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    Contratados como atletas, jogadores de videogame ganham até R$ 20 mil

    EDUARDO GERAQUE
    PAULO ROBERTO CONDE
    DE SÃO PAULO

    23/09/2017 02h00

    Marcelo Justo/Folhapress
    Luan e Rogerio Almeida (diretores, em segundo plano) e os jogadores Gabriel "Turtle" Peixoto e Marcelo "Ayel" Mello, equipe INTZ, uma das principais do país em esportes eletrônicos
    Luan e Rogerio Almeida (diretores, em segundo plano) e os jogadores Gabriel "Turtle" Peixoto e Marcelo "Ayel" Mello, equipe INTZ, uma das principais do país em esportes eletrônicos

    Uma cobertura modesta em um prédio no meio do Brás, bairro de comércio popular na região central de São Paulo. Uma casa grande, mas sem luxo, na zona sul, perto do aeroporto de Congonhas.

    Nos locais estão estabelecidas as sedes de duas das oito maiores equipes de esportes eletrônicos do país.

    Apesar do aspecto de república estudantil, uma visita às instalações derruba a tese de que jogadores de videogame não são esportistas. Nas duas "game houses", a rotina é praticamente a mesma.

    Mais de uma dezena de jogadores mora e trabalha nos imóveis. À disposição, eles têm de nutricionistas, cozinheiros, fisioterapeutas, treinadores e psicólogos.

    Tudo para aguentar a batalha virtual de um campeonato de "League of Legends", por exemplo, um dos mais populares jogos eletrônicos. É preciso ter mão, dedo, pescoço e coluna em dia.

    A exemplo dos boleiros, os "gamers" fazem duas sessões de treino, uma à tarde e outra que invade a noite. Pela manhã são feitos trabalhos físicos, sobretudo na academia. Os campeonatos ocorrem nos finais de semana.

    Um kit para jogar, que envolve computador, teclados, monitores e cadeiras confortáveis custa até R$ 13 mil.

    Se a INTZ, diminutivo de "intrepidez", time sediado no Brás –além da cobertura são mais três andares no prédio–, tem aproximadamente 60 pessoas, o CNB, na zona sul, abriga cerca de 20 profissionais. O primeiro disputa campeonatos de mais de um tipo de jogo e o outro não.

    "Nós passamos o dia todo aqui. É positivo, somos realmente amigos e isso ajuda nas competições", afirma Gabriel "Turtle" Peixoto, um dos jogadores do time.

    Todos os atletas, jovens entre 18 e 25 anos, são contratados como atletas, de acordo com os ditames da Lei Pelé.

    Têm carteira de trabalho assinada e recebem percentual por direito de imagem.

    A exemplo do que ocorre no futebol, há janelas para transferência de atletas, e não raro ocorrem aliciamentos, discussões e negociações complexas. Os maiores astros do esporte eletrônico ganham por volta de R$ 20 mil ao mês.

    "O investimento é de R$ 1,2 milhão ao ano. A conta começou a fechar", diz Rogério Almeida, sócio da INTZ, que há três anos disputa torneios.

    Ele montou a equipe para se aproximar do filho, Luan. O passatempo virou investimento quando a empresa saltou de sete para 60 pessoas.

    O INTZ coleciona troféus e até participou, em 2016, do campeonato mundial de "League of Legends" –jogo que envolve conquista de território e destruição de inimigos com magia, arma branca ou disparos de longa distância.

    "Nosso negócio cresceu 70% do ano passado para este, num cenário de crise econômica no país", afirma Cleber Fonseca, 26, um dos donos do CNB, ao lado do irmão.

    O ex-jogador Ronaldo e André Akkari, astro do pôquer, são investidores da equipe.

    Como ocorre no futebol, o CNB, fundado há 16 anos, faz peneiras para montar a equipe de base. A cada seis meses 5.000 garotos, a partir dos 13 anos, disputam 30 vagas.

    Segundo André Sica, advogado especializado em direito esportivo, os clubes de esportes eletrônicos hoje têm uma associação para definir regulamentações e direitos, a qual ele representa. A entidade se chama Associação Brasileira dos Clubes de e-Sports.

    No "League of Legends", a empresa dona do jogo, a Riot, é quem organiza e comercializa os campeonatos. Devido à quantidade de adeptos, a modalidade tem ganhado força na cena internacional. Ela foi incluída nos

    Jogos Asiáticos de 2018, na Indonésia, como exibição. Na edição seguinte do evento, em 2022, na China, valerá medalha.

    A ascensão faz crescer a especulação de que pode fazer parte dos Jogos Olímpicos em algum momento no futuro.

    Chefe da comissão de atletas do Comitê Olímpico Internacional, a americana Angela Ruggiero, 37, disse que há abertura para discussão, mas o formato teria de ser revisto.

    "É uma conversa interessante. Mas os jogos têm de se alinhar com os nossos valores e não serem baseados em violência", disse Ruggiero.

    Debate à parte, o negócio de esportes eletrônicos só tende a progredir no mundo real.

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