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    Livros expõem argumentos a favor de Sport e Flamengo por Brasileiro de 87

    NAIEF HADDAD
    DE SÃO PAULO

    25/12/2017 02h00

    Há 30 anos, existe uma cisão de rubro-negros no futebol brasileiro.

    Em meio a argumentos de ordem esportiva e, principalmente, jurídica, os flamenguistas dizem que o time carioca foi o campeão brasileiro de 1987 enquanto os torcedores do Sport afirmam que o título é do clube de Recife.

    Neste ano, a discussão reacendeu em alta voltagem com julgamentos no STF (Supremo Tribunal Federal).

    Em abril, a corte negou o recurso do Flamengo contra a decisão que havia assegurado ao Sport o direito de ser o único campeão de 1987. Os advogados do time carioca apresentaram novo recurso.

    No início de dezembro,a equipe pernambucana foi confirmada pelo STF como a única vencedora.

    Com o quinto título do Brasileiro conquistado em 2007, o São Paulo passou a brigar pela posse da Taça das Bolinhas, criada pela Caixa Econômica Federal para ser entregue ao clube que fosse campeão brasileiro cinco vezes ou três vezes consecutiva. O Flamengo afirmava ser merecedor pelas conquistas de 1980, 1982, 1983, 1987 e 1992, embora o de 1987 não fosse reconhecido pela CBF.

    Em meio a esses recentes embates jurídicos, chegaram às lojas dois livros sobre o mais controverso Campeonato Brasileiro da história.

    André Gallindo e Cassio Zirpoli lançaram "1987 - De Fato, de Direito e de Cabeça". Para esses jornalistas, não há dúvida: o Sport é o campeão nacional daquele ano.

    Já o diplomata Pablo Duarte Cardoso publicou "1987 - A História Definitiva", que aponta o Flamengo como único detentor da taça nacional.

    Gazeta Press
    Leonardo com troféu do Flamengo no Maracanã, em 1987
    Leonardo com troféu do Flamengo no Maracanã, em 1987

    FLASHBACK

    Todo o imbróglio começou, efetivamente, com o anúncio do então presidente da CBF, Octávio Pinto Guimarães, de que não iria organizar o Campeonato Brasileiro por falta de dinheiro.

    Foi a deixa para que os times mais populares do país se unissem em um grupo que ficou conhecido como Clube dos 13. Botaram de pé uma competição com 16 equipes, batizada de Copa União.

    Não demorou, porém, para que a CBF voltasse atrás e decidisse intervir no campeonato. Rachaduras iniciais no Clube dos 13 facilitaram o recuo da confederação.

    Até esse ponto, os livros contam histórias semelhantes. A partir daí, contudo, as diferenças prevalecem.

    Diário de Pernambuco
    Estevam Soares levanta taça do Sport no campeonato de 1987
    Estevam Soares levanta taça do Sport no campeonato de 1987

    ANTES OU DURANTE?

    Um ponto central na discussão é a data da reunião que determinou o cruzamento dos dois finalistas da Copa União, rebatizada como Módulo Verde, e os dois primeiros colocados do Módulo Amarelo.

    Esse encontro contou com representantes da CBF e do Clube dos 13.

    Para quem não se lembra, Flamengo e Internacional, campeão e vice do Verde, negaram-se a enfrentar Sport e Guarani, líderes do Amarelo.

    O autor flamenguista levanta suspeitas de que a reunião sobre o regulamento ocorreu após o início do Brasileiro. Uma mudança assim, realizada com o torneio em andamento, indicaria uma "virada de mesa".

    Já os jornalistas pró-Sport asseguram que a regra foi alterada antes do começo da competição. "Trata-se de um erro repetido ao longo de décadas", escrevem.

    Autores dos dois lados ouviram o vascaíno Eurico Miranda, único representante do Clube dos 13 nessa reunião. Em ambos os livros, ele diz que assinou a favor do quadrangular final.

    Outro episódio que envolve versões divergentes aconteceu dez anos depois.

    Em 1997, o Clube dos 13 se reuniu para, entre outros pontos, avaliar o ingresso do Sport no grupo. Nessa ocasião, o então presidente do Flamengo, Kleber Leite, condicionou o seu voto à aceitação pelo clube pernambucano de que ambos os times eram campeões de 1987.

    A entrada do Sport no Clube dos 13 só ocorreria com unanimidade dos votos.

    Apesar deste trecho da ata ser ambíguo, Cardoso, autor da obra que sustenta o Flamengo como único campeão, indica que o presidente do Sport aceitou a condição do Flamengo. Gallindo e Zirpoli dizem que não houve acordo.

    Confrontados esses e outros aspectos, os argumentos do livro pró-Sport se revelam mais sólidos. Além disso, a sequência de acontecimentos é exposta com mais clareza e objetividade.

    Trocando em miúdos, o Flamengo era a melhor equipe do futebol brasileiro na temporada 1987. Mas não existe campeão moral.

    Como explicam Gallindo e Zirpoli, o caminho até o título foi trilhado, de fato, pelo Sport, oficialmente o vencedor do torneio.

    'VULGARES DILETANTES'

    O autor flamenguista faz boa radiografia dos campeonatos nacionais que precederam a Copa União e, nos capítulos finais, do declínio do Clube dos 13.

    Mas Cardoso usa um procedimento frágil, que é desqualificar as várias instâncias jurídicas que deram ganho de causa ao Sport.

    "As partidas entre Sport e Guarani [quadrangular] não passaram de simples amistosos [...] se os juízes consultados não fossem vulgares diletantes em matéria de direito esportivo", escreve.

    O livro dele também perde muito com o desprezo e o deboche com que trata o Sport e os seus torcedores.

    O autor exalta Zico, estrela máxima do Flamengo de 1987, mas os comentários presunçosos ao longo do livro não fazem jus à conduta nobre do Galinho, dentro e fora de campo.

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