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    Em meio à crise, natação brasileira testa nova safra no Maria Lenk

    PAULO ROBERTO CONDE
    ENVIADO ESPECIAL AO RIO

    02/05/2017 02h00

    Há pouco mais de um ano, Vinicius Lanza não encontrou reação que não fosse o choro depois da prova que resultou em decepção. Então com 19 anos, isolou-se no vestiário e mergulhou numa desolação profunda enquanto lágrimas corriam o rosto.

    Por míseros cinco centésimos, estava fora dos Jogos do Rio, dentro do próprio Estádio Aquático Olímpico, que poucos meses depois sediaria o megaevento esportivo. A exemplo da vida, a natação é repleta de viradas, e a partir desta terça (2) Lanza terá chance de promover a sua.

    Trezentos e setenta e sete dias após a frustração na seletiva olímpica, ele chega ao Troféu Maria Lenk, primeiro grande evento da natação nacional no ciclo, com o melhor tempo de entrada nos 100 m borboleta -que tem eliminatória e final nesta terça.

    O torneio, no Parque Aquático Maria Lenk, dentro do Parque Olímpico, é classificatório para o Mundial de Budapeste, em julho. Ele vai marcar uma passagem de bastão entre gerações.Thiago Pereira, por exemplo, aposentou-se em abril, enquanto o país vê surgir nomes como o de Lanza e outros.

    "Não ter ido para os Jogos foi bom para manter o meu fogo, para brigar por vaga na final ou por medalha em Tóquio", diz o mineiro, hoje com 20 anos e que representa o Minas Tênis Clube.

    Medalha de prata no Campeonato Mundial júnior de 2015, em Cingapura, nos 100 m borboleta, Lanza adotou os EUA como base no início de 2016. Estabeleceu-se em Bloomington, no Estado de Indiana, onde passou a nadar pela universidade local -e a estudar veterinária também.

    Na instituição, passou a ser orientado por Ray Looze, técnico que integrou a seleção norte-americana na Rio-2016 e que é guru de Lilly King, Cody Miller e Blake Pieroni, todos medalhistas nos Jogos.

    Nesta temporada, o nadador brasileiro foi eleito capitão do time universitário. "O Ray me disse 'Vini, também queria que você estivesse na Olimpíada, mas agora é olhar pra frente'", contou o nadador.

    A vaga em Budapeste deve corroborar o que o técnico lhe disse. "Perder a Olimpíada por cinco centésimos ainda machuca, mas me fez manter o foco. Minha maior mudança foi de atitude", resumiu.
    Luiz Altamir, 20, viveu experiência diferente em 2016.

    Conseguiu a classificação para os Jogos do Rio, nas provas de 400 m livre e no revezamento 4 x 200 m livre.

    Se não passou da primeira fase em ambas, o nadador reconhece que o aprendizado pode ser interessante no rumo à Olimpíada de Tóquio.

    "O objetivo agora neste ciclo é tentar ficar entre os melhores do mundo, e para isso preciso treinar bastante."

    Natural de Roraima, ele se transferiu do Flamengo para o Pinheiros nesta temporada.

    No clube paulistano, divide raia com Gabriel Santos, 20, que foi aos Jogos do Rio e nadou o revezamento 4 x 100 m livre, e Pedro Cardona, 21, que perdeu a Olimpíada por pouco -ficou em terceiro nos 100 m peito, com boa marca.

    De 2016 para 2017, o Pinheiros readquiriu Cesar Cielo, o nadador mais vitorioso da história do país, mas mudou sua filosofia. Dispensou medalhões olímpicos como Bruno Fratus e João de Lucca e apostou na nova safra.

    "Percebemos que era hora de mudar mentalidade", afirmou o técnico principal do clube, Alberto Pinto da Silva.

    Outros bons valores que estarão no Troféu Maria Lenk são Brandonn Almeida, 20, que nadou os 400 m medley e os 1.500 m livre na Rio-2016 e deve se mudar para os EUA depois da competição.

    O fundista Guilherme Costa, que em abril bateu o recorde sul-americano dos 1.500 m livre, também espera estabelecer-se como um dos expoentes da geração.

    "Eu estou muito confiante para o Maria Lenk. Se conseguir melhorar meu tempo, vou para o Mundial", disse.

    CRISE

    Se há uma coisa que abala a confiança das promessas, esta é a situação turbulenta por que passa a CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos). Acusados de corrupção, quatro de seus dirigentes foram presos.

    Em meio a isso, a entidade perdeu patrocínio do Bradesco e viu despencar o aporte feito pelos Correios.

    "[O investimento] vai diminuir bastante. Isso vai ser uma dificuldade muito grande para a nova geração, que busca novas competições lá fora", afirmou Luiz Altamir.

    O nadador disse que espera que a nova gestão tenha uma "transparência melhor".

    "A melhor maneira de ter credibilidade de novo é mudar tudo. Pensamento, estratégia, busca por novos patrocinadores. Renovar é a palavra certa", complementou Altamir.

    Para Vinícius Lanza, acrise que se abateu sobre a confederação "é muito triste", e vai afetar sua geração. Sobre os dirigentes presos, afirmou que "é a Justiça quem decide".

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    PROGRAMAÇÃO

    Os eventos do Troféu Maria Lenk

    TERÇA-FEIRA (2)
    Eliminatórias às 9h, finais às 17h30:
    100 m borboleta (Feminino e Masculino)
    400 m livre (F e M)
    100 m peito (F e M)
    4x50 m livre (F e M)

    QUARTA-FEIRA (3)
    Eliminatórias às 9h, finais às 17h30:
    100 m costas (F e M)
    200 m medley (F e M)
    1.500 m livre (F)
    800 m livre (M)

    QUINTA-FEIRA (4)
    Eliminatórias às 9h, finais às 17h30:
    100 m livre (F e M)
    50 m peito (FeM)
    50 m costas (F e M)
    200 m borboleta (F e M)

    SEXTA-FEIRA (5)
    Eliminatórias às 9h, finais às 19h:
    400 m medley (F e M)
    200 m livre (F e M)
    200 m costas (F e M)
    50 m borboleta (F e M)
    4 x 100 m livre (F e M)

    SÁBADO (6)
    Eliminatórias às 9h, finais às 19h:
    200 m peito (F e M)
    50 m livre (F e M)
    800 m livre (F)
    1.500 m livre (M)
    4x100 m medley (F e M)

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