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    Bruno, 11, faz 'competição' entre Shakeaspeare e Goethe; quem vence?

    DE SÃO PAULO

    26/04/2014 00h01

    Bruno Napoleão do Amarante Medeiros, 11, que se ofereceu para fazer resenhas de livros para a "Folhinha", topou o desafio de ler Shakespeare pela primeira vez.

    Escolheu "Sonho de uma Noite de Verão". Diferentemente da maioria da obra do autor, essa história não é uma tragédia e está mais para comédia.

    Bruno optou por ler o texto original, em inglês. Escrito há mais de 400 anos, tem palavras que hoje nem são mais usadas. "Parei de ler. Senti uma grande dificuldade. Meus pais e avós me explicaram que é assim mesmo. Até eles acham difícil. Minha mãe sugeriu que eu lesse uma versão adaptada da obra."

    Mas o garoto diz ter gostado do escritor. "Nota nove. Só os diálogos que são confusos para os padrões atuais."

    Leia resenha de Bruno.

    *

    Shakespeare: uma experiência

    Dia 1

    Comecei a ler o livro "Sonho de uma Noite de Verão". Ganhei uma versão em inglês ontem, e comecei a ler esta versão também.

    Dia 2

    Fiquei com dificuldade em um trecho do livro, logo no começo. Isso demonstra o quão Shakespeare é difícil. Eu expliquei para os meu pais e avós, e eles me disseram o por que. Até os meus pais sentem certa dificuldade.

    Dia 3

    O livro começa a falar a minha língua: comédia. Tem uma peça ridícula que não está dando nem um pouquinho certo, que está começando, mas continua sendo bem engraçada. Só quero ver como isso acaba.

    Dia 4

    Quase uma semana de Shakespeare. Bem, vamos aos fatos: Shakespeare começou a ser engraçado, mas ele só tentou. O tal de Puck fica xingando os outros de forma cômica acho que, pelos padrões de hoje, ninguém ia rir deste humor meio "sofisticado"), mas eu não ri.

    Nota: Parei de ler a versão original. Bem, não é nada disso que você aí em casa está pensando, não... o fato é que eu senti uma grande dificuldade em ler isso em poucas horas. O livro é meio chato, sinceramente.

    Depois da minha tentativa de ler o original, minha mãe me sugeriu ler o adaptado por Charles e Mary Lamb. Eles são do século 19, então, você não está esperando aquela adaptação que, digamos que seja "meia boca" que você já deve ter lido no seu colégio. Eu já li a primeira adaptação desses irmãos no livro, "A Tempestade".

    O primeiro, adaptado, é bem confuso (vou tentar esse também), mas essa adaptação de "Sonho de uma noite de Verão" é ótima. Apesar de ter diálogos confusos para os padrões atuais, a adaptação é bem clara (mesmo) e dá para saber tudo que acontece perfeitamente. A adaptação é curta, e qualquer desocupado por aí pode ler isso (se você for viciado em leitura, isso é ótimo), e temos aqui o humor de Shakespeare, que permaneceu na adaptação.

    Nota: 9. Uma adaptação boa, excelente para pessoas desocupadas e sem nada para fazer, e os "bookworms" (viciados em livros) vão adorar. Só tirei um pontinho justamente por que... bem, nenhuma pessoa normal falaria coisas tão formais e gigantescamente gigantes como vistas aqui. Mas, vamos ter que aguentar, afinal, isto era apenas o século 19.

    Goethe x Shakespeare: uma batalha literária

    Atenção: Goethe não é difícil, são os tradutores que traduzem formalmente demais. Continue lendo! Estou aprendendo alemão e a professora nos entregou original. Eu entendi, pelo menos. O resto dos alunos também.

    O livro de Goethe é "Faust".

    Bem, Goethe é um Shakespeare alemão. Ele é triste, deprimente, e talvez chatinho de ler. Shakespeare é exatamente aquilo que eu acabei de falar. Porém, vamos aos detalhes: Shakespeare faz trabalhos tristes que quase nunca acabam bem (Romeu e Julieta, por exemplo). Raramente, um acaba bem, tendo aquele final feliz que o Walt Disney deve ter te ensinado.

    Goethe (estou falando do que eu li, pais enfurecidos) é triste! Fantasmas que contam a verdade, demônios que só estão querendo almas (eu não entendo isso), e idiotas que querem ser o Einstein, ou até melhor que ele. Um ponto para Shakespeare.

    Shakespeare tem personagens inteligentes e burros para caramba. 90% burros (incomodar a peça "Romeu e Julieta" é meu passatempo favorito).

    Goethe tem 99% de personagens inteligentes e 1% de personagens babacas completos. Goethe ganha um ponto.

    Shakespeare escreve formalmente demais, o que é um problema, porque se torna menos acessível.

    Goethe escreve 50% formalmente e 50% facilmente, e bem, é a pura verdade. Em alemão, Goethe é mais fácil do que aparenta ser. Um ponto para o alemão.

    Vencedor: Goethe (você já sabe o motivo).

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