alemão Mesut Ozil recebe 560 mil libras por mês (R$ 8,6 mi).

    Atual 4º colocado na 1ª divisão, o time de Londres vai ao pequeno Garden Green Lane (capacidade para cinco mil pessoas) pressionado. Na semana passada, perdeu por 5 a 1 para o Bayern de Munique na Liga dos Campeões.

    "O nosso mundo é outro. É completamente diferente desse que você vê no Manchester United, Chelsea, Arsenal. Muitos dizem que somos um clube de verdade. Administrado por pessoas que têm amor pela equipe. Um time da comunidade", completa o presidente.

    Financeiramente, o melhor cenário para o Sutton não seria vencer e sim, empatar. Isso garantiria nova partida, mas no Emirates Stadium, casa do Arsenal. Mais renda, mais direitos de televisão. Com os prêmios pagos pela Federação e pela BBC para transmitir o jogo desta segunda, o time já faturou 1 milhão de libras (R$ 3,8 milhões).

    A quantia garante a sobrevivência do clube pelos próximos cinco anos.

    "Vamos pagar os empréstimos para a instalação do gramado e reinvestir tudo no clube", planeja.

    O pedido Doswell antes da partida será para os jogadores aproveitarem a ocasião. Divertirem-se. Deixarem tudo em campo. Porque o treinador sabe, o elenco sabe, a senhora que serve o chá no estádio sabe. Será uma oportunidade única para o Sutton United.

    "É um conto de fadas, não é? Ainda estou me beliscando para acreditar que vamos enfrentar o Arsenal, em casa. Imenso. O que conseguimos é imenso", suspira Elliott.

    Isso se acabar mesmo nesta segunda.

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