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    Corrupção no futebol

    J. Hawilla diz que Teixeira recebeu propina para seleção ter força máxima

    SILAS MARTÍ
    DE NOVA YORK

    04/12/2017 17h03 - Atualizado às 20h34

    Alexandre Rezende - 22.nov.2011/Folhapress
    J.Hawilla, dono da empresa de marketing esportivo Traffic
    J.Hawilla, dono da empresa de marketing esportivo Traffic

    Uma das testemunhas mais aguardadas a depor no julgamento do escândalo de corrupção da Fifa, o brasileiro José Hawilla, dono da empresa de marketing esportivo Traffic, revelou em Nova York que pagou propina a uma série de cartolas latino-americanos, entre eles Ricardo Teixeira, ao longo de décadas.

    O ex-presidente da CBF teria recebido pelo menos US$ 10 milhões, segundo o empresário, que chegou à Corte de Justiça do Brooklyn com dificuldade para respirar e usando um tanque de oxigênio.

    Hawilla disse que o acordo com Teixeira, que chamou de "uma das vozes e presenças mais importantes nas decisões" da Conmebol, visava garantir a que a seleção brasileira disputasse as partidas da Copa América com "os seus melhores jogadores".

    Numa gravação que fez a pedido dos promotores americanos, com quem fechou um acordo de delação premiada, Hawilla conversa com José Margulies, que realizava seus pagamentos de propinas, sobre remessas feitas a Teixeira em contas bancárias em Hong Kong e Jerusalém.

    Nessa mesma conversa, Margulies relata que Marco Antônio Teixeira, tio do cartola que atuou como secretário-geral da CBF, havia telefonado para cobrar alguns pagamentos ao sobrinho.

    Hawilla também mencionou José Maria Marin, o ex-presidente da CBF agora sendo julgado em Nova York, numa conversa com o empresário argentino Alejandro Burzaco, ex-homem forte da empresa de marketing esportivo Torneos y Competencias.

    Os dois falam sobre como Marin teria "recebido pela assinatura" de um contrato firmado com a Conmebol pelos direitos da Copa América.

    Hawilla ainda deu detalhes da origem do esquema de corrupção. Quando firmou o contrato com a Conmebol para realizar a edição de 1987 da Copa América, torneio que ele mesmo havia reformulado, o empresário disse ter pago "entre US$ 400 mil e US$ 600 mil" ao paraguaio Nicolás Leoz, então chefe da entidade que regula e comanda o futebol na América do Sul.

    Hawilla disse ter "ficado refém" de Leoz desde que concordou com o pagamento ilícito na década de 1980.

    "Ele começou a nos ameaçar. Se não pagasse, ele tiraria o contrato. Foi um erro porque abriu uma porta para o futuro, que permitiu que ele pedisse dinheiro a cada renovação de contrato", disse o empresário, falando sobre Leoz. "Eu paguei porque precisava do contrato. Isso foi um erro e me arrependo muito."

    Pagamentos a Leoz chegaram a bater a marca de US$ 1 milhão. Hawilla disse que a maior parte das transferências era para o ex-presidente da Conmebol, Ricardo Teixeira e Julio Grondona, ex-chefe do futebol argentino.

    O empresário também deu mais detalhes das negociações internas da Conmebol e do racha entre a Traffic e as empresas argentinas Torneos y Competencias e Full Play.

    Essas duas últimas entraram na disputa por direitos depois que o equilíbrio de poder dentro da Conmebol mudou com a ascensão do chamado Grupo dos Seis, que reunia cartolas de Venezuela, Colômbia, Bolívia, Peru, Paraguai e Equador. Juntos, eles ameaçaram derrubar Leoz e refazer vários contratos.

    Hawilla chamou o caso de "golpe de Estado" dentro da Conmebol e abriu então um processo contra os cartolas.

    Essa ação movida nos EUA só foi interrompida quando o brasileiro chegou a um acordo com seus parceiros argentinos, que ele disse sentirem "orgulho" de pagar propina.

    Depois de perder a queda de braço com os argentinos, Hawilla concordou em entrar com eles na sociedade de uma empresa chamada Datisa, criada para comprar direitos da Copa América e da Copa Libertadores da Conmebol. Essa firma, segundo o empresário, passou então a fazer pagamentos de propina a vários cartolas por meio de outras companhias offshore.

    Em gravações de conversas dele com Hugo Jinkis e Mariano Jinkis, pai e filho donos da Full Play, Hawilla discute como pagamentos eram feitos usando firmas de fachada em paraísos fiscais, entre elas a Bayan, criada pelos Jinkis no Panamá e que tinha uma casa vazia como sede principal.

    Hawilla disse ainda que os pagamentos de propina acabaram se tornando parte necessária dos negócios com a Conmebol, porque eram a única garantia que os torneios fossem disputados de um jeito que pudesse gerar lucro para os patrocinadores e as emissoras de televisão.

    OUTRO LADO

    Procurado pela Folha, o advogado de Ricardo Teixeira, Miguel Asseff Filho, afirmou que seu cliente só irá se manifestar após ter acesso à íntegra do depoimento.

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