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    Corrupção no futebol

    Delator de Ricardo Teixeira, uruguaio driblou o FBI e hoje vive em casa

    ALEX SABINO
    ENVIADO ESPECIAL A MONTEVIDÉU (URUGUAI)

    11/09/2017 02h00

    Andres Stapff-24.dez.2015/Reuters
    Eugenio Figueredo chega ao Uruguai, em 2015

    Eugenio Figueredo, 85, sai de casa todas as segundas, quartas e sextas de manhã. Fica quatro horas na sede das empresas da família e volta para o luxuoso condomínio fechado onde reside, na Rambla Kibon, próximo à praia de Pocitos, em Montevidéu.

    Um apartamento na região custa, em média, US$ 800 mil (cerca de R$ 2,5 milhões).

    O ex-presidente da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol), entre todos os acusados de corrupção na investigação aberta nos Estados Unidos, foi o único a conseguir driblar a Justiça dos EUA e fazer a delação em seu país de origem, onde permanece em prisão domiciliar.

    "Era a nossa oportunidade de conseguir um acordo para ele [Figueredo]. No Uruguai, sabíamos que haveria um processo justo", diz a advogada do ex-dirigente, Karen Pintos.

    Preso na Suíça no final de maio de 2015 com outros cartolas da Fifa, Figueredo seria mandado para os Estados Unidos, como aconteceu com o ex-presidente da CBF, José Maria Marin. A tacada da advogada do uruguaio foi fechar acordo com a Justiça uruguaia.

    Em troca de um pedido de extradição do seu país natal, seu cliente contaria tudo o que sabia sobre os esquemas de corrupção na Conmebol.

    Cumpriu. Figueredo complicou a vida de cartolas de clubes e empresários envolvidos na compra de direitos de transmissão. Deu detalhes sobre como usava empresas para lavar dinheiro de contratos de TV negociados pela Conmebol. Disse em quais bancos ele e outros dirigentes tinham contas secretas.

    Denunciou a ligação do presidente do Peñarol, Juan Pedro Damiani, com sociedades anônimas para a compra de estúdios. Mostrou que o dinheiro ilegal era lavado em investimentos imobiliários por uma empresa de origem suíça.

    Envolveu o então presidente da federação uruguaia, Sebastián Bauza, da argentina, Julio Grondona; e de Ricardo Teixeira, que comandou a CBF de 1989 a 2012.

    Teixeira é réu nos EUA e está sendo investigado na Espanha. Hoje, mora no Rio e não pretende deixar o Brasil.

    "Normalmente, ele seria extraditado para os Estados Unidos, onde acontecia a investigação. Mas a prioridade era do Uruguai porque já havia um processo contra o senhor Figueredo no país", afirma o promotor Juan Gómez, que cuidava do caso no final de 2015, quando o ex-dirigente foi extraditado.

    Por isso o acordo de Figueredo com a Justiça uruguaia teve sucesso: a Suíça deu preferência ao processo mais antigo contra o indiciado.

    Em 2013, foi aberta a investigação chamada de "caso Conmebol". Equipes uruguaias e a Mutual Uruguaia de Futebolistas Profissionais (o sindicato da categoria) denunciaram a existência de uma associação de dirigentes que se apropriavam do dinheiro que deveria ser repassado aos atletas e ao sindicato.

    O cabeça deste esquema seria Eugenio Figueredo.

    Até abril de 2016, o cartola ficou preso no Cárcel Central, em Montevidéu, à espera de julgamento por lavagem de ativos e fraude (pena de dois a 15 anos de prisão). Após cirurgia, a juíza Maria Elena Mainard ordenou que ele passasse a prisão domiciliar.

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