• Esporte

    Thursday, 02-May-2024 19:41:43 -03

    Brasil olímpico tem queda em pódios na largada do ciclo para Tóquio-2020

    PAULO ROBERTO CONDE
    DE SÃO PAULO

    21/10/2017 02h00

    Diante do cenário de crise com a renúncia Carlos Arthur Nuzman do comando do COB (Comitê Olímpico do Brasil), o esporte nacional teve em 2017 número de conquistas semelhante ao dos Jogos do Rio, mas que decaiu na comparação direta com o início do ciclo anterior.

    Nesta temporada, competidores do país obtiveram 19 medalhas em provas que integram o programa esportivo da Olimpíada em Mundiais ou equivalentes, tidos como referência na análise.

    Foram três ouros, oito pratas e oito bronzes. Os carros-chefe foram o judô, que saiu do Mundial de Budapeste, no mês passado, com cinco pódios, os vôleis de quadra e praia e os esportes aquáticos.

    Como os judocas David Moura e Rafael Silva foram ao pódio na mesma categoria pesado, o COB considera apenas uma láurea –só um atleta do país pode competir por peso no judô nos Jogos Olímpicos–, o que faz a medição cair para 18 medalhas.

    Até o final do ano ainda serão disputados outros Mundiais, mas com pouca chance de pódio para o país, como os de handebol feminino.

    Na análise fria dos números, as 19 medalhas em 2017 igualam o obtido pela delegação na Rio-2016 (sete ouros, seis pratas e seis bronzes.

    Porém, representam decréscimo de 29,6% no cotejo com as 27 de 2013, ano em que o esporte olímpico nacional teve seu ano mais prolífico.

    Na época, todos surfavam na onda de investimentos de mais de R$ 4 bilhões do governo federal, Forças Armadas, estatais e outros entes na preparação olímpica.

    Com o fim dos Jogos do Rio, o contexto mudou. Houve retração e fuga de patrocinadores privados e públicos, como por exemplo a Petrobras, que cortou todo seu incentivo.

    Para atletas, técnicos e dirigentes, até pelo arrocho financeiro, os resultados da temporada foram razoáveis.

    Salvo 2013, nos demais primeiros anos de ciclos olímpicos deste século a quantidade de pódios foi menor.

    Em 2001 foram obtidas sete medalhas. Em 2005, 11. E em 2009, nove. Nesses três casos não havia a impulsão dos Jogos de 2016, que despejou bilhões na preparação.

    "Alguns atletas foram muito beneficiados com dinheiro no ciclo passado, o que não foi meu caso. Eu sempre tive dificuldade em arrumar patrocínio. O que fiz foi continuar a treinar e competir, e o resultado veio", disse o marchador Caio Bonfim, 26, bronze na prova de 20 km no Mundial de Londres, em agosto.

    Ele, a canoísta Ana Sátila e os skatistas Kevin Hoefler, Pedro Barros e Letícia Bufoni foram algumas das novidades que despontaram com medalhas na temporada –surfe e skate farão suas estreias olímpicas em Tóquio-2020.

    No geral, contudo, poucos novos talentos apareceram e as medalhas ficaram concentradas em nomes conhecidos.

    A natação, que não obteve nem sequer um pódio na Rio-2016, saiu com duas pratas em provas olímpicas no Mundial de Budapeste: no 4 x 100 m livre e nos 50 m livre.

    Foram, ainda, obtidas outras três medalhas em provas ausentes do programa olímpico. Quase todos os que foram ao pódio são "veteranos" de Mundiais e Olimpíadas.

    "Estamos satisfeitos, mas com pé no chão para não sermos hipócritas", disse Alberto Pinto da Silva, treinador-chefe da seleção masculina.

    Para Silva, é preciso caminhar na direção de revelar de mais talentos, apesar das restrições de verba. "Para o futuro eu quero que tenhamos um programa que possibilite subir degraus na elite internacional. Vamos atrás disso."

    Jorge Bichara, gerente de performance esportiva do COB, afirmou que o resultado do ano foi satisfatório, mas poderia ser ainda melhor se medalhistas olímpicos ou outros atletas de ponta do país estivessem em condições.

    Ele citou o ginasta Arthur Nory, bronze na Rio-2016 e que passou por duas cirurgias que prejudicaram seus objetivos para o ano, o boxeador campeão olímpico Robson Conceição, que se profissionalizou ainda em 2016.

    "O ano pós-olímpico carrega características diferentes, como atletas que aproveitam para se recuperar ou 'baixam a bola'", afirmou o dirigente.

    Bichara lembrou que nomes importantes passam por má fase, como o saltador Thiago Braz, ouro no Rio que devido aos resultados foi sacado do Mundial de Londres.

    "Como é o primeiro ano do ciclo, prefiro olhar pelo lado de que a ausência de pódios de atletas como Thiago como algo ainda positivo", disse.

    O perigo é que medalhões demorem a retomar o ritmo e a falta de recursos se prolongue. "O impacto financeiro pode ser grande. Resta sermos criativos com recursos e ser eficiente", completou.

    COB MUDA DE SEDE

    O presidente do comitê, Paulo Wanderley, afirmou à Folha que a entidade vai se mudar de um prédio na Av. das Américas, no Rio, para o Parque Aquático Maria Lenk, que faz parte do Parque Olímpico da Barra, no primeiro trimestre de 2018.

    O COB administra o Maria Lenk há anos. A medida é para contenção de gastos. A Folha apurou que os gastos mensais de aluguel custavam em torno de R$ 300 mil para o comitê.

    Um estudo de viabilidade está prestes a ser concluído para cortes em outras áreas.

    A entidade estuda descontinuar o Prêmio Brasil Olímpico, premiação anual que distribui honrarias aos melhores atletas do ano e que ocorre desde o final dos anos 1990. Por ora, a edição de 2017 está cancelada.

    Editoria de Arte/Folhapress
    Medalhas
    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024