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    Tragédia em voo da Chapecoense

    Pai de piloto do voo da Chapecoense vai à Colômbia 'dar a cara a tapa'

    RODRIGO PEDROSO
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
    EM LA UNIÓN (COLÔMBIA)

    14/05/2017 02h00

    Rodrigo Pedroso - /Folhapress
    *** FOTO COM RESTRICAO, NAO USAR SEM AUTORIZAÃAO DA FOTOGRAFIA E ESPORTE *** OUT UOL, FOL, AGORA *** Pai de criacao de Miguel Quiroga piloto do voo da LaMia que caiu na Colombia em novembro de 2016, Alberto Montero recebe hóstia de padre de La Unión. Credito Rodrigo Pedroso ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Alberto Pinto, pai adotivo do piloto do voo da Chapecoense, recebe hóstia de padre em La Unión

    O boliviano Alberto Pinto, 61, chegou na segunda-feira (8) à Colômbia com duas missões. Queria entender o que aconteceu com seu filho e tentar falar com parentes de vítimas da tragédia aérea envolvendo a Chapecoense, que deixou 71 mortos. Ele é pai adotivo de Miguel Quiroga, piloto do voo da LaMia, que caiu no dia 29 de novembro, no arredores de Medellín.

    O empresário boliviano passou três dias entre Medellín e La Unión, povoado no pé do morro onde a aeronave caiu. Tentou se aproximar de familiares das vítimas brasileiras, foi a uma missa organizada no local do acidente e se encontrou com a controladora de voo que tentou guiar o pouso da aeronave.

    O informe preliminar da investigação da aeronáutica civil colombiana, divulgado em dezembro, responsabilizava Quiroga por falhas no plano de voo, por ter decolado com menos combustível do que o exigido. O resultado final da apuração sairá até novembro.

    "Vim aqui dar a cara a tapa, poderia ter ficado na Bolívia. Queria ter dito às pessoas que também estamos sofrendo", afirmou Alberto à Folha.

    O filho de Miguel, Roger Quiroga, 14, acompanhou o avô na viagem. Ambos ficaram hospedados na casa de um morador do povoado de La Unión, próximo do local da queda.

    Na terça-feira, a cidade organizou uma homenagem às vítimas. Estiveram integrantes da delegação da Chapecoense, entre eles os jogadores sobreviventes Alan Ruschel, Neto e Jackson Follmann.

    Alberto não conseguiu se encontrar com os atletas, nem com familiares de vítimas que foram ao local do acidente na tarde de terça.

    "Algumas pessoas não queriam que eu estivesse ali, o que eu compreendo, mas a família não pode ser culpada pelo que aconteceu", disse.

    À Folha, a assessoria da Chapecoense confirmou que não aconteceu o encontro entre o pai de criação do piloto e os integrantes da equipe que foram ao local. Negou, porém, que houve veto à presença dele na visita.

    Também na terça, o pai conseguiu ter um rápido contato com alguns familiares de brasileiros que morreram na tragédia. Em uma cerimônia de entrega de objetos das vítimas, à noite, Alberto falou com os parentes. O encontro foi intermediado pela psicóloga e voluntária colombiana Fernanda Sierra, 28.

    Alberto se aproximou de um grupo de cinco brasileiras para se apresentar.

    "Disse que também sinto a dor da perda de uma pessoa querida e recebi um abraço e palavras de conforto."

    Um dia após a visita dos jogadores, Alberto, enfim, foi ao Cerro Chapecoense, como foi batizado o local da queda. Parentes do copiloto boliviano Ovar Goytia e o pai do técnico de voo, Ángel Lugo, também vítimas do acidente, estiveram com ele. Enquanto fazia vídeos narrando o que via para mostrar à mãe de Miguel, Maria Pinto, Alberto cronometrou o tempo que um avião que passara sobre sua cabeça demorou em tocar a terra.

    "Viu? Três minutos daqui à aterrissagem. Por três minutos...", disse, sem completar a a frase.

    O venezuelano Jesús Ramón Lugo, 64, pai de Ángel, diz que chegou a culpar Miguel Quiroga pela tragédia. Agora, afirma que o piloto "tomou uma decisão errada e que pagou por isso".

    "Fiquei com a sensação de que alguns brasileiros não queriam proximidade com a gente. Eu gostaria de ter falado com eles, mostrar meus sentimentos", afirmou.

    Lugo foi a La Unión atrás de um documento que explicasse melhor a causa da morte do filho para poder cobrar a indenização do seguro. No laudo oficial, a conclusão foi de que se deu por morte violenta.

    ENCONTRO MARCADO

    Depois da visita ao morro, Alberto foi a Medellín para buscar o médico que assinou o atestado de óbito. Não conseguiu encontrá-lo. Queria levar para a mãe de Miguel uma resposta sobre o estado do corpo do filho.

    "Falaram que ele tinha sido decepado e, como fizemos o enterro em caixão fechado, gerou esse trauma nela."

    Horas antes de embarcar de volta à Bolívia, o pai de Miguel Quiroga teve outro encontro muito esperado por ele. Conversou com Yaneth Molina, a controladora de voo do aeroporto José Maria Córdoba no momento da queda do avião da LaMia.

    Após o vazamento pela imprensa do áudio da conversa entre ela e Miguel momentos antes da colisão, Yaneth acabou responsabilizada por parte da opinião pública colombiana e boliviana por supostamente ter demorado a transmitir as coordenadas de aterrissagem.

    A conversa durou uma hora. Ambos expressaram pesar pelo acidente e dividiram seus sofrimentos com as repercussões do caso.

    "Contei ao Alberto que não havia nada que a torre pudesse fazer", afirmou Yaneth. "Eu precisava ver a última pessoa que falou com o meu filho", disse Alberto.

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