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    Composição de tribunal antidoping impede admissão do Brasil à Wada

    PAULO ROBERTO CONDE
    DE SÃO PAULO

    18/03/2017 02h00

    A Wada (Agência Mundial Antidoping) resiste em readmitir o Brasil ao seu quadro de nações certificadas devido à composição do Tribunal de Justiça Antidopagem, cujos componentes foram anunciados há cinco meses pela ABCD (Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem).

    O estabelecimento de uma corte única para julgar os casos positivos era exigência antiga da agência mundial, e a demora para sua criação foi o principal fator que levou ao descredenciamento da ABCD, decretado em novembro.

    A Folha apurou que está justamente na composição do tribunal a rejeição da Wada.

    Cinco dos nove componentes designados para ocupar cargos na corte têm algum tipo de ligação com confederações esportivas, o que caminha na direção oposta do que recomenda a agência.

    O presidente do tribunal, Luciano Hostins, atualmente é responsável pelo departamento jurídico da confederação brasileira de triatlo.

    Ele também já atuou como membro da confederação brasileira de ciclismo e é procurador do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) da confederação de judô.

    Fernando Pilatos/ Gazeta Press
    Membro do tribunal antidopagem, Eduardo de Rose é integrante do Comitê Olímpico do Brasil e da Odepa
    Membro do tribunal antidopagem, Eduardo de Rose é integrante do Comitê Olímpico do Brasil e da Odepa

    Membro do tribunal, Eduardo de Rose é integrante das comissões médicas do Comitê Olímpico do Brasil e da Odepa (Organização Desportiva Pan-Americana), que organiza o Pan-Americano.

    Além disso, De Rose também é consultor da CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos).

    No grupo de especialistas do tribunal também há um gestor de alto rendimento da Comissão Desportiva Militar Brasileira (Guilherme Faria da Silva) e uma promotora com passagem pelo STJD da CBF (Fernanda Bini).

    Gustavo Delbin, outro membro, presidiu o STJD da Confederação Brasileira de Atletismo até dezembro.

    A indicação dos nomes do tribunal foi feita pelo Ministério do Esporte, pela Comissão Nacional de Atletas e por confederações esportivas.

    Todos os componentes têm reconhecida experiência na área, mas o pedido da Wada era outro. Em março de 2016, a ABCD divulgou em seu próprio site um comunicado no qual a agência mundial reiterava a necessidade de criação de um tribunal único, que "não seja influenciado pelas federações nacionais".

    A interpretação do conselho de conformidade da Wada é que o tribunal brasileiro pode sofrer interferência. Por isso, até o momento, ela não concedeu o aval à ABCD.

    No mesmo 20 de novembro em que tirou a certificação da autoridade brasileira antidoping, a Wada também descredenciou as agências da Indonésia e do Azerbaijão.

    No mês passado, ela readmitiu os dois países à lista de certificados em conformidade com o código mundial.

    Com o descredenciamento, exames antidoping feitos no Brasil não tem validade internacional. Caso o país sedie alguma competição envolvendo outras nações, terá que mandar os exames para serem avaliados no exterior.

    Em uma situação extrema, caso o descredenciamento perdure por muito tempo, a participação de atletas brasileiros em competições internacionais pode ser vetada.

    OUTRO LADO

    Procurado pela Folha, o Ministério do Esporte afirmou por meio de sua assessoria de imprensa que os "questionamentos referentes à não conformidade da ABCD devem ser dirigidos à Wada".

    A pasta disse que já entregou à agência tudo o que foi exigido e que, por enquanto, espera um posicionamento.

    O ministério também disse que a composição do Tribunal de Justiça Antidopagem é de responsabilidade do Conselho Nacional de Esporte. O órgão, no entanto, é vinculado à pasta e tem o ministro Leonardo Picciani e o secretário da ABCD, Rogério Sampaio, como seu presidente e integrante, respectivamente.

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    Membros contestados pela Wada

    Cinco dos nove componentes do órgão têm alguma ligação com confederações e entidades esportivas

    Luciano Hostins
    Presidente do tribunal

    • Foi procurador do STJD da Confederação Brasileira de Ciclismo
    • Procurador do STJD da Confederação Brasileira de Judô
    • Já foi membro da Confederação Brasileira de Ciclismo e da União Ciclística Internacional
    • É responsável pelo departamento jurídico da Confederação Brasileira de Triatlo

    Guilherme Faria da Silva
    Membro do tribunal

    • Gestor de Esporte de Alto Rendimento da Comissão Desportiva Militar Brasileira

    Eduardo de Rose
    Membro do tribunal

    • É membro da comissão médica do COB (Comitê Olímpico do Brasil)
    • Membro da comissão médica da Odepa, que organiza os Jogos Pan-Americanos
    • Consultor da CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos)

    Fernanda Bini
    Membro do tribunal

    • Foi promotora do STJD da CBF e de outras confederações

    Gustavo Delbin
    Membro do tribunal

    • Era presidente do STJD da Confederação Brasileira de Atletismo até dezembro
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