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    Boliviano fecha com Corinthians errado e vai para Presidente Prudente

    DIEGO SALGADO
    DO UOL

    14/04/2017 17h19

    Diego Salgado/UOL Esporte
    Richar Vela, goleiro boliviano de 19 anos, passou 20 dias em Presidente Prudente
    Richar Vela, goleiro boliviano de 19 anos, passou 20 dias em Presidente Prudente

    O sonho de vestir a camisa do Corinthians durou apenas alguns dias para o boliviano Richar Vela, que chegou até a dar entrevista em seu país como novo reforço do clube alvinegro.

    O goleiro de 19 anos viajou ao Brasil achando que jogaria em um dos principais clubes do continente. Desembarcou em Presidente Prudente, interior paulista, para treinar no Corinthians errado.

    Richar conheceu a verdadeira realidade dois dias depois da viagem de ônibus entre Santa Cruz de la Sierra e a cidade paulista, que fica a 550 km de São Paulo. O acordo previa apenas um período de treinamento no Esporte Clube Corinthians, ou Corinthians de Presidente Prudente. O responsável pela operação foi o agente brasileiro Welington Belchior, que mora na Bolívia.

    "Falaram Corinthians e recebi uma carta-convite [entregue por Welington]. Acreditei que era Corinthians Paulista. Não me explicaram bem. Era Corinthians de Presidente Prudente. O escudo é igual. Não me falaram Presidente Prudente, falaram São Paulo. Eu achava que era o lugar dos juvenis", disse Richar em entrevista ao UOL, empresa do Grupo Folha, que edita a Folha.

    Welington, que trabalha com o nome "Renato", cobrou US$ 4 mil (R$ 12,5 mil) da família de Richar, que chegou a vender o único automóvel para arrecadar o valor –os pais do goleiro moram em San Julian, na zona rural de Santa Cruz de la Sierra e trabalham como agricultores.

    "Ele [Welington] disse que era para a alimentação. Me perguntou se eu queria que meu filho jogasse no Brasil e eu disse que não tinha dinheiro. Eu achava que ele [Richar] ficaria em São Paulo [capital]. Ele também não sabia onde estava. Me encontrei com Renato depois e pressionei ele. Sinto que ele pode ter nos enganado. Ele disse que iria me devolver o dinheiro", afirmou a mãe de Richar, Alicia Melendez.

    VIAGEM

    Richar chegou a Prudente ao lado de Fader Lopez, boliviano que apresentou-se como representante do atleta e retornou a Santa Cruz de la Sierra no mesmo dia. Ouvido pela reportagem, Fader, que recebeu US$ 500 (R$ 1,6 mil) para acompanhá-lo, apresentou duas versões para os acontecimentos.

    Primeiro, o representante disse que Richar ficaria no Corinthians de Presidente Prudente por um período e depois iria ao Corinthians Paulista caso conseguisse se destacar nos treinos. Um dia depois, em novo contato, afirmou que o goleiro sabia que o acordo era outro, apenas com a equipe do interior.

    "Ele sabia que só ia treinar no Corinthians de Prudente quando sua mãe pagou a transferência. Ninguém enganou ele. Ele vai treinar para voltar à Bolívia mais preparado", disse Fader.

    Depois de quase 20 dias, Richar deixou Presidente Prudente rumo à cidade de São Paulo, onde recebeu a reportagem do UOL Esporte. Ao lado da mãe, que viajou para acompanhá-lo após a saída do Corinthians de Presidente Prudente, o jovem disse que iria a Recife para acertar com o América-PE, novamente sob orientação de Welington.

    A reportagem entrou em contato com o agente. Em uma conversa rápida, Welington disse que avisara Richar sobre o verdadeiro clube. "Ele foi para treinar, foi uma outra pessoa. Eu não cheguei a ir, eles (jogadores) me procuraram e eu indiquei ao Corinthians, porque já mandei vários jogadores para lá", disse o brasileiro, que não respondeu sobre a quantia cobrada –após a pergunta, a ligação caiu.

    O agente, então, parou de atender as dezenas de chamadas realizadas. Na manhã desta quinta-feira, enfim, Welington devolveu o dinheiro para a família do goleiro boliviano. O próprio Richar, já em Recife, confirmou o recebimento dos US$ 4 mil.

    OUTROS CASOS

    Em Presidente Prudente, Richar conheceu mais cinco bolivianos, todos levados após uma negociação entre Ricardo Melquiades, diretor de futebol do clube, e Welington. Segundo o presidente do Esporte Clube Corinthians, Pérsio Menezes, esses outros jogadores viajaram já sabendo que era o clube do interior paulista.

    Ainda de acordo com ele, outros dois atletas deixaram o clube na noite da última quarta-feira, após as tentativas de contato feitas pela reportagem com o empresário que atua na Bolívia. Três ainda estão no alojamento.

    O destino da dupla que deixou o clube não é conhecido por Pérsio, assim como o recebimento do valor pago para a transferência - um dos bolivianos chegou a vender uma moto para pagar Welington.

    Pérsio conta que os bolivianos receberam abrigo e comida durante a passagem por Prudente, mesmo tendo recebido apenas parte do pagamento. "A gente cobra esses gastos dos jogadores. Eles ficam no time B. Só que o Renato [Welington] mandou mais cinco jogadores desde fevereiro. Eu não recebi nada. Semana passada mandei o Ricardo [diretor] embora", frisou.

    "Era para ter uma parceria. Isso foi conversado com o Ricardo em setembro. Eu pedi para documentar e ele me enrolou. Não saiu do verbal. Eu nem sei se ele trabalha em algum clube mesmo, porque não teve formalidade. Chegaram seis jogadores aqui e ele tem de pagar R$ 8 mil. Nem sei se vou receber porque não tenho nada assinado", contou o mandatário, que também não conseguiu mais contato com o agente brasileiro.

    Procurado pela reportagem, Ricardo disse que a função dele era apenas receber os jogadores e analisar os documentos. O ex-diretor do Corinthians de Presidente Prudente negou qualquer relação com Welington.

    "Eu era apenas diretor de futebol, quem fazia tudo era o rapaz da Bolívia. Era um intercâmbio entre clubes. Eu não tenho vínculo com esse envio para cá. O jogador chegava com a documentação em ordem. A gente checava e colocava para trabalhar. Se essa negociação existiu, deve ter sido feita na Bolívia. Eu não faço parte do Corinthians mais", disse na última quarta-feira.

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