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    Leia entrevista com o diretor e o elenco da peça 'Bruxas da Escócia'

    MÔNICA RODRIGUES DA COSTA
    DA PUBLIFOLHA

    26/07/2014 00h01

    A peça "Bruxas da Escócia", que estreou no último sábado (19), no Sesc Pompeia, em São Paulo, é uma adaptação da obra "Macbeth", de Shakespeare (1564-1616), para as crianças.

    A produção é do grupo Vagalum Tum Tum, que tem no repertório outras três tragédias da autoria de Shakespeare: "O Bobo do Rei", "Othelito" e "O Príncipe da Dinamarca".

    O diretor Angelo Brandini, que integra os Doutores da Alegria desde 1994, conversou com a "Folhinha" após a estreia do espetáculo.

    Ele afirma que "Bruxas da Escócia" abre espaço para pais e filhos conversarem sobre uma obra de arte clássica e sobre a forma como as pessoas vivem nas sociedades.

    As atrizes e palhaças Teresa Gontijo, que interpreta Macbeth, e Layla Ruiz, que faz um dos filhos do rei Duncan e o papel de uma das bruxas, também falaram com a "Folhinha".

    Confira abaixo.

    *

    Folhinha - Como você acha que vai ser a recepção das crianças?
    Angelo Brandini - Acho que as crianças vão gostar. A gente fez essa montagem para as crianças de cinco e seis anos e para as mais velhas, mesmo que trabalhe com o conceito [de que o espetáculo é destinado a pessoas] de cinco a 105 anos. A ideia é trazer a família inteira para ver a peça.

    Folhinha - Os palhaços e os números circenses são a mediação entre a tragédia e a compreensão infantil? Você é craque em suavizar termos complicados nas outras tragédias que montou do Shakespeare.
    Brandini - Sim, o palhaço é minha arma, é minha língua, meu olhar para o mundo. Esse é o olhar que lanço para as obras de Shakespeare. Como as crianças, os palhaços são muito sinceros, falam todas as verdades que a gente precisa ouvir ou que eles querem falar e que ninguém tem coragem de dizer. É essa a função do palhaço e eles aprendem com as crianças, que são os nossos melhores mestres.

    Folhinha - De que modo os palhaços falam?
    Brandini - Arroz, feijão, salada e macarrão [risos].

    Folhinha - Como é fazer o papel de Macbeth?
    Teresa Gontijo - É um megadesafio. Ele é muito mal, uma pessoa de poucas virtudes. Mas, quando você faz teatro para crianças, pode aproveitar também o lado ridículo do mal, de ser tão maléfico, de querer ter tanto a vitória acima de tudo. Há uma coisa nisso que é muito risível e patética. É preciso tirar um pouco do peso moral da história e se divertir mais com o vilão, que é um pateta também, para as crianças poderem rir dele.

    Folhinha - O que acha do recurso da catapulta?
    Gontijo - Demais. Angelo tem uma habilidade fenomenal de adaptar os textos de Shakespeare e de fazer essas metáforas risíveis. O palhaço fala de temas muitos profundos, mas de forma divertida.

    Folhinha - O que você acha de o Filho 1 do rei vencer o mal?
    Layla Ruiz - É como aquele verso [de Paulo Leminski]: "Distraídos venceremos". O filho é bobão, ingênuo, não percebe o mecanismo da alavanca da catapulta e ele mesmo arremessa para o espaço o pai e o irmão. Depois ele percebe o que fez e cria uma estratégia de voltar disfarçado de floresta. Junta um povo que estava descontente com o reinado do Macbeth, volta para o castelo e vence o vilão. Ele aprendeu com o próprio Macbeth.

    Folhinha - Você também representa uma das três bruxas terríveis.
    Ruiz - Angelo ressaltou que não colocássemos as bruxas como vilãs, mas elas seduzem Macbeth porque nós temos todos os sentimentos. Não é que o Macbeth era um santo, mas elas cultivaram aquela terrinha, jogaram a semente, a água, e brotou uma ambição bem forte que já era do próprio Macbeth. As bruxas foram as jardineiras da ambição.

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