Dependente de dinheiro público, o esporte olímpico brasileiro convive com uma realidade preocupante. O orçamento enviado pelo Executivo ao Congresso Nacional prevê cortes drásticos para o Ministério do Esporte em 2018.
Pela proposta, o orçamento total da pasta pode sofrer uma redução de 68% entre o que foi aprovado no ano passado e o que está previsto. O valor de R$ 491 milhões, que consta na lei orçamentária do ano que vem, é o mais baixo desde 2005, considerando a inflação do período, segundo levantamento da ONG Contas Abertas.
Vários programas para o esporte de alto nível podem ser afetados em 2018.
Na rubrica "Preparação de Seleções Principais para Representação do Brasil em Competições Internacionais" o valor previsto para 2018 é de R$ R$ 4,8 milhões, contra os R$ 40 milhões de 2017.
O dinheiro previsto para o programa Bolsa Atleta, por exemplo, um dos mais importantes para o esporte olímpico nacional, que beneficia por volta de 6.200 esportistas, também pode cair pela metade, se os congressistas não mudarem o projeto.
São previstos R$ 70 milhões para 2018 em vez dos R$ 141 milhões deste ano. A iniciativa, no caso da Olimpíada do Rio, ajudou 358 atletas ou 77% do total, segundo o Ministério do Esporte.
Gasto por ano no Programa Bolsa Atleta - Em R$ milhões*
Atletas financiados pela bolsa do governo federal participaram de 18 das 19 conquistas de medalhas olímpicas na Rio-2016. Apenas a equipe de futebol não contava com bolsistas do programa estatal.
"O Bolsa Atleta é importante, ajudou muitos no atletismo, mas ele precisa ser revisto. Vamos aguardar o que será feito no orçamento", diz Antonio Carlos Gomes, superintendente de alto rendimento da Confederação Brasileira de Atletismo.
Para o dirigente, desde que os critérios sejam claros para que o dinheiro do programa seja distribuído de forma mais qualitativa, pode ser positivo rediscutir o Bolsa Atleta. "Existem muitos atletas que ganham o dinheiro mas não entregam resultados. É positivo rediscutir o Bolsa Atleta", afirma Gomes.
Verba da pasta para Esporte, Cidadania e Desenvolvimento - Em R$ milhões
O dirigente não acredita que o ministério faça "nenhuma loucura" -como acabar com o programa- sem conversar com as confederações, o que não ocorreu até agora.
Mas não é apenas o esporte olímpico de alto rendimento que deve ser afetado pelo corte. O futebol, e várias ações que associam o esporte ao lazer e à inclusão social, também podem ter menos dinheiro no ano que vem.
No item "Desenvolvimento de Atividades e Apoio a Projetos de Esporte, Educação, Lazer, Inclusão Social e Legado Social", o Congresso aprovou para 2017 um orçamento de R$ 86,5 milhões. Mas, agora, a previsão para 2018 é de R$ 25 milhões.
Recurso que pode ser usado para eventos esportivos em comunidades carentes, por exemplo. Ou para a compra de material esportivo ou capacitação de professores.
No ano passado, ainda sob o entusiasmo da Olimpíada do Rio, em que o Brasil não atingiu a meta de ficar entre os dez primeiros -o 13º lugar com as 19 medalhas é melhor participação do país em uma edição dos jogos-, o ministro do Esporte Leonardo Picciani (PMDB) negou cortes.
"Vamos manter os programas e certamente os investimentos serão maiores", afirmou Picciani, ao fazer um balanço do Brasil nos Jogos.
Procurado nesta terça-feira (19), o ministério afirmou, por meio de nota, que os valores na previsão são apenas iniciais. E que vem trabalhando com o Congresso para aumentar o orçamento de 2018.