• Folhinha

    Friday, 03-May-2024 02:40:15 -03

    Padre paleontólogo conta como concilia religião e pegadas de dinos

    REINALDO JOSÉ LOPES
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    18/10/2014 00h01

    Muitos paleontólogos (especialistas em estudar seres vivos do passado, como dinossauros e mamutes) sonham em encontrar um enorme esqueleto de bicho extinto algum dia.

    O padre Giuseppe Leonardi, porém, diz que pegadas de dinos podem ser mais interessantes do que qualquer osso gigante.

    "Quando você vê uma pegada, está vendo o animal vivo, em ação, em movimento, mesmo depois de milhões de anos", contou ele à "Folhinha", durante uma visita à UFSCar (Universidade Federal de São Carlos). "Dá para saber se ele estava caminhando ou correndo, se fez uma curva, se estava sozinho ou acompanhado."

    Reinaldo Jose Lopes/Folhapress
    Giuseppe Leonardi, que e padre e paleontologo Foto: Reinaldo Jose Lopes/Folhapress ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Giuseppe Leonardi, que é padre e paleontólogo

    Além de sacerdote da Igreja Católica (ele pertence a uma organização de religiosos chamada Congregação das Escolas de Caridade), Leonardi também é paleontólogo e diz que a vocação para virar cientista surgiu antes do plano de ser padre.

    Nascido em Veneza, na Itália, em 1939, ele viveu no Brasil de 1974 a 1989 e hoje trabalha em Kinshasa, na República Democrática do Congo, na África, numa escola para crianças carentes.

    PADRA CIENTISTA?

    Os anos que ele passou no Brasil o ajudaram a virar um dos maiores especialistas do mundo em pegadas de animais extintos.

    Leonardi estudou, por exemplo, marcas deixadas por grandes dinos e pequenos mamíferos ("primos" distantes dos nossos ancestrais) no deserto que cobria Araraquara, no interior de São Paulo, há 140 milhões de anos. "Ah, que coisa linda", diz ele, como se falasse com um bebê, ao ver uma dessas pegadas guardadas num laboratório da UFSCar.

    Apesar da distância, ele continua ajudando cientistas brasileiros a estudar pegadas daqui. Uma de suas descobertas mais recentes, feitas com colegas do Rio de Janeiro, é que seres microscópicos (bactérias que vivem em poças d'água), ajudaram a preservar pegadas no Nordeste.

    Não é estranho que um padre estude bichos pré-históricos? Na verdade, nem tanto, até porque padres cientistas são relativamente comuns, e a Igreja Católica aceita a teoria da evolução (leia mais no quadro e no texto abaixo).

    "Acho mais bonito um Deus que cria a vida através da evolução do que um que criou tudo de uma vez", explica. "Não se pode ler o Gênesis [o livro da Bíblia que conta histórias como as de Adão e Eva e da arca de Noé] como se tivesse sido escrito ontem, como histórias comuns. É preciso interpretá-lo de outro jeito", afirma.

    O padre fica sério quando perguntam se ele fala sobre ciência com as crianças do Congo. "Fica em segundo plano. Na situação em que vivem, é de carinho que elas precisam", conta.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024