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    Corrupção no futebol

    Empresário argentino diz que pagou US$ 2,7 mi em propinas a Marin

    SILAS MARTÍ
    DE NOVA YORK

    16/11/2017 14h49

    O empresário argentina Alejandro Burzaco afirmou ter pago US$ 2,7 milhões (R$ 8,8 milhões de reais em valores atuais) em propinas a José Maria Marin, ex-presidente da CBF. Preso nos EUA, o sócio do grupo de marketing esportivo Torneos y Competencias, da Argentina, diz que o acerto com o cartola brasileiro previa ainda o pagamento de US$ 6 milhões (R$ 19 milhões) a receber, caso o esquema não tivesse sido descoberto. Juán Ángel Napout, ex-chefe do futebol do Paraguai, e Manuel Burga, chefe do esporte no Peru, teriam recebido US$ 4,5 milhões e US$ 3,6 milhões em propina cada um.

    Burzaco está em prisão domiciliar há dois anos em Nova York e fechou um acordo de delação premiada com a Justiça americana, ainda aguarda a sua sentença, que pode chegar a 60 anos.

    Ele prestou depoimento nesta quarta-feira, no Tribunal do Brooklyn, nos Estados Unidos.

    Marin, o peruano Manuel Burga e o paraguaio Juan Ángel Napout são os únicos três réus entre cerca de 40 indiciados pela Justiça americana que se declaram inocentes no escândalo de corrupção -a suspeita é que eles receberam quase R$ 500 milhões em propina ao longo das últimas duas décadas.

    Marin e os demais cartolas negam que cobraram e receberam as propinas.

    Propinas de TVs
    Também durante depoimento nos EUA, Alejandro Burzaco disse que a TV Globo, a mexicana Televisa e sua empresa de marketing esportivo, Torneos y Competencias, pagaram juntas US$ 15 milhões em propina a Julio Humberto Grondona, ex-chefe do futebol argentino, pelos direitos de transmissão da Copa do Mundo de 2026 e 2030.

    O valor, que garantia direitos de TV, rádio e internet para os eventos esportivos, teria sido depositado no banco Julius Bär, sediado na Suíça.

    John Taggart/Reuters
    Alejandro Burzaco foi chefe da Toneos y Competencias SA até a sua prisão em 2015
    Alejandro Burzacofoi chefe da Toneos y Competencias SA até a sua prisão em 2015

    Essa conta era controlada pela T&T, empresa criada pelo grupo de Burzaco para fazer pagamentos com verbas ilícitas. De acordo com ele, os valores pagos eram abaixo do mercado para que pudessem ser inflados com propinas.

    Burzaco, que está em prisão domiciliar há dois anos em Nova York e fechou um acordo de delação premiada com a Justiça americana, ainda aguarda a sua sentença.

    Na corte do Brooklyn, ele chorou no início do segundo dia de depoimentos, interrompendo o julgamento. Isso foi menos de 24 horas depois do suicídio de um advogado argentino citado por ele como um dos que receberam propina no esquema -Jorge Delhon se jogou na frente de um trem em Buenos Aires.

    Procurado pela Folha, o Grupo Globo, detentor da TV Globo, manteve o mesmo posicionamento que havia passado na terça-feira (14) após ter seu nome citado em pagamento de propinas para diversos torneios internacionais.

    Em nota enviada à reportagem, o grupo afirma "veementemente" que "não pratica nem tolera qualquer pagamento de propina".

    "Após mais de dois anos de investigação [o Grupo Globo] não é parte nos processos que correm na Justiça americana", lembra a empresa no comunicado.

    O Grupo Globo afirma ainda que conduziu "amplas investigações internas" desde que o escândalo da Fifa foi revelado, em 2015. Nelas, ainda segundo o comunicado, foi apurado que o Grupo Globo "jamais realizou pagamentos que não os previstos nos contratos".

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    30 MESES DEPOIS
    O que aconteceu com os dirigentes presos na Suíça

    Jeffrey Webb
    ex-presidente da Concacaf

    > Acusado de receber propina na venda de direitos comerciais de campeonatos da Concacaf. Indiciado por conspiração para extorsão, conspiração para fraude financeira e conspiração para lavagem de dinheiro
    > Declarou-se culpado e concordou em devolver US$ 6,7 milhões
    > Já foi julgado. Sentença será anunciada em 24 de janeiro de 2018

    Eduardo Li
    ex-presidente da federação da Costa Rica

    > Acusado de receber propina na venda de direitos comerciais das eliminatórias da Copa. Indiciado por conspiração para extorsão, fraude financeira e conspiração para fraude financeira
    > Declarou-se culpado e devolveu US$ 668 mil
    > Já foi julgado. Data de anúncio da sentença será definida

    Eugenio Figueredo
    ex-presidente da Conmebol

    > Foi acusado pela Justiça americana de receber propina na venda de direitos da Copa América. Indiciado por conspiração para extorsão, fraude financeira, e lavagem de dinheiro, aquisição ilícita de naturalização e auxílio na elaboração fraude fiscal
    > Fez acordo de delação com a Justiça uruguaia e foi extraditado para o país. Ficou detido até abril de 2016, hoje aguarda julgamento em prisão domiciliar

    Rafael Esquivel
    ex-presidente da federação da Venezuela

    > Acusado de receber propina na venda de direitos comerciais da Copa América. Indiciado por conspiração para extorsão, fraude financeira e lavagem de dinheiro
    > Declarou-se culpado e concordou em devolver US$ 16 milhões
    > Já foi julgado. Data de anuncio da sentença ainda será definida pela Justiça americana

    Julio Rocha
    ex-presidente da federação da Nicarágua

    > Acusado de levar propina na venda de direitos comerciais das eliminatórias da Copa do Mundo. Indiciado por conspiração para extorção e conspiração para fraude financeira
    > Declarou-se culpado e concordou em devolver US$ 292 mil
    > Já julgado. Data de anúncio da sentença será definida

    Costas Takkas
    ex-assessor da presidência da Concacaf

    > Acusado de ter facilitado pagamento de propina para Jeffrey Webb na venda de direitos comerciais das eliminatórias da Copa do Mundo. Indiciado por conspiração para lavagem de dinheiro
    > Declarou-se culpado
    > Foi condenado na última terça (31) a 15 meses de prisão

    José Maria Marin
    ex-presidente da CBF

    > Acusado de receber propina na venda de direitos comerciais da Copa América, Libertadores e da Copa do Brasil. Indiciado por conspiração para extorsão, conspiração para fraude financeira e conspiração para lavagem de dinheiro
    > Declarou-se inocente
    > Julgamento começa nesta segunda (6)

    Também se declararam inocentes de todas as acusações:

    Manuel Burga
    ex-presidente da federação peruana

    > Acusado de receber propina na venda de direitos comerciais da Libertadores, Copa América e outros torneios da Conmebol. Indiciado por conspiração para extorsão, fraude financeira e lavagem de dinheiro
    > Declarou-se inocente
    > Julgamento começa nesta segunda (6)

    Juan Ángel Napout
    ex-presidente da Conmebol

    > Acusado de receber propina na venda de direitos comerciais da Libertadores, Copa América e outros torneios da Conmebol. Foi indiciado por conspiração para extorsão, conspiração para fraude financeira e conspiração para lavagem de dinheiro
    > Declarou-se inocente
    > Julgamento começa nesta segunda (6)

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    LINHA DO TEMPO
    Caso Marin

    27.mai.2015
    Operação conjunta de autoridades dos EUA e da Suíça prende Marin em Zurique, antes de congresso da Fifa. Ele e dez acusados de corrupção são banidos pela federação

    3.nov.2015
    Após cinco meses de cárcere na Suíça, Marin é extraditado para os EUA. Em Nova York, Justiça determina o valor da fiança (US$ 15 milhões) e ele passa a cumprir prisão domiciliar na cidade

    Brendan McDermid/Reuters
    O ex-presidente da CBF José Maria Marin chega aos EUA após ser extraditado
    O ex-presidente da CBF José Maria Marin chega aos EUA após ser extraditado

    3.dez.2015
    O presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, e o ex-presidente da entidade, Ricardo Teixeira, são indiciados pela Justiça dos EUA, acusados de corrupção

    26.abr.2016
    Justiça dos EUA autoriza Marin a sair de casa para passeios de até quatro horas, um dia na semana. Antes, só podia sair seguido de segurança para se encontrar com advogados, participar de audiências, ir ao mercado ou à igreja

    Camila Svenson/Folhapress
    José Maria Marin, que cumpre prisão domiciliar em Nova York, vai à missana St. Patrick's Cathedral
    José Maria Marin, que cumpre prisão domiciliar em Nova York, vai à missana St. Patrick's Cathedral

    3.nov.2016
    Marin é autorizado a sair de casa até sete vezes por semana, num raio de 3,2 km

    21.fev.2017
    Cartola tem recurso recusado pela Justiça dos EUA. Ele tentava anular a acusação de formação de quadrilha

    18.out.2017
    Pamela K. Chen, juíza do caso nos EUA, aceita pedido da procuradoria, que solicitou proteção ao júri que julgará a denúncia contra Marin. Membros não terão nomes divulgados e ficarão isolados durante o julgamento

    Segunda (6)
    Começa o julgamento de Marin. Primeira fase será de seleção dos jurados. Doze pessoas serão selecionadas em conjunto pela defesa e pela acusação em uma lista de quase 200

    13.nov.2017
    Após seleção dos jurados, serão ouvidas as testemunhas de defesa e acusação

    Dez.2017
    Começa fase de análise das provas

    Jan.2018 a mar.2018
    Data prevista para a divulgação da sentença

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