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    Ruy Castro conta para crianças como se faz uma biografia

    RUY CASTRO
    COLUNISTA DA FOLHA

    10/05/2014 00h01

    Desde garoto, sempre gostei de ler biografias.

    Sei bem que ler romances -de aventuras, terror, mistério, ciência- é uma experiência fabulosa e, ainda de calças curtas, também mergulhei neles: "Ela, a Feiticeira", "Os Três Mosqueteiros", "A Ilha do Tesouro", "Drácula", "As Aventuras de Sherlock Holmes", "A Máquina do Tempo", muitos mais. Mas as biografias são diferentes.

    O romancista não tem limites ao escrever. Pode (e deve) inventar o que quiser -o que significa que o seu personagem irá realizar as façanhas mais difíceis, heroicas e maravilhosas.

    Mas o biógrafo não tem essa liberdade. Não pode inventar nada. Tem de respeitar os fatos. Se ele se propõe a contar a vida de alguém, é obrigatório que só conte o que aconteceu.

    Então, como tornar esse personagem interessante? -perguntará você. Bem, aí é que está. De cara, o biografado já tem de ser interessante. E o biógrafo precisa se esforçar para descobrir coisas ainda mais interessantes sobre ele.

    Como descobrir essas coisas interessantes? No caso de o biografado ser um personagem da história, como Cleópatra, Da Vinci, Cristóvão Colombo, Mozart ou Picasso, que viveram há dezenas ou centenas de anos, já existe muito material sobre eles.

    Compete ao biógrafo mergulhar nesse material e tentar aprender coisas novas ou menos conhecidas. Esses grandes homens e mulheres tiveram vidas tão ricas que sempre rendem boas biografias.

    Mas, e se o biografado ainda estiver vivo ou tiver morrido há pouco? Nesse caso, o biógrafo não deve ficar em casa. Tem de sair para entrevistar o maior número possível de pessoas que conviveram com o biografado. É dessas dezenas, centenas de entrevistas que ele aprenderá tudo sobre o biografado.

    E este é o desafio: fazer com que um personagem da vida real seja tão incrível quanto um da ficção -e, para isso, usando apenas as informações.

    É o trabalho mais fascinante que pode existir. Durante algum tempo, o biógrafo se muda para dentro da vida do biografado, já pensou?

    Não sei se você sabe, mas eu sou um biógrafo. Esta é a minha profissão. E eu não queria ter nenhuma outra.

    RUY CASTRO escreveu, entre outras, a biografia do escritor Nelson Rodrigues, do jogador Garrincha e da cantora Carmen Miranda.

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