• Esporte

    Saturday, 27-Apr-2024 15:00:36 -03

    Lava Jato

    Marcelo Odebrecht diz que Itaquerão foi 'pepino' e que era 'mendigo'

    CAMILA MATTOSO
    LETÍCIA CASADO
    BELA MEGALE
    DE BRASÍLIA

    23/03/2017 22h35

    Em depoimento para a Justiça Eleitoral, o ex-presidente e herdeiro do grupo Odebrecht, Marcelo Odebrecht, usou o exemplo da construção da Arena Corinthians para dizer que tinha uma relação de "mendigo" com o governo federal.

    O empresário, que está preso desde junho de 2015 por causa da Operação Lava Jato, relatou que a empreiteira não tinha interesse em entrar no negócio e só realizou as obras para atender pedidos.

    Ele ainda afirmou que o projeto inicial do Itaquerão custaria R$ 200 milhões - ao final, o preço ficou em R$ 985 milhões, sem considerar juros dos empréstimos feitos.

    Marcelo também disse que entrou a contragosto no projeto da Vila dos Atletas, que abrigou delegações esportivas durante a Olimpíada no Rio, em 2016.

    "A gente não queria entrar na Vila dos Atletas. Era um pepinaço! Não queria entrar na Copa. Não queria entrar em estádio", declarou o empresário ao ministro Herman Benjamin, relator da ação que corre no no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e pede a cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer, na eleição de 2014.

    "A gente só entrou na Arena Corinthians porque o governo tinha prometido financiamento para a realização da Copa do Mundo; aí depois não dão. Aí, eu passo uma grande parte do tempo lutando para conseguir o que eles tinham prometido para a gente entrar", reclamou Marcelo.

    E emendou: "Eu era um mendigo, porque eu ia lá [governo] para pedir coisas, na verdade, que eu só entrei porque eles tinham prometido".

    O ex-presidente do grupo baiano afirmou ainda que eventos como a Copa e a Olimpíada não teriam acontecido sem a Odebrecht.

    "Sem a Odebrecht, não ia ter Copa, não ia ter Olimpíada. Não ia ter nada".

    Outra queixa do ex-executivo é que, quase três anos após a realização da Copa, o Corinthians ainda não pagou o que deve à empreiteira.

    "Moral da história: eu fiz uma coisa que não interessava para a gente. Hoje, estou com um pepino, porque a gente tem uma garantia com a Caixa Econômica Federal] e o Corinthians não paga a gente".

    Na audiência, o empresário ainda detalhou como foram as primeiras conversas com políticos para que a empresa assumisse a obra. A reunião foi realizada depois que o estádio do São Paulo, o Morumbi, ficou fora do Mundial.

    "Aí tem uma reunião lá e tudo bem, então, vamos fazer o seguinte: vamos transformar o estádio do Corinthians no estádio da abertura da Copa do Mundo. Aí eu tenho um jantar lá em casa com o [governado] Alckmin, o [na época prefeito de São Paulo] Kassab, o Luciano Coutinho [então presidente do BNDES], (ininteligível), todo mundo promete fazer a sua parte! E a besta da Odebrecht:'tá bom, então a gente constrói'. No final, todo mundo foge. Aí eu fico pedindo... aí não tem financiamento, nós construímos tudo com dinheiro próprio. E eu tenho horas de reunião com o ministro da Fazenda para pedir coisas que eu só entrei por pedido deles", afirmou.

    Entenda a Operação Lava Jato

    ESTRUTURAS PROVISÓRIAS
    Entre as reclamações sobre a construção da Arena Corinthians, Marcelo Odebrecht destacou os R$ 100 milhões gastos em estruturas provisórias.

    "Só um exemplo claro: aí, o Corinthians lá assume uma responsabilidade de R$ 100 milhões para estruturas provisórias para a Copa. Aí, o Corinthians "não tenho dinheiro". Aí a prefeitura diz que vai pagar e não tem dinheiro. A Copa é daqui a noventa dias; ninguém cuidou das estruturas... eu estou na minha. Não é responsabilidade nossa. 'Aí, não, mas a Odebrecht tem que resolver'. Pô, como é que eu vou resolver?".

    Rodrigo Félix Leal - 1º.set.2015/Futura Press/Folhapress
    Marcelo Odebrecht, em depoimento na CPI da Petrobras, na sede da Justiça Federal, em Curitiba (PR)
    Marcelo Odebrecht, em depoimento na CPI da Petrobras, na sede da Justiça Federal, em Curitiba (PR)

    E finaliza: "Olha como a gente mete os pés pelas mãos. A gente não tem nada a ver com as estruturas provisórias e eu vou lá e digo: tá bom, então a gente financia e faz a estrutura, tanto é que terminou, desde que a Caixa refinancie a gente".

    O empresário disse ainda que "não era o dono do governo", mas o "bobo da corte do governo".

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024