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    Campeonato Paulista 2017

    Tenho o compromisso de deixar o Palmeiras sem dívidas, diz Galiotte

    GUILHERME SETO
    DE SÃO PAULO

    17/03/2017 02h00

    A meta é ambiciosa, mas o presidente do Palmeiras, Maurício Galiotte, 48, diz com firmeza que vai zerar as dívidas do clube até o final do seu mandato, que se encerra em dezembro de 2018.

    Segundo a Folha apurou, o clube calcula a dívida em um patamar de R$ 105 milhões, sendo que cerca de R$ 65 milhões devem ser pagos ao ex-presidente Paulo Nobre -o restante é composto por valores já equacionados em programas de refinanciamento de dívidas.

    Em entrevista, Galiotte, presidente há quatro meses, explica seus projetos para o clube; trata das relações com a patrocinadora Leila Pereira, o ex-presidente Paulo Nobre, e as torcidas organizadas; e fala sobre temas polêmicos, como o cerco organizado pela Polícia Militar no entorno do Allianz Parque em dias de jogos do clube.

    *

    Folha - Qual é sua história com o Palmeiras?
    Palmeiras na minha vida é herança de família. Meus bisavós italianos chegaram ao Brasil por volta de 1890, meus avós e pais são palmeirenses. Comecei a ir aos jogos com meu pai, com 3, 4 anos. Sempre morei próximo do Palestra Itália. Sou sócio há 40 anos do clube. Com 8 anos eu comecei a jogar futsal pelo clube, fiquei 10 anos lá. Meu vínculo com o clube é muito profundo.

    Quais são os seus projetos para o clube?
    Futebol profissional: ter um time competitivo e que tenha condições de disputar títulos de todos os campeonatos. O Palmeiras é grande e tem uma torcida maravilhosa. Segundo: responsabilidade financeira, de que não abro mão. Assumimos o Palmeiras, em 2013, com uma dívida de curto prazo importante. Em 2015, com a chegada da Crefisa e da FAM e também com a inauguração do Allianz Parque e o crescimento do Avanti, o Palmeiras conseguiu se equilibrar. Até o final da minha gestão, tenho como compromisso deixar o Palmeiras sem dívidas. Terceiro: profissionalização, com pessoas capacitadas em diferentes departamentos, metas e acompanhamento de performance, com administração parecida com a empresarial. Também quero trabalhar com três unidades de negócio: arena, futebol profissional e clube social. As três têm que ter receitas próprias e administrar as próprias despesas. Têm que sobreviver com os próprios recursos.

    O Paulo Nobre tentou impugnar a candidatura da Leila Pereira, presidente das patrocinadoras do Palmeiras, ao conselho deliberativo. Por ter deixado a decisão logo para o início de seu mandato, houve quem entendesse que ele deixou uma bomba para você. Como você viu?
    Seguramente, eu e ele tivemos entendimentos distintos sobre essa situação. Eu achei que não deveria decidir de maneira monocrática. Achei que a posição do conselho deliberativo seria fundamental, e foi o caminho que optei. Hoje o tema está resolvido.

    Como é sua relação com Nobre hoje?
    Na semana passada ele fez aniversário e troquei mensagens com ele. Hoje ele não está no dia a dia do clube, tem seus afazeres particulares, mas se colocou à disposição de mim e do Palmeiras para ajudar. Não tenho absolutamente problema nenhum com ele. Acompanhei seus quatro anos de trabalho. O Palmeiras tem uma dívida de gratidão com ele.

    Houve um desgaste da relação de vocês naquele momento. Vocês estão se reaproximando?
    Ele em nenhum momento se negou a ajudar o Palmeiras quando necessário. Óbvio que tem uma situação sobre a qual pensamos diferente, o que é normal. Acho que futuramente, em breve, ele estará no clube para contribuir, como ele me disse.

    Ele te pediu uma posição no departamento de futebol ?
    Na verdade, não foi colocado dessa maneira. Ele nunca me exigiu nada. O ponto maior [da desavença] foi o entendimento dele sobre o assunto Crefisa. Diretamente a mim, o Paulo não pediu nada.

    Quanto o Palmeiras ainda deve a ele? A tensão entre vocês muda algo nesse sentido?
    Nosso relacionamento é um assunto totalmente diferente. Em relação ao que o Palmeiras deve ao Nobre, nós já temos tudo acertado e definido. Dez por cento da receita do clube é canalizada ao pagamento dessa dívida. Meu objetivo é quitar a dívida do clube até o término da minha gestão.

    A impugnação da candidatura de Leila foi pedida a partir de questionamento da existência do título de sócia que a ela teria sido concedido em 1996. Vocês encontraram esse título?
    O presidente Mustafá Contursi, que concedeu a ela o título em 1996, fez um documento afirmando que deu o título. Diante disso que houve toda a polêmica. E foi exatamente dessa maneira que eu entendi que o melhor caminho era a participação do conselho.

    Qual é o tamanho da influência da Crefisa no Palmeiras hoje, dado que a Leila é patrocinadora e conselheira do clube?
    São coisas totalmente distintas. O patrocínio da Crefisa e da FAM é extremamente importante para o clube, absolutamente diferenciado no mercado. O papel de Leila e José Roberto Lamacchia é igual ao de qualquer outro conselheiro.

    O fiador da campanha dela foi o ex-presidente Mustafá, que também tem muita força no clube. Como manter sua autonomia diante de duas forças tão grandes?
    Nem Mustafá nem Leila ou Lamacchia, em nenhum momento, me solicitaram absolutamente nada esportivamente ou administrativamente. São apoios políticos. O presidente Mustafá é o maior líder político que tem no Palmeiras. É um trabalho de sustentação política. Sempre existiu o diálogo entre nós, desde quando eu ocupava a vice-presidência no mandato do Paulo Nobre. Participei de muitas reuniões com Mustafá, assim como de reuniões com diretores da Crefisa e da FAM, inclusive no momento em que tivemos um desencontro de expectativas. Eu estive à frente e através de diálogo conseguimos chegar a um consenso [em maio de 2016, a Crefisa praticamente deixou o clube após desentendimento entre Nobre e os patrocinadores].

    Durante a gestão anterior, o clube rompeu relações com as organizadas. Nos últimos meses, o diálogo foi reaberto por meio de algumas medidas, como a garantia de que eles ficarão na "curva" do Pacaembu e o minuto de silêncio para o Moacir Bianchi, fundador da Mancha Alvi Verde que foi assassinado. Por que refazer esse contato?
    Quero deixar muito claro esse assunto. O Paulo rompeu com a organizada no primeiro ano de mandato dele, quando tivemos um problema com torcedores no aeroporto. Entendo que o maior patrimônio de um clube é sua torcida. Não tem clube grande com torcida pequena. Tenho entendimento em relação a alguns pontos que diverge com o que o Paulo pensava, mas concordo em muitos outros. O torcedor tem que ser respeitado. A partir do momento que você não tem o melhor retorno esportivo, você tem que reconsiderar alguns pontos. Por exemplo: em alguns jogos do Palmeiras, a Mancha foi deslocada para o tobogã. Na minha opinião, é desnecessário. Ter a torcida mais próxima do gramado ajuda a equipe. Não é prioridade nem regalia. Quando falam de reaproximação, não sabem do que estão falando. Se eu posso trazer o ingresso de um jogo fora de casa para vender na nossa bilheteria, eu faço, por respeito à torcida.

    A Mancha está com as atividades suspensas desde o assassinato do Moacir Bianchi. As investigações têm apontado uma divergência interna à entidade como causa do crime. Como você vê a crise pela qual passa a organizada hoje?
    É profundamente lamentável quando há a morte de uma pessoa como foi. Mas não tenho elementos para dar uma opinião sobre o que acontece na Mancha hoje.

    Conheceu o Moacir?
    Nunca tive contato, não.

    O cerco da PM no entorno do estádio em dias de jogos é muito criticado por torcedores. Como o senhor vê isso?
    Estive na Secretaria de Segurança Pública para tratar do tema. O que nos apresentaram foi o número de ocorrências em dias de jogos no Allianz Parque: em torno de cem, entre roubos de carteiras e celulares. O cerco foi montado para evitar aglomeração na entrada do estádio. Após a implementação do cerco, o número de ocorrências caiu para 10%. Diante disso, fica difícil de eu argumentar com a PM de que deveria ser feito algo diferente. O Palmeiras não vai assumir a segurança no entorno do estádio, não é função do clube.

    Há torcedores que dizem que esse cerco gera elitização, já que só quem tem ingresso pode se aproximar do estádio. O senhor acha isso secundário?
    Diante da segurança do torcedor que frequenta o estádio, sim.

    A CBF é comandada pelo Marco Polo Del Nero, que não viaja para fora do país devido ao risco de ser preso. Isso não depõe contra o futebol brasileiro?
    Eu não tenho elementos para dar qualquer opinião, porque eu não tenho detalhes da situação. A gente defende sempre a bandeira do que é certo e correto, e o que não estiver alinhado com isso tem que ser punido. Não tenho conhecimento para falar sobre uma questão particular dele.

    Você é contra ou a favor de jogos com torcida única?
    para o espetáculo e para o futebol, eu sou contra a torcida única. Acho que tem que ter duas torcidas. É minha opinião também como torcedor, além de dirigente. Tem a emoção, a tradição, a rivalidade, e o consumidor próximo do seu produto. O fato é que diante dos números apresentados pela Polícia Militar da redução de ocorrências, brigas e conflitos, eu tenho que me render. Não tenho como incentivar a violência, obviamente.

    Qual é o lugar da Libertadores no planejamento do Palmeiras?
    É nosso principal objetivo. Todos campeonatos nós disputamos para ganhar. A Libertadores, sem dúvidas, é o campeonato que temos como grande meta.

    O Eduardo Baptista tem sido criticado por alguns torcedores. O que você acha disso?
    Ele foi contratado porque avaliamos que é um profissional que tem qualificação para ser técnico do Palmeiras. É estudioso, detalhista, comprometido. Todo trabalho precisa de tempo. Tivemos a manutenção do elenco, mas o trabalho dele iniciou há 60 dias. Entendo um pouco a ansiedade do torcedor, porque o Cuca foi muito feliz, conseguiu o título. Mas como dirigente eu tenho que dar tempo e fazer com que o Eduardo consiga implementar seu trabalho.

    Qual jogador é seu ídolo na história do clube?
    Comecei a entender com 10 anos, por aí. O primeiro jogador na minha memória é Luis Pereira, Leivinha... Vi muito pouco de Ademir da Guia. Jorge Mendonça foi o primeiro que tive muito orgulho de ver jogar. As equipes de 1993 e 1994 foram seleções. O grande jogador que vi com a camisa do Palmeiras foi o Alex. Um jogador diferente. Mas não tenho um ídolo só.

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