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    Veto nos Jogos culmina dois anos de 'febre russa' e ajuda Putin

    NELSON DE SÁ
    DE SÃO PAULO

    11/12/2017 02h00

    Alexei Nikolsky/Associated Press
    Vladimir Putin ao lado do presidente do COI, Thomas Bach, na abertura da Olimpíada de Inverno de 2014
    Putin ao lado do presidente do COI, Thomas Bach, na abertura da Olimpíada de Inverno de 2014

    O veto à participação da Rússia nos Jogos de Inverno na Coreia do Sul culminou o cerco de dois anos que, no início, visava barrar a presença do país na Olimpíada do Rio.

    A campanha continua, agora questionando que o país sedie a Copa de 2018, mas perdeu força sem o engajamento do "New York Times", que encabeçava noticiário e opinião sobre o assunto.

    Agora se ouvem vozes periféricas, caso do jornal "The Australian", que afirmou que, "se a Fifa não fosse uma organização avessa à integridade, rescindiria os direitos da Rússia de sediar a Copa".

    A justificativa é que o organizador do torneio de futebol, o ex-ministro de esportes Vitali Mutko, foi banido pelo Comitê Olímpico Internacional dos Jogos na Coreia.

    Mas Mutko faz piada, dizendo que a vexatória seleção russa de futebol é a prova de que o doping não é generalizado —e de que a Rússia não pode sofrer "punição coletiva", quando todo um grupo paga pelo crime de indivíduos.

    GUERRA FRIA

    No dia 4, sob o título "Por que barrar a Rússia inteiramente", o "NYT" pediu abertamente a "punição coletiva", ecoando Richard Pound, membro do COI, para quem "todos na Rússia são cúmplices" e devem sofrer as consequências.

    O texto argumentava que a punição coletiva "já é aplicada noutras instâncias do esporte", por exemplo, quando atletas de revezamento perdem medalhas pelo doping de um deles.

    Pound escreveu em novembro de 2015 o relatório que iniciou a campanha, com declarações no "NYT" em que propunha o banimento do atletismo russo dos Jogos do Rio.

    Afirmou então que a Rússia mantinha a "atitude dos dias da Guerra Fria" e acusou Grigory Rodchenkov, diretor de um laboratório antidoping moscovita, de pedir e aceitar propina.

    Seis meses depois e um mês antes da Olimpíada do Rio, o russo Rodchenkov, já morando dos EUA, denunciou no "NYT" um esquema estatal de doping nos Jogos de Inverno na Rússia, em 2014.

    O COI não vetou a Rússia na Rio 2016, como cobrou o "NYT" mas foi essa denúncia que resultou agora no banimento dos Jogos na Coreia, que começam em fevereiro.

    Além do artigo pedindo "punição coletiva", o "NYT" publicou às vésperas da decisão do COI um "diário" de Rodchenkov apresentado como prova do que ele havia falado.

    FEBRE RUSSA

    O cerco à participação da Rússia em eventos esportivos avançou paralelamente à "febre russa" —como os opositores de Vladimir Putin se referem às denúncias contra o país na imprensa americana.

    Eles alertam que as acusações em série têm como efeito, na verdade, tornar o atual presidente mais popular. O próprio "NYT" acabou reconhecendo isso, em editorial intitulado "O banimento olímpico ajuda Putin e fere a Rússia".

    Em 2018, além da Copa, o país tem eleição. Putin se lançou candidato nesta semana, ao mesmo tempo em que criticava a "punição coletiva" da Rússia e autorizava seus atletas a competir individualmente na Coreia.

    A começar por uma das maiores estrelas hoje nos esportes de inverno, a patinadora artística Evgenia Medvedeva, 18, que dias atrás esteve no COI defendendo a Rússia.

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