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    Disney se torna dona de ESPN, FOX e outras 22 redes esportivas nos EUA

    ZACH SCHONBRUN
    DO "NEW YORK TIMES"

    17/12/2017 02h00

    Evan Agostini/Invision/AP
    Robert Iger, atual presidente-executivo da Disney
    Robert Iger, atual presidente-executivo da Disney

    Robert Iger, presidente-executivo da Disney, acordou na sexta (15) como a pessoa mais poderosa no esporte dos Estados Unidos, no controle de uma imensa carteira de direitos de transmissão de futebol americano (NFL), basquete (NBA), grandes torneios de tênis, futebol americano universitário, e jogos de mais de 40 dos grandes times norte-americanos de diversas modalidades esportivas.

    Ninguém até hoje controlou tamanha gama de contratos de transmissão de esportes ao mesmo tempo. Mas essa carteira, expandida pela transação na qual a Disney adquiriu a maior parte dos ativos da 21st Century Fox, não necessariamente causará inveja aos demais magnatas da mídia esportiva.

    A Disney comprou 22 redes regionais de esportes da 21st Century Fox, avaliadas em cerca de US$ 20 bilhões. Mas a viabilidade delas em longo prazo é questionável, dada a mudança rápida nos hábitos de consumo de mídia dos espectadores e o desordenamento em curso no mercado de TV paga. As redes regionais dão a Iger um imenso reino na mídia esportiva, mas muitas delas são em geral vistas como indesejáveis.

    "As redes de esportes regionais [RSNs] são a 1ª coisa de que as pessoas querem se livrar, porque são caras", disse Joel Lulla, veterano consultor do setor de esportes e professor de mídia esportiva na Universidade do Texas.

    "Quando o pacote [de TV paga] se desfizer de vez, quantas pessoas estarão realmente dispostas a pagar aquele valor por RSNs?"

    O acordo confere o controle de redes de todo o país ao grupo ESPN da Disney, que não para de se expandir. Mas não está claro que acesso a Disney ganhará aos direitos de transmissão de jogos das 44 equipes profissionais naqueles mercados locais.

    Cada uma das redes regionais - entre as quais a YES Network, que transmite as partidas do New York Yankees - tem uma série de contratos complicados com os times e com distribuidores de TV paga, o que limita a maneira pela qual os proprietários dessas redes podem explorar os direitos em questão. Os contratos muitas vezes dificultam especialmente a compra de acesso ao conteúdo por pessoas que não tenham pacotes de TV a cabo.

    A Fox reteve o controle de suas duas redes esportivas nacionais, Fox Sports 1 e Fox Sports 2, bem como da Big Ten Network. A Disney pode também confirmar a aquisição da Sky, pela qual a Fox fez uma oferta de US$ 15 bilhões. A Fox no momento detém 39,1% da operadora de TV paga, cuja principal propriedade esportiva são os direitos de transmissão do futebol inglês. Mas a NBC Universal controla os direitos de transmissão do torneio em língua inglesa no mercado dos Estados Unidos.

    COMPLEMENTO

    Iger declarou na quinta (14) que considerava as redes regionais como mais que um acessório no pacote de ativos adquiridos, que inclui o estúdio de cinema 20th Century Fox, a rede de TV a cabo FX e a parcela da Fox no serviço de streaming Hulu.

    "As redes regionais devem ser vistas como complemento para a ESPN e não como algo que se sobrepõe a ela", disse Iger à CNBC.

    Talvez, mas nos últimos anos os executivos da Fox Sports andavam frustrados por a complexidade dos contratos das redes regionais os impedir de exibir mais jogos ao vivo na rede nacional de esportes na Fox Sports 1.

    As redes de esportes regionais sabem que os torcedores mais leais se dispõem a pagar os custos de TV a cabo que lhes permitem manter o acesso às transmissões dos jogos de seus times em casa. Mas os hábitos televisivos estão mudando rapidamente. Alguns torcedores parecem dispostos a abrir mão do acesso aos jogos das equipes em casa, para pagar menos.

    A base de assinantes da ESPN também encolheu, de 100 milhões em 2010 a 88 milhões atualmente, e a empresa vem tentando encontrar maneiras de combater o abandono dos pacotes de TV paga pelos assinantes. A companhia arca com o peso de caríssimos contratos de transmissão, de duração longa, para veicular os jogos de federações como a NFL. Muitas das redes regionais também têm contratos caros para transmitir partidas.

    A Fox Sports Southwest está no meio de um contrato de 20 anos e valor reportado em US$ 3 bilhões para transmitir os jogos de beisebol do Texas Rangers. Os índices de audiência dos jogos de duas das equipes mais importantes de seu acervo, o San Antonio Spurs e o Dallas Maverics, da NBA, caíram em respectivamente 34% e 47%.

    A Disney parece disposta a ignorar esse aspecto a fim de conquistar presença local maior. Alguns dos canais regionais locais são lucrativos, como o YES, vendido para a Fox por US$ 3,9 bilhões em 2014. Em 2016, um estudo da Nielsen constatou que as redes regionais de esportes de certos mercados, como Detroit ou St. Louis, eram mais importantes para os telespectadores locais do que marcas nacionais como ESPN e HBO.

    "Mesmo se levarmos em conta as pessoas que estão abandonando a TV paga, eles ainda ganham 85 milhões de assinantes", disse Lee Berke, consultor que coescreveu o plano de negócios original da YES Network. "É montante considerável de receita que você não pode abandonar".

    A esperança da Disney é que um novo serviço de streaming, o ESPN Plus, consiga recapturar espectadores que fugiram dos preços salgados dos pacotes de cabo. Como fonte adicional de conteúdo, os jogos das redes regionais podem vir a ser exibidos na ESPN caso os contratos sejam reformados e surja acordo quanto a preços, o que reduziria a dependência a canais de cabo nos mercados locais.

    "Não está claro como conduzirão a integração", disse Lulla. Outros afirmam que apostar contra Iger é receita para perder.

    "Bob Iger é o mais inteligente e efetivo líder na mídia", disse Ted Shaker, consultor. "Se ele vê alguma coisa lá, acho que provavelmente existe alguma coisa".

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