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    Japonês que é aposta do Brasil no judô sofre com português e mira 2020

    PAULO ROBERTO CONDE
    DE SÃO PAULO

    11/03/2017 02h00 - Atualizado às 16h02

    O principal nome que desponta no judô masculino do país para o ciclo olímpico que se inicia tem pais brasileiros, nome de brasileiro, gostos de brasileiros e estilo de lutar de judocas brasileiros.

    Mas, a bem da verdade, Eduardo Yudi, 22, tem muito pouco de brasilidade na veia.

    Nascido na pequena cidade de Shimotsuma, na província japonesa de Ibaraki, o judoca é filho de um casal de brasileiros –Jeremias e Leila– que adotou o Oriente como casa em meados dos anos 1990, em busca de trabalho.

    Mayara Ananias/CBJ
    Destaque da nova safra, o judoca Eduardo Yudi em treinamento da seleção brasileira
    Destaque da nova safra, o judoca Eduardo Yudi em treinamento da seleção brasileira

    Yudi conviveu com o português em casa e, em vez das tradicionais comidas locais, preferia arroz, feijão e bife.

    "Só na alimentação eu já era brasileiro", brincou.

    A imersão no que sabia a respeito do Brasil durante sua infância e adolescência, entretanto, terminava por aí.

    "Eu só ouvia português dos meus pais, não sabia o que acontecia no Brasil, não sabia de futebol", afirmou.

    O elo que reaproximou-o da pátria de seus pais foi o esporte. Mais especificamente, quimono e dojo. Hoje, o Brasil desfruta de seu talento.

    Desde 2013 selecionado para seleções brasileiras de base, ele deu seu grande salto depois dos Jogos do Rio.

    Revelação na categoria meio-médio (até 81 kg), começou a ser incentivado pela CBJ (Confederação Brasileira de Judô) para competir em torneios internacionais, de olho nos Jogos de Tóquio-2020. Não decepcionou.

    No ano passado, levou dois bronzes nos Abertos de Tallin e Glasgow. Neste ano, foi quinto colocado no Grand Slam de Paris –onde derrotou o medalhista olímpico de bronze Sergiu Toma, dos Emirados Árabes– e conquistou o ouro no Aberto de Roma.

    Neste sábado (11), Yudi foi derrotado logo na primeira rodada do Grand Slam de Baku, no Azerbaijão, pelo japonês Kenya Kohara. Ainda assim, está em boa situação no cenário internacional.

    Atualmente número 32 do mundo, ele pode subir e se aproximar de Victor Penalber, número 10 da lista e que representou o Brasil na Rio-2016, sem disputar medalhas.

    "Fui bem em Paris, mas queria ganhar. Não fico feliz por ter sido quinto. Eu quero ganhar sempre, sempre busco melhorar", comentou.

    Ele e Penalber devem brigar pela única vaga do país no Mundial de Budapeste, que ocorrerá em agosto.

    Cada conquista também representa uma vitória individual para a revelação, que chegou a deixar o judô entre os 10 e 12 anos, desiludido com o que viu no Japão.

    Yudi começou a praticá-lo aos 5 anos e estabeleceu-se como alguém talentoso, mas que não conseguia penetrar na elite do judô japonês, o mais potente do mundo –a modalidade foi inventada lá.

    A distância dos melhores se dava por dois motivos: um, pelo alto nível da concorrência e pela aversão a estrangeiro. Sim, apesar de ter nascido lá e ser fluente no idioma, era visto como forasteiro.

    "Querendo ou não, meus pais eram brasileiros, eu era considerado um estrangeiro lá dentro. Não é que eu sofri bullying nem nada, mas se quisesse lutar, seria muito difícil", afirmou o lutador, com um português ainda sem tanta desenvoltura.

    Ele até chegou a tentar participar de campeonatos nacionais japoneses de base, mas não foi além de oitavo.

    A reviravolta ocorreu em 2013, quando fortuitamente encontrou membros de uma academia de Araras, no interior de São Paulo, que lhe propuseram que competisse por eles em uma seletiva.

    Chegou ao Brasil sem falar nada em português. Precisou que a irmã, que já morava no novo país, o auxiliasse como intérprete. Para a surpresa de todos, foi campeão da chave.

    No ano seguinte, acabou contratado pelo Pinheiros. "Não tenho mais vontade de morar no japão", brincou.

    Hoje, enquanto ganha terreno mais e mais no judô nacional, sua maior preocupação é melhorar no português.

    "Ainda tenho um pouco de dificuldade. Não consigo falar 'l' e 'r' direito. Meu 'galera' é meio esquisito. Vou até procurar estudar para entrar na faculdade."

    A outra grande preocupação é 2020. "O objetivo final é ser campeão olímpico. É o sonho. Penso em um campeonato de cada vez. Uma hora vai a chegar a vez de Tóquio."

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