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    Após Rio-2016, Parque Radical de Deodoro tem água suja e parada

    SÉRGIO RANGEL
    DO RIO

    06/08/2017 02h00

    Um ano depois da abertura dos Jogos Olímpicos, várias arenas construídas para o evento estão deterioradas ou subutilizadas. Um exemplo é o lago artificial do circuito de canoagem slalom, que tem cerca de 20 milhões de litros de água suja e parada.

    A corredeira artificial é uma das instalações esportivas mais complexas erguidas para a disputa da Olimpíada.

    A construção do Parque Radical de Deodoro, que também inclui pistas de BMX e Mountain Bike, chegou a atrasar um ano. A obra para a construção do parque e de mais seis estruturas esportivas em Deodoro foi orçada em R$ 625 milhões.

    O lago artificial está fechado desde dezembro, quando o contrato da Prefeitura do Rio com a empresa que administrava o local se encerrou.

    Desde então, a água da chuva e a sujeira deixaram o local com um aspecto desolador. De acordo com a Prefeitura do Rio, o lago começou a ser limpo na última quinta-feira (3). A operação para que ele possa novamente ser utilizado deverá durar quase duas semanas.

    "O lago está insalubre. Fizemos na semana passada uma convocação emergencial para escolher uma empresa que vai limpá-lo", disse Patrícia Amorim, subsecretária de Esporte e Lazer do Rio.

    A corredeira olímpica possui quatro bombas (cada uma custou R$ 250 mil) e uma série de equipamentos sofisticados. "Por isso, temos que entregar a limpeza para uma empresa com experiência no setor", acrescentou Patrícia.

    Lalo de Almeida/ Folhapress
    Rio de Janeiro, RJ. 27/07/2017. Vista area do circuito de canoagem do Parque Radical de Deodoro no Rio de Janeiro, que esta fechada para a comunidade. ( Foto: Lalo de Almeida/ Folhapress ) ESPORTE ***EXCLUSIVO FOLHA***
    Parque Radical de Deodoro, construído para os Jogos Olímpicos, está fechado para a comunidade

    A operação é delicada e não irá esvaziar o lago. Será feita com produtos químicos e máquinas. O volume de água para encher o lago é equivalente ao de dez piscinas olímpicas (50 m).

    Em 2015, o processo para enchê-lo foi feito de forma lenta para não prejudicar o abastecimento de água da população ao redor.

    O lago era uma das principais opções de lazer da região, que está entre as mais carentes da cidade. Aberto oficialmente em dezembro de 2015, o local era usado como um piscinão com tem três níveis de profundidade (1,95 m, 1,20 m e 0,45 m). Se tornou "point" tão disputado quanto o Piscinão de Ramos.

    "Isso aqui já divertiu muita gente. Foi uma alegria. O mais triste é ver esse espaço fechado, praticamente abandonado. E essa criançada sem fazer nada em casa", conta José da Silva, 51, que mora em frente à entrada do parque.

    REABERTURA

    A prefeitura garante que o espaço será reaberto no próximo dia 21 de setembro.

    No início do ano, o prefeito Marcelo Crivella havia prometido reinaugurar o parque até o final do verão, que terminou em março.

    Um acordo está sendo costurado junto ao governo federal e contará também com a CBCA (Confederação Brasileira de Canoagem).

    "Recebemos esse equipamento sem previsão orçamentária. Queremos que a população use, mas precisamos também gastar o dinheiro público com cautela. Por isso, precisamos desse tempo para entender a operação", disse Patrícia Amorim.

    Segundo a subsecretária, o município desembolsou R$ 5,8 milhões nos últimos três meses do ano passado para operar o parque. Na nova modelagem, o parque, que contará com escolinhas de canoagem, skate, BMX e vôlei de praia, funcionará com um orçamento de cerca de R$ 10 milhões por ano.

    AUTORIDADES CORREM PARA VIABILIZAR USO DE ARENAS

    Os gestores das arenas erguidas para a Olimpíada do Rio correm contra o tempo para tentar fazer com que as estruturas enfim se tornem um legado para a cidade e para o esporte brasileiro.

    Um ano depois da abertura dos Jogos, a maioria das arenas já reabriu. Mesmo assim, os equipamentos funcionam ainda de maneira tímida, recebendo apenas treinos e torneios regionais de diversas modalidades.

    A administração das instalações do Parque Olímpico da Barra, coração dos Jogos de 2016, foi assumida pela Prefeitura do Rio e o Ministérios do Esporte após uma fracassada tentativa de PPP (parceria público-privada).

    Até agora, o único evento internacional de prestígio realizado no local foi a etapa brasileira do mundial de vôlei de praia, disputado em maio, no Centro de Tênis.

    A competição, no entanto, foi um fracasso de público. Cerca de mil pessoas foram à arena, com capacidade para 10 mil espectadores, para assistir aos dois dias de torneio, com cobrança de ingressos.

    "Queremos transformar o largado olímpico em legado. Estamos vendo avanços desde março, mas ainda está aquém", disse o vereador Felipe Michel (PSDB), presidente da Comissão de Esporte e Lazer da Câmara do Rio.

    O parlamentar criticou a falta de manutenção da estrutura do Parque Olímpico da Barra. No último dia 30, parte da cobertura do velódromo foi destruída pelo fogo. A principal suspeita é que o incêndio tenha sido causado pela queda de um balão.

    "Como um parque esportivo com um investimento tão grande pode ficar sem uma brigada de incêndio? Para piorar, o equipamento não tinha seguro. Isso é inadmissível", acrescentou. O velódromo custou R$ 137 milhões aos cofres públicos.

    PROBLEMA FEDERAL

    Para cuidar das nove instalações sob administração federal, o governo criou a Aglo (Autoridade de Governança do Legado Olímpico).

    O órgão ligado ao Ministério do Esporte tem até 2019 para definir um projeto de gestão sustentável para os equipamentos e concluir o trabalho. As arenas de Deodoro já foram repassadas para o Ministério da Defesa.

    O orçamento da Aglo é de aproximadamente R$ 80 milhões por ano. Desse total, cerca de R$ 35 milhões deverão ser utilizados para manter as estruturas do Parque Olímpico de Deodoro. O restante deverá ser utilizado na manutenção das arenas do Parque Olímpico da Barra.

    "O nosso maior desafio é mostrar que não houve abandono. As adaptações demandam um tempo. Em Londres, o Parque Olímpico só foi reaberto dois anos depois", disse o presidente da Aglo, Paulo Márcio Dias de Mello.

    Em setembro, o Parque Olímpico da Barra receberá o seu principal evento após os Jogos. O local será palco do Rock in Rio, quando cerca de 700 mil pessoas deverão assistir aos shows do festival.

    A Prefeitura do Rio adiou para o próximo ano a desmontagem do Parque Aquático, que recebeu as provas de natação dos Jogos, e da Arena do Futuro, sede do torneio de handebol. O município alega não ter verba. A Arena do Futuro seria transformada em quatro escolas municipais.

    "O legado vai existir. A nossa intenção é transformar Deodoro num centro de talentos do nosso esporte. Os projetos já existem. Esperamos apenas a oficialização do acordo em breve", disse o presidente da CBCA, João Tomasini Schwertner. Pelo menos quatro campeonatos mundiais do esporte estão marcados para ser disputados na corredeira nos próximos dois anos.

    *

    LEGADO OLÍMPICO

    Em que situação estão as instalações da Rio-2016

    Onde ficam as estruturas da Rio-2016

    1. Arena Carioca 1

    Esporte que sediou: Basquete
    Responsável: Ministério do Esporte
    Como está hoje: Sediou competições de tênis de mesa e jiu-jitsu. Pretende receber em 2018 torneios internacionais de vôlei

    2. Arena Carioca 2

    Esporte que sediou: Judô, luta livre, luta greco-romana
    Responsável: Ministério do Esporte
    Como está hoje: Será usada para treinos de modalidades de alto rendimento. Ainda sem convênios

    3. Arena Carioca 3

    Esporte que sediou: Taekwondo, esgrima
    Responsável: Prefeitura do Rio
    Como está hoje: Seria transformada em escola para o esporte, mas ainda não tem verba. Por enquanto, abriga torneios regionais

    4. Arena da Juventude

    Esporte que sediou: Basquete, pentatlo moderno (esgrima)
    Responsável: Exército
    Como está hoje: Foi sede de torneio de judô

    5. Arena do Futuro

    Esporte que sediou: Handebol
    Responsável: Prefeitura do Rio
    Como está hoje: Vai virar quatro escolas municipais. Sem verba, prefeitura pediu mais um ano para implementar o projeto

    6. Arena do Rio

    Esporte que sediou: Ginástica artística, ginástica rítmica, ginástica de trampolim
    Responsável: Gl Events
    Como está hoje: Já recebeu jogos de basquete e shows. Lá também funciona um centro de treinamento de ginástica artística do COB

    7. Campo de Golfe

    Esporte que sediou: Golfe
    Responsável: Empresa escolhida pela confederação do esporte administra o campo
    Como está hoje: Sediou o Aberto do Brasil de golfe. Está aberto para a prática do esporte (R$ 210 por dia) e conta com escolinhas

    8. Centro Aquático de Deodoro

    Esporte que sediou: Pentatlo moderno (natação)
    Responsável: Exército
    Como está hoje: Recebeu competições e treinamentos militares

    9. Parque Aquático Maria Lenk

    Esporte que sediou: Polo Aquático, nado sincronizado, saltos ornamentais
    Responsável: COB
    Como está hoje: O Centro de Treinamento Time Brasil está instalado no local com 200 atletas em 12 modalidades

    10. Centro de BMX

    Esporte que sediou: Ciclismo BMX
    Responsável: Prefeitura do Rio
    Como está hoje: Está fechado. Município promete reabrir o espaço neste segundo semestre

    11. Centro de Hipismo

    Esporte que sediou: Hipismo (saltos, adestramento e CCE)
    Responsável: Exército
    Como está hoje: Sediou treinamentos e competições militares

    12. Centro de Hóquei

    Esporte que sediou: Hóquei sobre grama
    Responsável: Exército
    Como está hoje: Foi usado para treinamentos

    13. Centro de Mountain Bike

    Esporte que sediou: Ciclismo mountain bike
    Responsável: Prefeitura do Rio
    Como está hoje: Está fechado. Município promete reabrir o espaço no segundo semestre

    14. Centro de Tênis

    Esporte que sediou: Tênis
    Responsável: Ministério do Esporte
    Como está hoje: Sediou torneios de tênis e duas competições de vôlei de praia. Pretende sediar o Rio Open de tênis de 2019

    15. Centro de Tiro

    Esporte que sediou: Tiro esportivo
    Responsável: Exército
    Como está hoje: Serve de treinamento para a equipe brasileira e sediou torneios nacionais

    16. Engenhão

    Esporte que sediou: Atletismo, futebol
    Responsável: Botafogo
    Como está hoje: Recebe jogos de futebol desde o ano passado

    17. Estádio Aquático

    Esporte que sediou: Natação, polo aquático
    Responsável: Prefeitura do Rio
    Como está hoje: Já era para ter sido desmontado. Sem verba, governo adiou por mais um ano. As piscinas foram repassadas ao Exército

    18. Estádio da Lagoa

    Esporte que sediou: Remo e canoagem velocidade
    Responsável: Iniciativa privada
    Como está hoje: Além de receber provas das modalidades, cinemas e restaurantes funcionam no local

    19. Estádio de Canoagem Slalom

    Esporte que sediou: Canoagem slalom
    Responsável: Prefeitura do Rio
    Como está hoje: Município promete reabrir o espaço no segundo semestre

    20. Estádio de Deodoro

    Esporte que sediou: Rúgbi de sete, pentatlo moderno
    Responsável: Exército
    Como está hoje: Já foi desmontado

    21. Maracanã

    Esporte que sediou: Futebol e cerimônias de abertura e encerramento
    Responsável: Odebrecht e AEG
    Como está hoje: Concessionária negocia com o Governo do Rio para deixar a administração do estádio

    22. Maracanãzinho

    Esporte que sediou: Vôlei
    Responsável: Odebrecht e AEG
    Como está hoje: Fechado desde então. Empresas alegam que Rio 2016 ainda não fez as obras necessárias

    23. Marina da Glória

    Esporte que sediou: Vela
    Responsável: Iniciativa privada
    Como está hoje: Já realizou dezenas de eventos e abriga restaurantes, lojas e a sede da CBVela

    24. Riocentro

    Esporte que sediou: Levantamento de peso, tênis de mesa, badminton e boxe
    Responsável: Gl Events
    Como está hoje: O centro de convenções já recebeu dezenas de eventos

    25. Sambódromo

    Esporte que sediou: Atletismo (maratona), tiro com arco
    Responsável: Prefeitura do Rio
    Como está hoje: Já sediou shows e recebe o desfile das escolas de samba no Carnaval

    26. Velódromo do Rio

    Esporte que sediou: Ciclismo de pista
    Responsável: Ministério do Esporte
    Como está hoje: Cobertura pegou fogo. Pista pode ter sido comprometida. Chegou a sediar torneios regionais de ciclismo e treinos

    27. Vila Olímpica

    Alojamento dos atletas
    Responsável: Carvalho Hosken e Odebrecht
    Como está hoje: Apartamentos foram vendidos e moradores devem entrar a partir de dezembro

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