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    Filme reconstitui lutas de Eder Jofre, o maior boxeador brasileiro

    NAIEF HADDAD
    DE SÃO PAULO

    01/08/2017 02h00

    Divulgação
    Osmar Prado e Daniel de Oliveira em cena do filme "10 Segundos" Foto: divulgacao ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Cena do filme '10 segundos', com o ator Daniel de Oliveira

    "Ouvi a contagem dos segundos e tratei, com todas as minhas forças, de me levantar. O último golpe foi o mais poderoso que eu já recebi."

    Assim o mexicano Eloy Sanchez explicava a derrota, por nocaute, para o brasileiro Eder Jofre, então campeão sul-americano. O combate foi disputado em Los Angeles, na noite 18 de novembro de 1960.

    Com a queda de Sanchez no sexto round, o pugilista paulistano se tornou, aos 24 anos, campeão mundial no peso galo pela Associação Nacional de Boxe, que depois deu lugar à Associação Mundial de Boxe (WBA, em inglês).

    A luta contra o mexicano é uma das seis reconstituídas no filme "10 Segundos", que narra a trajetória do maior nome da história do boxe brasileiro.

    Os outros combates representados na produção são: disputa ainda como amador em 1957; contra o mexicano José Medel, em 1960; contra o irlandês Johnny Caldwell, em 1962; contra o japonês Fighting Harada, em 1965; e, por fim, contra o cubano José Legra, em 1973.

    Com estreia prevista para o início de 2018, a produção tem no papel central Daniel de Oliveira, que já atuou em "Cazuza" (2004) e está em "Os Dias Eram Assim", da TV Globo.

    Oliveira se preparou por nove meses para as filmagens, que ocorreram entre julho e setembro de 2016. Ele montou um ringue na sua casa para treinar boxe.

    Dirigido por José Alvarenga, o filme está orçado em R$ 8,5 milhões, valor alto para os padrões do cinema no Brasil.

    A produção é uma parceria da Tambellini Filmes e da Globo Filmes. De acordo com o produtor Flávio Tambellini, o longa pode virar uma minissérie na TV Globo.

    Além das cenas com os atores, "10 Segundos" terá um depoimento de Eder Jofre, que está com 81 anos –nasceu em 26 de março de 1936.

    Na gravação, o ex-pugilista falou sobre a duração de um nocaute. "Um lutador pode ter a glória ou a desgraça em dez segundos", afirmou Jofre, oferecendo o mote para o nome do filme.

    O "Galo de Ouro", como foi apelidado, nunca perdeu por nocaute ao longo de sua carreira profissional.

    Considerado o maior boxeador dos anos 1960 pela revista norte-americana "The Ring", à frente de Muhammad Ali, Jofre contabilizou 75 vitórias (52 por nocaute), quatro empates e duas derrotas, ambas por pontos.

    Depois da consagração no peso galo (até 53,5 kg), ele passou a lutar como pena (até 57,1 kg) em 1970. Três anos depois da mudança, Eder Jofre se tornou campeão mundial na nova categoria ao derrubar o cubano José Legra, em Brasília.

    A luta em Brasília foi uma das últimas acompanhados por José Aristides Jofre, o Kid Jofre, pai e treinador de Eder.

    A relação entre eles, aliás, aparece de forma constante no filme. Kid, interpretado por Osmar Prado, era um técnico austero, que acordava o filho às 5h para treinar.

    Kid morreu em 1974 e, dois anos depois, o filho abandonou o boxe profissional.

    DOENÇA DEGENERATIVA

    Jofre é vítima de encefalopatia traumática crônica (ETC), a mesma doença que, em março de 2014, levou à morte Bellini, capitão da seleção brasileira de futebol na Copa de 1958.

    É uma doença cerebral degenerativa que afeta, sobretudo, as pessoas que sofreram lesões constantes na cabeça.

    Os médicos acreditavam que apenas ex-boxeadores sofriam da doença, que atinge cerca de 20% daqueles que praticaram o esporte. Por isso, era conhecida como "demência pugilística".

    Até que, em 2002, foi identificado um caso de ETC em um famoso jogador de futebol americano.

    "O estado de saúde do meu pai oscila muito. A memória dele está bastante comprometida. Às vezes, ele confunde os familiares", diz Marcel Jofre.

    Perda de memória e demência estão entre os sintomas da ETC.

    A saúde de Jofre piorou sensivelmente em maio de 2013, quando morreu a sua mulher, Maria Aparecida Jofre, com quem foi casado durante 52 anos.

    Até essa época, ele era tratado como se tivesse o mal de Alzheimer. Ao examinar o ex-pugilista no início de 2014, o neurologista Renato Anghinah descobriu que Jofre era, na verdade, vítima de ETC. A partir daí, sob nova medicação, houve melhora no seu estado de saúde.

    Eder Jofre vive atualmente sob os cuidados da filha, Andrea, na zona sul de São Paulo.

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