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    Antes de prisão, Nuzman reuniu chefes de confederações para 'tranquilizá-los'

    PAULO ROBERTO CONDE
    DE SÃO PAULO

    06/10/2017 02h00

    Luciano Belford/Agif/Folhapress
    O presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Carlos Arthur Nuzman, é preso por suspeita de intermediar a compra de votos de integrantes do Comitê Olímpico Internacional (COI) para a escolha do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Ele foi preso em casa, nesta quinta-feira (5), no Leblon na zona sul.
    Carlos Arthur Nuzman é preso por suspeita de intermediar a compra de votos de integrantes do COI

    Na última quinta-feira (28), Carlos Arthur Nuzman recebeu os presidentes de quase 30 confederações esportivas na sede do COB (Comitê Olímpico do Brasil), no Rio.

    Além de falar sobre divisão de recursos da Lei Piva, pauta principal do encontro, queria transmitir um recado.

    Após ser intimado a depor e ter seus passaportes apreendidos pela Polícia Federal no início de setembro, disse que era tempo de retomada.

    Por mais de uma hora, falou aos pares sobre a suspeita de esquema da Rio-2016. Tentou esclarecer aspectos que considerava dúbios e reforçar seus argumentos de defesa. Expressou que queria tranquilizar a todos.

    A "tranquilidade" não durou uma semana. Ao ser preso pela mesma Polícia Federal nesta quinta (5), abriu um vácuo de poder no COB que pode durar os cinco dias de detenção temporária estabelecida pela Justiça. Ou mais.

    O clima dentro do comitê olímpico é de ansiedade em relação aos rumos futuros.

    A Folha apurou que não há movimentação entre dirigentes para que seja convocada uma assembleia extraordinária ou qualquer outra reunião para discutir a situação da cúpula do COB.

    Portanto, por ora, a tarefa de administrar a entidade nestes dias cabe ao vice-presidente Paulo Wanderley, como rege o estatuto –na linha sucessória, o próximo é o secretário-geral Sérgio Lobo.

    Potiguar radicado na capixaba Vitória e que ganhou projeção ao presidir a CBJ (Confederação Brasileira de Judô) por 16 anos, Wanderley já responde pelo COB na ausência do mandatário em viagens ou compromissos.

    Nuzman chamou Wanderley para sua chapa no início de 2016. A estratégia era fazer um processo de transição para que o ex-comandante do judô nacional assumisse o comitê em 2020, data da próxima eleição presidencial.

    Com um aliado forte –em seu mandato, o judô do Brasil ganhou 12 medalhas olímpicas e 30 em Mundiais–, Nuzman poderia se concentrar no encerramento do Comitê Organizador dos Jogos do Rio, que ainda tem dívida superior a R$ 120 milhões, e na candidatura para a chefia da Odepa (Organização Desportiva Pan-Americana).

    A primeira parte do projeto deu certo. Sem adversários, Wanderley e Nuzman venceram a eleição para o COB, em outubro do ano passado.

    Porém, dali em diante os planos foram frustrados.

    Nuzman perdeu a eleição para a Odepa e virou alvo de investigação da Polícia Federal que culminou em sua prisão nesta quinta-feira.

    Adrinano Vizoni/Folhapress
    SÃO PAULO, SP, 05.03.2010: COPA DO MUNDO DE JUDÔ - Presidente da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), Paulo Wanderley Teixeira. O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab anunciou nesta sexta-feira (5/3), na sede da Prefeitura, Edifício Matarazzo, no Viaduto do Chá, que a cidade de São Paulo será a sede da Copa do Mundo de Judô. O evento esportivo faz parte do Circuito Mundial, que conta com outras 26 competições. O prefeito recebeu uma placa comemorativa do Presidente da Federação Internacional de Judô, Marius Vizer, e foi presenteado com um quimono pelo Presidente da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), Paulo Wanderley Teixeira. Presente no evento o secretário municipal de Esportes de São Paulo, Walter Feldman e o presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman. (Foto: Adrinano Vizoni/Folha Imagem)
    O vice-presidente do COB, Paulo Wanderley Teixeira, em evento em São Paulo

    EXIGENTE

    Ex-técnico de judô que foi responsável pela equipe masculina nos Jogos de Barcelona, em 1992, Wanderley é conhecido pelo estilo exigente que o marcou na CBJ.

    Em seus 16 anos na capitania da confederação, teve como pior momento o Mundial de Roterdã, em 2009, quando o Brasil saiu sem pódios.

    Ainda na Holanda, esbravejou e distribuiu reprimendas à comissão técnica e atletas. Desde então, o judô brasileiro não mais deixou uma competição de primeira linha sem ao menos uma medalha.

    No COB, ele tem adotado até o momento um estilo mais contido e discreto, como coadjuvante de Nuzman.

    Em 2015, Wanderley foi retirado da presidência da Confederação Pan-Americana de Judô por seus pares.

    Os cartolas alegaram que o brasileiro tentava concentrar poder e não fazia consulta prévia para tomar decisões.

    Por causa disso, também tiraram o Pan-Americano da modalidade que seria disputado no Brasil, em abril deste ano, antes dos Jogos.

    O evento acabou por ser realizado em Cuba.

    Wanderley tentou, sem sucesso, reaver os seus cargos por meio de apelação na Corte Arbitral do Esporte.

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