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    Esgrimista paraolímpica competiu mesmo suspensa por doping

    PAULO ROBERTO CONDE
    DE SÃO PAULO

    02/08/2017 02h00

    Marco Antonio Teixeira/MPIX/CPB
    02/09/2016 - Brasil, Rio de Janeiro, Tenda de treino anexo Arena Carioca 3 - Jogos Paraolimpicos Rio 2016 - Esgrima, treino - Monica da Silva Santos. Mônica teve uma gravidez de risco e ficou tetraplégica ao não optar pelo aborto da filha. Foto: Marco Antonio Teixeira/MPIX/CPB ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    A esgrimista paraolímpica Mônica Santos em treino no Parque Olímpico, em setembro de 2016

    Em uma grave infração, a esgrimista paraolímpica Mônica Santos, 34, disputou o Campeonato Brasileiro da modalidade, em novembro, suspensa por doping.

    Ela foi flagrada com a substância furosemida em torneio regional em São Paulo, em 26 de maio de 2016. A competição lhe rendeu a vaga nos Jogos Paraolímpicos do Rio, que foram realizados quase quatro meses depois, do qual a gaúcha saiu sem medalhas.

    A furosemida é um diurético, mas pode ser usada para mascarar a presença de outras drogas no organismo.

    O que ocorreu entre o exame, a Paraolimpíada e o Brasileiro foi uma sucessão de confusões e desinformação que põe em xeque a credibilidade no combate ao doping.

    O teste antidoping em maio de 2016 que revelou a substância no corpo da esgrimista foi feito pela Federação Internacional de Esportes para Cadeirantes e Amputados (cuja sigla em inglês é IWAS).

    Tanto a atleta quanto o CPB (Comitê Paralímpico Brasileiro) culpam o órgão internacional pela trapalhada.

    Ambos argumentam que a punição a Mônica passou a vigorar a partir de 19 de outubro –quase cinco meses após a coleta das amostras dela–, mas só souberam disso em 30 de novembro, quando foram notificados pela IWAS do teste positivo e da suspensão de nove meses que foi imposta.

    Apesar das alegações de má comunicação, IWAS e CPB têm um representante em comum: Valber Lázaro Nazareth, que coordena a esgrima em cadeira de rodas para o comitê, também é membro do comitê executivo da federação para a modalidade.

    Indagado pela Folha, Nazareth disse que não soube do caso de Mônica porque ele correu em sigilo na IWAS.

    Os prazos entre a coleta e a sanção da para-atleta extrapolam e muito as determinações da Wada (Agência Mundial Antidoping). Ela recomenda que o julgamento e as punições ocorram o mais rapidamente possível.

    Ou seja, de jeito algum poderiam levar cinco meses.

    Outro ponto é que todos os resultados da brasileira deveriam ser anulados a contar da data do recolhimento do material biológico, em maio.

    Não foi o que ocorreu. Neste ínterim, a esgrimista competiu no Brasileiro da modalidade, em novembro, irregularmente. O CPB afirmou, por meio de nota, que anulou os resultados obtidos pela atleta na competição tão logo recebeu o aviso de sua suspensão. Porém, nunca divulgou publicamente o caso.

    "Ao receber a notificação, o CPB imediatamente anulou os resultados de Mônica no Campeonato Brasileiro, realizado naquele mês, e alertou à atleta que a IWAS mandara um comunicado para ela quando da decisão da suspensão preventiva, em 19 de outubro", disse a entidade.

    Mônica assegurou que não recebeu o comunicado da federação. "Ainda não tinha recebido a notificação, não sabia que eu estava suspensa", afirmou a esgrimista, que é paraplégica, à Folha.

    Oficialmente, a punição de Mônica terminou no último dia 19. "Eu quero olhar para frente e voltar a fazer o que mais gosto. Não cabe mais procurar culpados", disse.

    A Wada afirmou que entraria em contato com o CPB e a IWAS e, no momento, não fará comentários a respeito.

    A IWAS não respondeu aos questionamentos da Folha desde o dia 13 de julho.

    O Brasil se vê às voltas com problemas no assunto. A Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem foi alvo de investigação da Wada.

    A agência nacional esteve descredenciada entre novembro e abril devido a falhas de conformidade com o Código Mundial Antidoping.

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