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    Leia entrevista com autor e ilustradora de 'Rita Distraída' e 'Júlia e Coió'

    THAÍS FONSECA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    26/04/2014 00h01

    Você está ali, sentado no banco da bicicleta, pedalando, sentindo o vento bater no rosto e vendo a paisagem ficar para trás. E os pensamentos vão para longe, bem longe...

    "Rita Distraída" (SM), livro do jornalista Armando Antenore e ilustrado pela chef de cozinha Rita Taraborelli, explora momentos de distração: a personagem anda sobre duas rodas, mas sua cabeça parece estar voando em um balão. O escritor conta que a história é uma homenagem à própria Rita (sua amiga, que curte o "mundo da lua") e aos distraídos de plantão. "Distrair-se faz muito bem. Quem está sempre atento nunca é surpreendido por nada, sobretudo pelas boas ideias", diz Antenore.

    Outro livro escrito e ilustrado pela dupla é "Júlia e Coió" (SM). Neste caso, a protagonista é persistente e não se distrai do seu objetivo: convencer Coió, um rapaz comum (e verde!), a beijá-la. O texto, cheio de rimas, mostra um impasse. Coió duvida da seriedade da proposta – ele acha Júlia digna de um príncipe, muita areia pro caminhãozinho dele. E Júlia faz juras de amor para ganhar o beijo do amado.

    As duas histórias são leves, divertidas e recheadas de figuras de comida (lembrando que a Rita, além de ilustradora, é chef de cozinha...).

    Leia os principais entrevista.

    *

    Como surgiu a ideia de "Rita Distraída"?
    Armando Antenore - Comecei a pensar em mulheres que conheci ao longo da vida –amigas, colegas de trabalho, namoradas– e as imaginei crianças. Daí escrevi historinhas inspiradas em cada uma delas, como se fossem meninas. Duas histórias já viraram livros. Outras duas devem virar em breve. E ainda há mais algumas dessa série guardadas em casa. A primeira moça para quem escrevi uma história foi justamente a Rita Taraborelli, que naquela época ainda não ilustrava livros, mas já era bem distraída. Daí a historinha dela se chamar "Rita Distraída".

    O livro é uma homenagem aos distraídos? Vocês acham que faz bem se distrair de vez em quando?
    Armando - Sim, é uma homenagem. Distrair-se faz muito bem. Quem está sempre atento nunca é surpreendido por nada, sobretudo pelas boas ideias. Não à toa, o poeta Paulo Leminski escreveu um livro que se chama "Distraídos Venceremos". Ele também achava que a distração pode ser uma ótima aliada da criação.
    Rita Taraborelli - Ah, eu acho que sim! Quem não se distrai tem que assistir a novela para se distrair!

    O que faz vocês se distraírem?
    Armando - O ócio. Quando não tenho nada para fazer –nenhuma obrigação profissional, nenhuma tarefa doméstica, nenhum compromisso com amigos ou parentes–, permito que meus pensamentos voem sem rédeas. É muito agradável.
    Rita - Muitas coisas, quase tudo é automático, sistemático e cotidiano. Preciso sempre desenvolver coisas diferentes ou que use novas partes do cérebro para conseguir estar presente e focar.

    Para que universo vocês geralmente vão quando se distraem?
    Armando - Não sei exatamente. Quando me distraio, fico tão aéreo que nem me dou conta de onde estou.
    Rita - Vários. Eles se interligam, inclusive. O universo da mente é o mais fabuloso, cabe todos dentro dele. Já o universo da alma é tão livre que precisa de um corpo para ganhar forma.

    Em "Júlia e Coió", por que Coió resiste tanto em beijar Júlia? Ele parece gostar dela...
    Armando - Por ser muito tímido e inseguro, Coió não acredita que alguém tão bacana quanto a Júlia possa gostar dele. Uma besteira, né? Mas a timidez e a insegurança fazem isso com a gente: não nos deixam perceber as nossas qualidades.

    Júlia aparece com um doce na mão para convencer Coió a beijá-la. Vocês já usaram essa tática culinária para convencer alguém? Funciona?
    Armando - Já usei e não funcionou... É que a moça estava de dieta. Com a Júlia funcionou porque o Coió não tem tendência a engordar.
    Rita - Já! Funciona!

    Por que Coió é verde e Júlia não?
    Armando - Simples: porque homens são diferentes de mulheres.
    Rita - Porque ele é Coió, antes de começar o livro fiquei matutando que raios era um Coió. Cheguei a conclusão que Coió é um Coió oras, achei o psicológico dele como um príncipe invertido, quase um sapo, aí cheguei no verde.

    Armando, como você resolveu virar escritor?
    Não me julgo propriamente um escritor. Sou mais um jornalista que, muito de vez em quando, faz livros para crianças. De qualquer modo, escrever não deixa de ser o meu ofício. É uma atividade que pratico desde bem cedo.

    Então você gostava de escrever na infância?
    Com 7 ou 8 anos, já escrevia histórias de ficção ou baseadas em acontecimentos reais e as dava para meu pai ler quando ele retornava do trabalho, à noite. Não sei explicar por que manifestei esse interesse tão precocemente. Pertenço a uma família de comerciantes e artesãos. Ninguém ao meu redor tinha o hábito de escrever nem lia com assiduidade. Mesmo assim, minha atenção logo se voltou para os livros e para os jornais.

    Curioso que, na infância, eu costumava enviar textos para a "Folhinha" na esperança de que os publicassem. Só que eu achava que, se decidisse publicá-los, o jornal me avisaria antes. Por isso, depois de botar os textos no correio, eu ficava no portão de casa à espera do carteiro e de uma resposta da "Folhinha". Um dia, finalmente, o jornal publicou um dos meus escritos, mas sem nenhum aviso prévio, claro.

    Para você, é fácil rimar? Que dica daria para um pequeno escritor que quer escrever rimando?
    Rimar não é tão difícil. Difícil é encontrar boas rimas –ou melhor: rimas menos óbvias, mais criativas. Para um pequeno escritor que quer escrever rimando, dou duas dicas:
    1. Escute muita música brasileira (a letra de boa parte delas lança mão de rimas). Ouvir textos rimados ajuda a gente a aprender a rimar.
    2. Consulte dicionários de rimas disponíveis na internet, como o Palavras Que Rimam (http://palavras-que-rimam.net/) e o Rhymit (http://www.rhymit.com/editor-pt.html).

    Rita, e você, gostava de desenhar na infância?
    Sim, muito. Minha mãe conta que enquanto ela pintava (ela é uma pintora impressionista) eu ficava do lado desenhando, pintando, recortando... bem quietinha e sem atrapalhar, mesmo sendo muito pequena.

    Você também é chef de cozinha. O que veio primeiro: a gastronomia ou o desenho?
    O ovo ou a galinha? Profissionalmente acho que a cozinha veio antes, mas presenciei ambos na infância.

    Você usa materiais diferentes nos dois livros (cartões, bilhetes, recortes de jornal e etc) na criação dos desenhos. Como você escolhe os materiais que vai usar em uma ilustração?
    O processo criativo é bem aleatório, não segue uma regra. Mas procuro usar elementos que conversam com o texto. Sempre fui de juntar papéis de viagem, embalagens, tickets ou coisas que não consigo jogar no lixo. Sempre foi assim, por isso tenho uma caixa grande escrito "lixo interessante". Eu juntava sem saber o porquê, mas hoje eu sei. É dali que muita coisa sai.

    Cite o material mais estranho ou diferente que você incorporou em um desenho seu e como você o encontrou.
    Acho que um papel de embrulho de uma farmácia da Sicilia, comprei algo ali e a moça embrulhou com este papel, achei lindo e guardei. Usei no livro da Lia em um momento que a personagem esta no médico, coloquei como fundo, é um livro da mesma coleção do "Rita..." e "Júlia..." e deve sair este ano.

    Que dica você daria para um pequeno artista que quer desenhar usando materiais diferentes?
    Tesoura, cola, lixos raros, tecidos e bons pigmentos (tinta, lápis de cor, aquarela). A base também é importante, se for fazer colagens use papel com alta gramatura, papel panamá, madeira... Tudo vira algo.

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