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    Corrupção no futebol

    Procuradoria nos EUA conclui fase de acusação contra José Maria Marin

    SILAS MARTÍ
    DE NOVA YORK

    13/12/2017 17h16

    Seth Wenig/Associated Press
    Jose Maria Marin, of Brazil, right, is followed by reporters as he arrives to federal court in the Brooklyn borough of New York, Wednesday, Dec. 13, 2017. Closing arguments are set to take place in the New York trial of three former South American soccer officials charged in the bribery scandal engulfing the sport's governing body. (AP Photo/Seth Wenig) ORG XMIT: NYSW104
    O ex-presidente da CBF José Maria Marin chega à corte no Brooklyn, em Nova York, nesta quarta

    "Da boca do próprio Marin, vocês podem ouvir que ele recebeu propina."

    Kristin Mace, a procuradora americana que abriu as considerações finais do julgamento do escândalo de corrupção da Fifa, lembrou a gravação de uma conversa do ex-presidente da CBF com o empresário J. Hawilla como prova cabal dos crimes de que o cartola é acusado em Nova York.

    José Maria Marin, um dos réus do caso que ainda se declaram inocentes, é suspeito de cometer sete crimes, entre eles corrupção, lavagem de dinheiro e crimes financeiros em relação a contratos da Copa América, da Copa Libertadores e da Copa do Brasil ao longo dos últimos cinco anos.

    Na reta final do julgamento, procuradores apontaram a Fifa como maior vítima do esquema e relembraram a conversa do cartola com o dono da Traffic, detalhes de e-mails e planilhas de pagamentos secretos de um executivo da Torneos y Competencias, a firma argentina de marketing esportivo no centro do esquema, além de extratos bancários de Marin.

    Ele teria movimentado até US$ 200 mil por mês de uma conta do banco nova-iorquino Morgan Stanley no nome da Firelli, uma empresa de sua propriedade, para fazer compras em lojas de luxo em Nova York, Paris e Las Vegas -ele deixou, por exemplo, US$ 50 mil na Bulgari, US$ 28 mil na Dior, US$ 22 mil na Valentino, entre outros gastos.

    Muitos desses mimos de grife tinham sua mulher, Neusa, como provável destino. No dia das considerações finais do julgamento, ela foi com o marido até o tribunal.

    Desde o início do julgamento, no entanto, ela preferiu não ver os relatos das testemunhas e ficou no apartamento do casal na Trump Tower, torre de luxo em Manhattan onde Marin cumpre prisão domiciliar há dois anos.

    Segundo a Justiça americana, o ex-presidente da CBF recebeu no total US$ 6,55 milhões em propina desde que assumiu o comando do órgão, em 2012, quando entrou no lugar de Ricardo Teixeira, cartola "expulso do futebol em meio a escândalos", nas palavras da procuradora.

    Na gravação lembrada por Mace, Marin diz a J. Hawilla que "já está na hora disso chegar pro nosso lado". Ele fala sobre pagamentos de propina que Teixeira ainda recebia pela Copa do Brasil, mas reclamava que só ele e Marco Polo Del Nero, então representante do Brasil na Fifa e na Conmebol, deveriam estar recebendo os valores.

    áudio

    Mace ainda deu detalhes de como o dinheiro pago por empresas de marketing esportivo, entre elas Traffic, Torneos, Full Play e Klefer, chegava às mãos de Marin por meio de transferências a empresas de fachada criadas por Wagner Abrahão, dono da agência de viagens Stella Barros que também prestava serviços de logística para a CBF.

    Na mesma conversa em que foi flagrado discutindo propina com Hawilla, Marin diz ter "enfrentado a Fifa sozinho" em defesa de Abrahão, o que, segundo os procuradores, deixa bem claro o seu vínculo com esse empresário.

    Duas firmas no nome de Abrahão, a Support Travel e a Expertise, recebiam transferências de offshores das firmas de marketing e repassavam esses valores à conta da Firelli, a empresa de Marin sediada nos Estados Unidos.

    Em julho de 2013, por exemplo, uma remessa de US$ 3 milhões partiu da Support para a Firelli. Outros três pagamentos, cada um no valor de US$ 500 mil, foram transferidos da Expertise à firma de fachada do cartola.

    "O caminho do dinheiro até Marin era complicado", disse Mace aos jurados na Corte de Justiça do Brooklyn. "Mas essa era mesmo a ideia. É uma forma de esconder e disfarçar o dinheiro ilícito."

    Os 12 jurados, que não tiveram os nomes divulgados e não podem falar sobre o caso, devem chegar a um veredicto por unanimidade. Eles começam a deliberar sobre o destino de Marin e outros dois réus, o paraguaio Juan Angel Napout e o peruano Manuel Burga, no fim desta semana.

    A defesa de José Maria Marin afirma que só se pronunciará após a conclusão do julgamento nos EUA. O empresário Wagner Abrahão não foi encontrado pela Folha até o fechamento desta edição.

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