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    Criticada, tática do Brasil ouro no Pan virou tendência no basquete

    GIANCARLO GIAMPIETRO
    DE SÃO PAULO

    20/08/2017 02h00

    Paulo Cerchiari/Folhapress 25.agos.1987
    GUARULHOS, SP, BRASIL, 25-08-1987: Basquete Masculino: o jogador Oscar brinca com a miniatura da bola oficial dos jogos Pan-Americanos, no desembarque do Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos (SP).
    O jogador Oscar brinca com a bola oficial dos jogos Pan-Americanos, na volta ao Brasil

    Para quem vê de fora, foi uma das maiores vitórias do basquete brasileiro. Dentro do universo da modalidade, porém, os campeões pan-americanos de 1987 já enfrentaram muita resistência desde a conquista de medalha histórica em Indianápolis, nos EUA, com vitória na final contra o time da casa.

    Aquela foi a primeira derrota da seleção norte-americana em seu território.

    Ainda assim, o estilo de jogo do time brasileiro foi visto como herança maldita à modalidade, incentivando os arremessos de longa distância e supostamente corrompendo o jogo de equipe.

    "A gente foi muito criticado por ter, entre aspas, individualizado um jogo coletivo", conta o ex-ala Marcel de Souza, 59, um dos grandes cestinhas brasileiros.

    Hoje, com o chute de três pontos disseminado como grande arma tática, os veteranos não deixam de ver a ironia nos incontáveis elogios que, por exemplo, recebem os atuais campeões da NBA, do Golden State Warriors.

    "Agora o mesmo jogo é visto como coletivo. Falam: como eles passam a bola, como se movimentam", diz Marcel.

    Há 30 anos, a seleção dirigida por Ary Vidal realmente antecipou um padrão de jogo que hoje está em voga.

    Em meio a uma revolução estatística pela qual passa a NBA, os arremessos de fora são postos como uma dos lances mais eficientes.

    Nunca se chutou tanto de três pontos como em 2016-17. Líder nesse quesito, o Houston Rockets tentou 3.306 disparos de fora na temporada regular (40,3 por jogo).

    O técnico do time texano é Mike D'Antoni, visto na liga como um pioneiro desse estilo de jogo agressivo. Na década passada, à frente do Phoenix Suns, pôs em prática um ataque que ficou conhecido como "sete segundos ou menos".

    A ideia? Que as melhores oportunidades aconteceriam com menos de sete segundos de posse de bola gastos.

    À distância, o ritmo frenético parecia o de um rachão. Mas o sistema era, na verdade, bastante coordenado.

    Para Marcel, a mesma confusão foi feita em relação ao Brasil campeão do Pan.

    "Se for ver como atacávamos, era jogo conceitual. Sabíamos o que ia acontecer em quadra. Estava tudo treinado", lembra. "Nosso tempo médio poderia ser de quatro segundos. O D'Antoni estava atrasado em três."

    O chute de três foi introduzido no basquete Fiba apenas em 1984. Três anos depois, o fundamento ainda não era tão praticado assim.

    O técnico Ary Vidal, porém, enxergou em seu elenco talento suficiente para que a equipe passasse a arriscar mais. O processo foi iniciado na preparação para o Mundial de 1986, na Espanha.

    "O Ary disse a mim e ao Oscar que poderíamos arremessar quando e de onde quiséssemos. Olhei para o Oscar e falei: 'É verdade isso'? [risos] Saímos dali para treinar ainda mais", conta Marcel.

    O Brasil terminou o Mundial em quarto, perdendo o bronze para a Iugoslávia.

    Folhapress

    No Pan de 1987, derrubou uma seleção americana universitária, mas que apresentava nove atletas que teriam longa carreira na NBA.

    O pivô David Robinson era o destaque. Cinco anos depois, seria membro do "Time dos Sonhos" campeão olímpico em Barcelona.

    O assistente-técnico José Medalha deu ainda mais incentivos à vocação daquela seleção para se chutar de três pontos, depois de estudar os EUA durante o torneio.

    Sua análise foi de que o time da casa priorizava sua defesa interior e quase não dava atenção ao perímetro.

    Foi um bombardeio.

    A seleção brasileira acertou 10 de 25 arremessos de longa distância, contra apenas 2 de 11 dos americanos.

    Com virada no 2º tempo, o Brasil venceu por 120 a 115.

    Em termos de ironias, Marcel retorna ao Mundial de 1986, no qual a seleção caiu nas semifinais justamente contra os EUA. Para aquele jogo, a avaliação de Medalha foi de que seu time não precisaria se preocupar com o tiro exterior dos oponentes.

    O plano de jogo foi executado. A seleção usou marcação mais recuada.

    "Eles mataram tudo", diz Marcel. "Sabe quem estava no time? Steve Kerr."

    Pentacampeão como jogador por Chicago Bulls e San Antonio Spurs, Kerr tem o melhor aproveitamento nos arremessos de três pontos da história da NBA. Hoje ele é técnico do Golden State.

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