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    Fantoches milenares da China têm cabeça de madeira e cabelo de verdade

    ANA ESTELA DE SOUSA PINTO
    ENVIADA ESPECIAL A TAIPEI (TAIWAN)

    20/09/2014 00h01

    Os fantoches, bonecos que a gente veste como uma luva e mexe com os dedos, nasceram na China há milhares de anos e eram brinquedos de gente grande. Eles serviam para conversar com os deuses.

    Os bonecos pequenos chamados budaixi são tradicionais na China, mas estão sumindo. Hoje quase não há mais ninguém que saiba fazer as suas cabeças. Por isso, estudiosos lutam para preservar essa arte em Taiwan (ilha que funciona como país independente, mas que a China considera uma província rebelde).

    Na capital, Taipei, está um dos únicos cinco grupos que fabricam os bonecos budaixi: o Museu e Teatro de Bonecos Lin Liu-Hsin.

    Na entrada, dá para ver a oficina onde são feitas as cabeças. Têm uns dez centímetros de altura e são esculpidas em bloco de cânfora, madeira muito cheirosa. Mesmo após cem anos ainda se sente o perfume.

    Para aprender a fazer os bonecos, é preciso estudar três anos e quatro meses. No Lin Liu-Hsin, quem esculpe as cabeças é Lai Shi-an, 42, que começou a aprender a arte quando jovem. As roupas são costuradas com retalhos de tecidos caros, como seda e veludo. E as cabeleiras são feitas por outra pessoa, com cabelos de verdade.

    Há personagens de todo tipo: mulheres, velhos, bebês, monstros, deuses. Além dos fantoches, o museu tem marionetes (movimentados por barbantes), teatro de sombras e vídeos. Bonecos são tão populares em Taiwan que um canal de TV mostra, 24 horas por dia, desenhos animados estrelados por eles.

    Veja vídeo

    Para completar a brincadeira, um "Salão de Feiúra" faz maquiagens horripilantes e há um labirinto que simula o inferno. Mas não é preciso ter medo: na cultura budista, todo mundo passa pelo inferno, mas não é para sempre. Depois, as almas renascem em outros corpos. No museu também é assim. Os visitantes entram por uma porta giratória, passam por salinhas apertadas e "renascem" em outra área.

    O diretor, o holandês Robin Ruizendaal, diz que bonecos são ótimos para representar o inferno, pois podemos fervê-los, cutucá-los, pendurá-los sem que ninguém se machuque.

    No fim do passeio, todos podem brincar com fantoches aquáticos, hoje só comuns no Vietnã: no terraço, num palco montado sobre um tanque d'água, as crianças podem contar histórias com peixes e patos.

    A jornalista viajou a Taipei a convite do governo de Taiwan

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