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    Correr por quem não pode é lema de prova em Brasília

    DANIEL CASTRO
    ENVIADO A BRASÍLIA

    07/05/2017 16h10

    O sol da manhã deste domingo (7) em Brasília maltratava os corredores quando o carro perseguidor ultrapassou Leila Piani, 47, pouco após ela completar seu 19º quilômetro pelas ruas da capital federal.

    Na Wings For Life World Run, prova realizada simultaneamente em 24 cidades do mundo, não há linha de chegada. Um veículo, guiado este ano pelo piloto Cacá Bueno, larga 30 minutos depois dos competidores e aumenta a velocidade progressivamente, até alcançar o último atleta.

    O evento foi criado para apoiar a fundação sem fins lucrativos Wings For Life, que financia projetos de pesquisa sobre lesões na medula espinhal. Entre os participantes, muitos aderem à causa "correr por quem não pode".

    Piani foi diagnosticada com mielopatia cervical grave e passou por cirurgia em 2009. A lesão poderia ter feito com que ela perdesse o movimento dos membros inferiores, mas a intervenção mostrou-se bem-sucedida. A administradora, que já era atleta amadora, intensificou os treinos e disputou seis maratonas desde então.

    "Hoje corro até melhor, porque quero viver. A chance que eu tive de aproveitar minhas pernas me impulsiona. Eu corro para superar meu limite, para dizer que estou viva", afirmou.

    Foi a primeira vez que Piani, moradora de São Bernardo (SP), decidiu se inscrever nessa prova. "Eu nunca havia tido coragem, porque me faz lembrar muito o que passei. Mas um dia eu precisaria correr para agradecer", disse. Animada com a participação, ela já faz planos para voltar: "Precisamos proporcionar mais estudos e pesquisas para que outras doenças da medula também sejam exploradas".

    AS CADEIRAS

    Um acidente de carro em 2011 tirou os movimentos das pernas de Diego Coelho, 31. Entre as complicações das cirurgias pelas quais passou, o acupunturista chegou a ficar dez dias em coma. Foi na cadeira de rodas que ele descobriu os treinos de crossfit adaptado, em 2015.

    Menos de um ano depois, Coelho já estava na elite do esporte. Ele também organiza eventos para aumentar a inclusão das pessoas com deficiência no crossfit. Sua história motivou pessoas a correrem ao lado dele e da sua noiva, a dentista Suzi Lim, neste domingo.

    "Minha vida melhorou muito depois que fui para a cadeira. Eu me tornei um atleta, conheci pessoas e encontrei muito mais amigos", afirmou. Diferentemente do que acontece na maioria das provas, na Wings for Life quem está na cadeira de rodas corre junto aos demais atletas, o que cria um ambiente de diversidade ao longo do percurso.

    Sabrina Ferri, 37, ficou tetraplégica após um acidente na praia em 2008. A educadora física integra um grupo internacional de mulheres chamado "Cure Girls", engajado na busca por tratamentos para as lesões medulares. Desde a primeira edição da prova, em 2014, ela sai de Porto Alegre para participar e conta com amigos que empurram sua cadeira.

    Ao comparar o carro perseguidor e a causa pela qual trabalha, Ferri resume o espírito do evento. "É muito bacana porque a gente nunca sabe em que momento o carro vai conseguir nos alcançar. Faz uma analogia com o fato de a gente não saber quando vai ter uma cura. Quando será que a cura nos encontra, se é que ela nos encontra?".

    MARCAS

    O vencedor mundial foi o sueco Aron Anderson, que competiu em Dubai e percorreu 92,14 km em uma cadeira de rodas. No Brasil, Luis Felipe Barboza ganhou entre os homens, com 58, 88 km. Letícia Saltori conquistou o bicampeonato entre as mulheres, com 44, 93 km.

    O jornalista DANIEL CASTRO viajou a convite da Wings For Life World Run

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