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    Fraudes da CBDA teriam incluído desvio de prêmio de atletas

    GUILHERME SETO
    DE SÃO PAULO

    06/04/2017 13h05 - Atualizado às 21h45

    Patricia Stavis/Folhapress
    SÃO PAULO, SP, BRASIL, 02-07-2010: Coaracy Nunes Filho, da Confederação de Desportos Aquáticos, durante o evento "Prêmio Empresário Amigo do Esporte", no Clube Pinheiros, em São Paulo (SP). (Foto: Patricia Stavis/Folhapress, 1538, ILUSTRADA)
    Coaracy, da Confederação de Desportos Aquáticos, durante evento no Clube Pinheiros, em São Paulo

    A Operação Águas Claras, que investiga esquema de desvio de verbas públicas que foram repassadas para a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), investiga supostas empresas de fachada de amigos de dirigentes da entidade que teriam sido utilizadas para esconder as ações criminosas. As fraudes teriam acontecido nas compras de passagens aéreas, hospedagem e na compra de equipamentos de natação.

    Rodrigo de Campos Costa, delegado regional de combate ao crime organizado, e Thaméa Danelon Valiengo, procuradora do Ministério Público Federal, detalharam os supostos crimes cometidos pelos dirigentes, que motivaram a operação desta quinta-feira (6) que levou à prisão do presidente da CBDA, Coaracy Nunes, e de outras três pessoas no Rio de Janeiro. Além disso, quatro pessoas foram conduzidas coercitivamente em São Paulo e outros 16 mandados de busca e apreensão foram cumpridos.

    "Havia três agências de turismo: uma de fachada e outras com forte indício de que funcionavam da mesma forma. Em processos de licitação, sempre a mesma empresa sagrava-se vencedora. As viagens ocorriam, mas com superfaturamento de passagens e de hospedagem. Trata-se de uma agência que presta serviço há mais de 10 anos para CBDA, tendo recebido valores de cerca de R$ 24 milhões ao longo do período", disse Costa.

    "Os depoimentos dos atletas eram unânimes no sentido de que havia muitas irregularidades. Quando eles iam para competições internacionais, viajavam de classe econômica, com muitas escalas. Eram atletas a serviço do Brasil, com 1,90 m de altura, que chegavam no lugar sem a condição ideal (...) e os dirigentes viajavam de classe executiva", completou.

    Os dirigentes são acusados de desviar R$ 40 milhões em recursos. Nunes está no comando da entidade desde o final da década de 1980 e é o dirigente esportivo brasileiro há mais tempo no cargo. Os investigados responderão pelos crimes de peculato, associação criminosa e fraude a Lei de Licitações, sem prejuízo de outros crimes eventualmente apurados.

    Cerca de 20 atletas contribuíram com a investigação. Membros da seleção de polo aquático foram especialmente participativos. Em 2015, a seleção masculina participou de um torneio em Bergamo, na Itália, cuja premiação era de US$ 50 mil. Eles ficaram em terceiro lugar, mas não receberam a premiação, que, segundo Valiengo, "ficou no cofre dos dirigentes".

    A operação também investiga quatro licitações de fornecimento de material esportivo. Em uma delas, a empresa vencedora levou contrato de R$ 1,5 milhão, mas não entregou nada. Sua sede, segundo a procuradora, ficava em um pet shop.

    "Parte do corpo societário das empresas fazia parte do círculo de amigos íntimos de dirigentes da CBDA (...) Um mar de corrupção afundou o esporte olímpico brasileiro. Por conta disso, apenas uma atleta [Poliana Okimoto] foi medalhista na Olimpíada", disse Valiengo.

    Após a operação, o Ministério Público Federal apresentou uma nova ação contra dirigentes CBDA. Nela, os procuradores calculam em mais de R$ 6,8 milhões os danos aos cofres públicos devido a desvios de verbas da Lei Piva, patrocínio dos Correios, convênios com o Ministério do Esporte e Lei de Incentivo ao Esporte.

    Eduardo Anizelli/Folhapress
    Fachada do Pet Shop Amistad, que fica na rua Pio XI, em Pinheiros
    Fachada do Pet Shop Amistad, que fica na rua Pio XI, em Pinheiros

    OUTRO LADO

    O advogado Marcelo Franklin criticou nesta quinta (6) as prisões dos dirigentes da CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos).

    Segundo Franklin, que representa todo os presos, a decisão "salvo melhor juízo, foi dada por um juiz incompetente".

    "Não havia qualquer necessidade de uma providência como essa. Vão ser adotadas as medidas legais cabíveis", disse o advogado, que vai solicitar um habeas corpus para libertar Nunes, submetido a uma cirurgia na cabeça há cerca de um mês.

    De acordo com Franklin, a operação desta quinta é uma "retaliação" à decisão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, em São Paulo. Por três votos, a denúncia do Ministério Público foi considerada improcedente.

    No dia 20 de setembro do ano passado, o MP pediu o afastamento do então presidente Coaracy Nunes e de outros três dirigentes por fraude. Eles são acusados de superfaturar uma licitação de materiais esportivos. Segundo o MPF, uma empresa de fachada de São Paulo teria sido usada no esquema.

    "A compra foi esclarecida. Juntei mais de 800 páginas comprovando o negócio. Vamos trabalhar para que a situação seja contornada", disse Franklin.

    "Certamente, diante do que já foi julgado em São Paulo, que afasta essas irregularidades, e diante da ausência de competência daquele juízo. Essa decisão [as prisões dos cartolas] deve ser reformada muito em breve", acrescentou

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