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    Dona da Crefisa rompe com Mustafá e admite plano para presidir Palmeiras

    EDUARDO GERAQUE
    DE SÃO PAULO

    28/11/2017 02h00

    Daqui a cinco anos, Leila Pereira, 52, quer mudar de função. De patrocinadora para presidente do Palmeiras.

    À frente da Crefisa, que investiu mais de R$ 100 milhões na equipe neste ano, a conselheira eleita em 2017 admite que planeja concorrer ao cargo máximo do clube quando o estatuto permitir, o que deve ocorrer em 2022.

    A empresária tenta se desligar da imagem do ex-presidente Mustafá Contursi, seu antigo aliado. Ela afirma que cortou relações com o cartola.

    "Mustafá me decepcionou muito", disse à Folha.

    Os dois romperam após a revelação de que ingressos dados pela empresária para Mustafá eram vendidos. O caso foi divulgado pela ESPN.

    Foi o ex-presidente quem garantiu a permissão para a empresária ser eleita conselheira em 2017, o que lhe abre possibilidade para concorrer à presidência daqui a cinco anos. Sem registros de documentos do clube de que ela era sócia desde 1996, exigência para disputar o pleito, Mustafá redigiu uma carta em 2016 na qual afirmou que a admissão ocorreu no prazo, quando ele era presidente.

    *

    Folha - Como está a relação da senhora com o ex-presidente Mustafá Contursi após o episódio da venda dos ingressos?
    Leila Pereira - Não tenho mais relacionamento com ele. Mustafá me decepcionou muito. Era uma pessoa por quem tinha muito respeito. Não merecia aquele episódio, o patrocinador não merecia. Se algumas pessoas dentro do clube acham normal a venda dos bilhetes que eram repassados gratuitamente para eles, eu não acho. Eram 70 ingressos por jogo que ele me pedia, dizendo que seriam distribuídos para conselheiros e sócios. Eles são uma contrapartida pelo contrato de patrocínio.

    Não havia desconfiança até o caso chegar à direção?
    Havia. Sou muito acessível. No estádio, converso com os torcedores. As pessoas vinham até mim dizendo que queriam comprar ingressos. Mas eu respondia que só os dava para associados e conselheiros. Cortei completamente a relação com o Mustafá. Não nos falamos mais. Vou até o fim com isso, as pessoas culpadas devem ser punidas. Sei quem são, mas quero que a Justiça diga. Por causa desse tipo de fato é que as empresas não investem em futebol. Sou uma vítima. Fiquei chocada.

    Por que a senhora dava ingressos sabendo que seriam repassados para associados e conselheiros? Não temia que isso configurasse compra de votos, para alguém que está na política do clube?
    Não, os ingressos são distribuídos principalmente para parceiros da Crefisa e da FAM, seguidores das redes sociais do grupo e para associados que acabam pedindo. Não há nenhuma contrapartida. São dados com satisfação.

    A senhora sonha em ser presidente do Palmeiras?
    De onde você tirou que é sonho? O meu sonho é ver o Palmeiras conquistando vários títulos. Eu sou conselheira, que era um sonho muito grande que eu tinha. Comecei a ser patrocinadora e vi como a gente era muito chamado no Palmeiras para colaborar. Foi quando percebi que poderia ajudar não apenas financeiramente, mas colaborar também com a minha experiência de vida. Sou presidente da maior financeira independente do Brasil, sou presidente de uma grande faculdade e acredito no profissionalismo.

    Quer ser presidente?
    Quando puder concorrer à presidência [a partir de abril de 2021, depois de cumprir um mandato como conselheira], vou concorrer. Os sócios vão decidir. Vou poder fazer muito mais coisas pelo Palmeiras. Apesar de que como conselheira também posso fazer bastante, apoiando o presidente. Me sinto muito confortável em investir. O clube está sendo bem administrado.

    Em qual presidente do Palmeiras a senhora se inspiraria?
    Me inspiro naquele que é um grande presidente e pode fazer muito pelo Palmeiras, o Maurício Galiotte. As pessoas, quando lerem isso, vão dizer que o Maurício não ganhou nada no primeiro ano. Mas estamos apenas no primeiro ano, gente. Calma. Estou certa que o Maurício vai ser o melhor presidente que o Palmeiras teve nos últimos tempos. Os títulos, e nós queremos muito como toda a torcida, virão.

    Se aqui no Brasil fosse como na Europa, onde os clubes podem ser comprados, a Crefisa compraria o Palmeiras?
    Falando de forma hipotética, porque no Palmeiras essa possibilidade de o clube ser vendido nunca vai existir, eu compraria um clube da grandeza do Palmeiras se tivesse a oportunidade.

    E investiria em outro clube que não fosse o Palmeiras?
    Não. Só invisto no Palmeiras. Sou palmeirense. Se estou no clube é porque eu amo o Palmeiras. Quero investir na minha carreira política no Palmeiras. Posso contribuir cada vez mais com o ele.

    Incomodou a senhora ver o Corinthians campeão brasileiro com um investimento muito menor?
    Se o rival foi campeão é porque ele teve capacidade para isso. Não me incomodou. O que incomoda foi que fizemos tudo. O presidente do clube, o diretor de futebol e os patrocinadores, a Crefisa e a Faculdade das Américas fizeram tudo para ter um ano bem melhor do que nós tivemos. Nós estamos no Palmeiras para fazer dele o maior time da América do Sul. Isso está perto de ocorrer.

    O que faltou para que os resultados fossem melhores nesta temporada de 2017?
    Penso nisso diariamente. Converso com o Maurício, com o Alexandre [Mattos, diretor de futebol]. É fácil a gente analisar agora que passou. Na época das decisões de quem comprar, quem seria o treinador, eram os melhores nomes que existiam. Os especialistas e a torcida afirmavam isso. Não sei o que aconteceu, é complicado dizer. Antes de ser uma patrocinadora e uma conselheira, sou uma torcedora. Você não sabe como estou chateada.

    A política do dia a dia do Palmeiras atrapalha?
    Não conheço outros clubes. Vivo muito o Palmeiras. A parte política do Palmeiras é muito complicada. O dia a dia político é muito efervescente. Mas não foi isso que atrapalhou. A beleza no futebol é essa. Seria muito fácil ser campeão apenas pegando um monte de dinheiro e colocando no time. Nem sempre o melhor elenco é o que vai sair vitorioso. Foi isso que aconteceu com o Palmeiras. Mas estou com a expectativa positiva para o ano de 2018.

    A era Crefisa vai ser mais importante do que a era Parmalat na história do clube?
    Aquela época da Parmalat [de 1992 a 2000] foi um tempo brilhante para o Palmeiras. Sonho que as pessoas lembrem da era Crefisa pelo menos como lembram daquele período. A Parmalat ficou bastante tempo, a Crefisa está há apenas três anos. Só saio do Palmeiras quando ganharmos o bicampeonato mundial. Espero que a era Crefisa, pelo menos em tempo, seja a maior.

    RAIO-X

    NOME
    Leila Pereira, 52 anos

    ORIGEM
    Nascida em Cabo Frio (RJ)

    FORMAÇÃO
    Advogada e jornalista

    ATUAÇÃO
    Presidente da Crefisa, financeira de capital fechado, e da FAM (Faculdade das Américas), fundada em 1998. É casada há 35 anos com José Roberto Lamacchia, 74, dono da Crefisa e conselheiro do Palmeiras

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