"Não é vergonha, não. Ser da turma do mais gordinho, ter pernas tortas, ser bem baixinho ou grandalhão." Para o músico Toquinho, que compôs o verso em 1987, a frase está mais atual do que nunca.

"Na época em que escrevi, não se discutia os problemas das crianças como hoje. A palavra 'bullying', por exemplo, nem existia", diz o cantor. A partir deste sábado (12), o refrão fará parte de uma peça infantil toda inspirada em um CD do compositor.

Editoria de Arte/Folhapress

O disco "Canção de Todas as Crianças", concebido ao lado do artista Elifas Andreato, ilustrava os dez direitos universais das crianças, publicados pela ONU (Organização das Nações Unidas) em 1959. Agora, dará vida a uma história ambientada no século 19, durante a Revolução Industrial.

O espetáculo tem três eixos: uma rainha emburrada e solitária, um Primeiro Ministro que quer ser poderoso e seis crianças que trabalham mais do que gente grande –chamadas de "coisinhas" e interpretadas por adultos.

Tudo o que os pequenos operários pedem à dona do reino é mais comida, para conseguirem ao menos dormir, falar e pensar. Mas as coisas começam a mudar quando a rainha é convidada a sair de seus aposentos e ver o mundo do lado de fora, guiada pelos meninos.

"Peguei as dez músicas do Toquinho, espalhei pelo chão e comecei a criar a trama a partir desses três eixos", conta a diretora Carla Candiotto, uma das fundadoras da premiada companhia de teatro Cia Le Plat du Jour, que ficou famosa por fazer versões de contos de fadas clássicos.

Segundo ela, a intenção é valorizar o senso crítico das crianças, e não o didatismo. A peça terá passagens inspiradas no circo e teatro de bonecos, por exemplo.

"Precisamos de mais respeito às crianças, de produções que não as subestimem, e não de um refrãozinho qualquer", diz Toquinho, que não participou da montagem e viu parte do espetáculo apenas nesta terça (8).

É a terceira vez que o CD "Canção de Todas as Crianças" é adaptado para os palcos. Outras duas peças se basearam nas mesmas músicas infantis do compositor –uma em 1997, dirigida pelo dramaturgo Roberto Lage, e a outra em 2004, escrita pela autora Ana Maria Machado.

Mas se a história é sobre crianças e para crianças, por que os personagens não são interpretados por atores mirins? A diretora Carla Candiotto é enfática: "Criança não trabalha."

PARA CONFERIR

Espetáculo 'Canção dos Direitos das Crianças'
ONDE Teatro Shopping Frei Caneca - r. Frei Caneca, 596, Consolação
QUANDO de 12 de setembro a 1º de novembro; sáb. e dom., às 16h
QUANTO R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia)

Colaborou JÚLIA BARBON

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