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    Liga dos Campeões

    Sobrevivente de guerra, time do Azerbaijão tenta fazer história

    EDUARDO GERAQUE
    DE SÃO PAULO

    18/10/2017 02h00

    Adrian Dennis - 12.set.2017/AFP
    Qarabag's Brazilian midfielder Pedro Henrique controls the ball during the UEFA Champions League Group C football match between Chelsea and Qarabag at Stamford Bridge in London on September 12, 2017. / AFP PHOTO / Adrian DENNIS
    O meia brasileiro Pedro Henrique, do Qarabag, controla a bola no jogo contra o Chelsea

    Em uma parte do mundo marcada pelas atrocidades da guerra, um time de futebol que não consegue se desvincular dos seus traumas recentes fora do campo tentará fazer história e ganhar o seu primeiro ponto na fase de grupos da Liga dos Campeões.

    O Qarabag, após duas derrotas, terá uma nova batalha nesta quarta (18), em casa, com o Atlético de Madrid.

    O futebol nem de longe pode ser comparado com a guerra que obrigou o time do Azerbaijão, que nunca havia chegado à fase de grupos da competição, a trocar de cidade, e de estádio, em 1993.

    A equipe era da cidade de Agdam, mas a guerra que eclodiu na região entre armênios e azerbaijanos em 1988 –na época, os dois lados eram repúblicas da União Soviética, que se desintegraria logo depois– e foi até 1992 transformou a cidade que chegou a ter 160 mil habitantes em uma área fantasma. Nunca mais a população voltou.

    A partida desta quarta será em Baku, capital do Azerbaijão, sede atual do time.

    "O clube é muito identificado com os refugiados e com todo o passado sangrento e triste que provocou a mudança de cidade. No grande momento que se vive hoje, eles sempre lembram dos anos 1990. O clima atual é de paz, de total harmonia dentro do país. Não há mais problemas com a Armênia", afirma Pedro Henrique Konzen, brasileiro que marcou o único gol do Qarabag no campeonato.

    Depois de perder na estreia por 6 a 0 para o Chelsea, em Londres, o Qarabag conseguiu jogar bem contra a Roma, em casa, na segunda rodada. Perdeu por 2 a 1, mas quase empatou no fim.

    "A estreia foi um pouco decepcionante. Estávamos desfalcados e tivemos que improvisar o 3-5-2. Mas o grupo tem experiência e pode fazer melhor, principalmente em casa, e surpreender o adversário", diz Konzen, que explodiu de felicidade ao marcar o gol contra o Roma e entrar para a história do clube.

    O meia brasileiro, de 27 anos, acabou de chegar ao Azerbaijão. Depois de surgir no Grêmio, ele passou por Suiça, França e Grécia até chegar ao leste europeu.

    O time tem outro brasileiro, naturalizado azerbaijano, Richard Almeida. O meia, que atuou no Santo André e em Portugal, está desde 2012 no Qarabag. Jogou três vezes pela seleção na eliminatória.

    Se os resultados não vierem, o fato de o clube, mantido por uma empresa do setor do agronegócio, jogar a fase de grupos da Liga dos Campeões é motivo de orgulho no país, que ainda cultiva seus heróis de guerra.

    Um deles é 100% relacionado ao time. Allahverdi Bagirov, que havia sido jogador nos anos 1970, era o técnico quando o conflito teve início. O ex-jogador decidiu montar o seu próprio batalhão.

    Em um dos massacres, o grupo de Bagirov salvou por volta de mil pessoas, entre refugiados e prisioneiros. No dia 12 de junho de 1992, uma mina terrestre antitanque explodiu sob o carro em que o combatente estava, matando ele e o motorista do veículo.

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