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    Cidade fincada no deserto israelense floresce como potência do futebol local

    JAMES MONTAGUE
    DO "THE NEW YORK TIMES"

    23/02/2017 02h00

    Beersheba era vista como uma cidade pobre, desprovida de investimentos. Um lugar quente e sonolento na periferia de Israel. Mas nos últimos anos, especialmente quando se acendem os holofotes do Turner Stadium, isso vem mudando.

    Antes dos jogos do Hapoel Beer Sheva em seu estádio, dezenas de ônibus vindos do subúrbio e de aldeias e vilas no vizinho Negev chegam carregando milhares de fãs. Homens e mulheres, jovens e velhos, vestindo vermelho e entoando lemas do time, eles estão na cidade para assistir aos jogos do atual campeão israelense de futebol.

    "Não existe time parecido em Israel", disse Ido Ellenbogen, 26, dono de um bar, que estava chegando ao estádio com o pai para assistir a uma recente partida do campeonato israelense contra o Bnei Yehuda Tel Aviv. "O clima da cidade é influenciado pelo time. Se o time vence, a cidade fica feliz. Se perde, todo mundo fica deprimido. O time é parte das raízes da cidade".

    Jack Guez/AFP
    Elyaniv Barda (centro), atacante do Hapoel Beer Sheba, comemora após marcar único gol da equipe contra o Besiktas
    Elyaniv Barda (centro), atacante do Hapoel Beer Sheba, comemora após marcar único gol da equipe

    E as raízes são profundas em Beersheba, uma cidade bíblica que, na opinião de muita gente,é a mais antiga de Israel. O clube foi fundado em 1949, um ano depois que Israel declarou independência. Boa parte de sua história esteve imersa em fracassos, excetuado o bicampeonato conquistado em 1975 e 1976, ainda na era do futebol amador, quando os jogadores, nas palavras de Ellenbogen, "trabalhavam na construção civil e fumavam".

    Mas no passado, o Hapoel Beer Sheva (há diversas formas de transliterar o nome do time e da cidade do hebraico para idiomas ocidentais) desfrutou de uma temporada que, ao seu modo, pode ser considerada tão incomum quanto o título do Leicester, campeão inglês em 2016.

    Depois de 40 anos de seca, e sem os recursos de seus rivais, o Hapoel Beer Sheva conquistou o título israelense. Esse sucesso lhe valeu outro prêmio: participar das eliminatórias para a fase de grupos da Liga dos Campeões.

    "Muita gente só veio a perceber o que o time havia conseguido ao ouvir o apito final", disse Aner Haim, repórter do jornal local "Yediot HaNegev". "As pessoas da cidade choraram feito crianças."

    Mas ninguém tem dúvida quanto ao responsável pelo rejuvenescimento do clube e, pelo menos em parte, da cidade. Há 10 anos, o time foi comprado por Alona Barkat, mulher de um rico empresário da tecnologia israelense.

    É a única mulher a ser dona de uma equipe de futebol profissional em Israel e é apelidada de "rainha", "messias" ou "princesa do deserto".

    ASCENSÃO

    O escritório de Barkat fica não em Beersheba, mas no centro de Tel Aviv, cerca de 100 quilômetros ao norte.

    Barkat, 47, cresceu em Ashkelon, na costa de Israel, antes de se transferir ao Vale do Silício, na Califórnia, com o marido. Mais tarde, de volta a Israel, o casal começou a procurar um projeto social no qual investir.

    "Eu tinha visitado Beersheba uma vez na vida, mesmo que more no sul do país", ela conta, explicando que no passado costumava evitar passagens pela cidade, isolada no deserto entre Gaza, a oeste, e a Cisjordânia.

    Ela foi apresentada ao time que viria a adquirir por um amigo, que lhe explicou que investir no clube teria ramificações além do esporte.

    De muitas maneiras, a cidade e seu time subiram juntos. Companhias de tecnologia começaram a se instalar em Beersheba. A universidade cresceu, atraindo mais jovens. A economia passa por um silencioso boom.

    O título nacional conduziu a outras grandes noites de futebol, entre as quais as vitórias contra o grego Olympiakos e o escocês Celtic, campeão da Escócia, nas eliminatórias para a fase de grupos da Liga dos Campeões.

    Embora o Hapoel Beer Sheva tenha ficado fora da fase de grupos, vem se saindo bem na Liga Europa, na qual derrotou a Inter de Milão, tanto em casa quanto na Itália.

    Nesta quinta-feira (23), o Hapoel Beer Sheva irá à Turquia para enfrentar o Besiktas por uma vaga nas oitavas de final do torneio europeu.

    O jogo é de alto risco para o Beer Sheva, tanto devido a problemas de segurança no país de maioria muçulmana quanto por causa do mau resultado conseguido em casa. Na partida de ida, em Israel, o time perdeu por 3 a 1.

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