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    Campeonato Brasileiro 2017 - Série A

    Diretoria corintiana usa camarotes encalhados em troca de apoio político

    ALEX SABINO
    GUILHERME SETO
    DE SÃO PAULO

    23/06/2017 02h00

    Ricardo Nogueira - 29.jul.2015/Folhapress
    SAO PAULO, SP, BRASIL, 29-07-2015, 22h00, CAMPEONATO BRASILEIRO 2015, CORINTHIANS X VASCO, ESPORTES, ESPECIAL: Camarotes vazios durante partida realizada na Arena Corinthians, zona leste da capital. (Foto: Ricardo Nogueira/Folhapress) ***exclusivo Folha***
    Camarotes vazios durante partida realizada na Arena Corinthians

    Sem conseguir alugar a maior parte dos camarotes da Arena Corinthians, a diretoria do clube encontrou uma nova finalidade para os assentos privilegiados do estádio: amealhar apoio político.

    O presidente do clube, Roberto de Andrade, e seus aliados têm convidado associados e conselheiros -que compõem o colégio eleitoral- a assistir aos jogos da equipe nos camarotes vagos.

    Com isso, esperam melhorar a imagem da atual gestão e ganhar apoio à chapa "Renovação e Transparência", liderada pelo deputado federal e ex-presidente do Corinthians Andres Sanchez (PT), da qual Andrade faz parte.

    As eleições presidenciais do clube acontecerão em fevereiro do ano que vem.

    Os associados e conselheiros convidados pela diretoria podem assistir aos jogos do camarote sem pagar ingresso, ganham um "certificado de corintiano" e uma carta de agradecimento pela presença, assinada pelo próprio presidente Roberto de Andrade.

    Alguns ficam no camarote da presidência, mas outros ocupam os espaços que ainda não foram comercializados pelo clube alvinegro.

    "O Sport Clube Corinthians Paulista confere ao Ilmo(a). Sr(a) o Certificado de Corinthiano(a) Autêntico(a), representado por seu grande Amor e Dedicação ao maior clube do Brasil", diz o certificado.

    "Caro amigo, agradecemos por sua presença e pelo incentivo durante sua ida à Arena Corinthians (...). O apoio dado à nossa equipe no estádio alvinegro ilustra toda a dedicação e compromisso que torcedores como você possuem com o Corinthians. Grande abraço!", diz a carta assinada por Andrade.

    Reprodução
    Carta e diploma de agradecimento a torcedor por ter ido a Arena Corinthians. Foto: Reproducao ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Diploma de agradecimento a torcedor por ter ido è Arena Corinthians, assinado por Roberto de Andrade

    Os sócios e conselheiros do clube são chamados em grupos de 15 para assistir aos jogos nos camarotes. Dois deles confirmaram à Folha a presença no estádio em Itaquera nos jogos contra a Chapecoense, em maio, e contra o Santos, em junho.

    "O clube precisa de transparência. Mais uma vez essa gestão mostra que sua marca é o uso da máquina para o benefício de poucos e o prejuízo do Corinthians. Os camarotes não foram alugados nem vendidos e estão sempre cheios. Isso com o clube tendo uma dívida impagável em relação ao estádio", diz Romeu Tuma Júnior, conselheiro do grupo de oposição.

    "Eu posso falar sobre o meu camarote. Eu levo os meus convidados e o Corinthians não tem controle. Nem sabe quem eu levo. Ninguém recebe diploma. Eu ouvi que estão convidando conselheiros para ver jogos em camarotes, mas posso responder sobre o que acontece apenas no meu", diz o conselheiro Paulo Garcia, que aluga um dos camarotes do estádio.

    Com problemas para comercializar os espaços, o Corinthians vendeu avulsos na semifinal e final do Paulista. Os preços iam de R$ 320 a R$ 380. O clube afirma que 20 dos 89 camarotes estão alugados com contratos anuais. A reportagem apurou, no entanto, que são apenas 11 os espaços alugados para 2017.

    A agremiação precisa de dinheiro para pagar o financiamento do estádio, que custará cerca de R$ 1,64 bilhão com acréscimo de juros nas parcelas até 2028.

    CAMPANHA POLÍTICA

    Os convites para os jogos já fazem parte da dinâmica política pré-eleitoral para a sucessão de Roberto de Andrade. O atual presidente se movimenta para conseguir apoio para um sucessor de sua chapa, que pode ser Andres Sanchez ou Paulo Garcia, fundador e sócio da Kalunga. Como rivais, um deles deverá enfrentar Osmar Stabile e Antonio Roque Citadini, ambos opositores da atual gestão do Corinthians.

    Com uma relação marcada por aproximações e desentendimentos, Sanchez e Garcia devem compor chapa de muita força para as próximas eleições no clube. Ambos controlam grande número de conselheiros e são populares no Corinthians.

    A decisão de quem será o candidato a presidente e quem será o vice da chapa dependerá dos projetos de cada um para os próximos anos. A situação de Sanchez será facilitada caso consiga desvencilhar seu nome da Operação Lava Jato. A Odebrecht apresentou ao Ministério Público uma planilha que aponta pagamentos de R$ 3 milhões para Sanchez por meio de caixa 2. Ele nega qualquer irregularidade.

    Na oposição, Citadini também teve o nome envolvido na Lava Jato. Um ex-diretor da empreiteira Andrade Gutierrez diz que ele e outros seis conselheiros do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo teriam recebido propina para que problemas em licitações e contratos de obras não fossem apontados. Procurado pela Folha na época, ele não quis se pronunciar.

    LAVA JATO

    Entre Sanchez e Garcia, a decisão de quem será o candidato a presidente e vice da chapa ainda será negociada. Sanchez é favorito caso consiga se desvencilhar da Lava Jato. A Odebrecht apresentou planilha de pagamentos de R$ 3 milhões para Sanchez por meio de caixa 2. Ele nega. Citadini também foi envolvido na operação. Ele e outros seis conselheiros do TCE-SP teriam recebido propina para não apontar problemas em obras, disse ex-diretor da Andrade Gutierrez. Citadini não quis se pronunciar.

    OUTRO LADO

    Procurado pela Folha, o Corinthians afirmou que os convites de Andrade não têm cunho político e começaram em 2015.

    "Conforme os relatos informados pela Folha, o presidente Roberto de Andrade informa que desde o ano de 2015 vêm convidando os conselheiros do Sport Club Corinthians Paulista para conhecer a Arena Corinthians.
    Esse tal procedimento não tem cunho político, apenas proporciona a oportunidade do conselheiro, trienal ou vitalício, da situação e da oposição, vivenciar a partida num local diferente."

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