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    Meninas rappers atraem atenção com músicas sobre racismo e igualdade

    JÚLIA BARBON
    DE SÃO PAULO

    17/10/2015 02h00

    Quando era mais nova, Soffia Correa, 11, achava que tinha a pele escura porque havia caído em um balde de tinta marrom. Pelo menos era isso que as colegas da escola falavam.

    Agora, ela sabe que não é nada disso. "Sou negra porque minha família é negra", diz. "Meu cabelo, nariz e boca são heranças."

    Foi a música que a ajudou a enxergar isso. Hoje, ela é conhecida pelo apelido MC Soffia. Essas duas letrinhas na frente do nome vêm do termo "mestre de cerimônia" e indicam que a garota é cantora de rap, estilo musical que nasceu nas periferias das cidades e costuma tratar de preconceito (leia abaixo).

    "Para mim, o rap fala sobre o que as pessoas estão sentindo ou vivendo", explica Soffia, que faz rimas sobre racismo (discriminação contra negros e outros preconceitos) e igualdade entre meninas e meninos.

    A garota, que começou a cantar com seis anos, agora tenta arrecadar dinheiro na internet para lançar seu primeiro CD. Também virou modelo de uma marca famosa de roupas.

    "Tenho o sonho de gravar com a cantora Beyoncé e também o de fazer um show e ver na plateia várias mulheres que pararam de alisar o cabelo porque ouviram o meu recado."

    DE MÃES PARA FILHAS

    MC Soffia não é a única menina que tem voz dentro no rap. Assim como ela, Ester GGF, 12, e DJ Niely, 13, moram em bairros afastados do centro de São Paulo e usam um nome artístico para se apresentar. Mas as três têm mais do que isso em comum: ganharam o hip-hop como herança.

    As garotas entraram nesse mundo porque tiveram um empurrãozinho da família e, principalmente, das mães. "Ela canta há 20 anos, então, mesmo antes de nascer, eu já estava nesse meio", conta Niely Rabetti, a DJ Niely.

    Ester Guerra também ouvia rimas em casa desde pequena. Há três anos, escreveu uma música que acabou inspirando a família a criar um grupo de rap, o GGF A Família, em que canta com os pais e o irmão. "Eles estão sempre me dando dicas: vai mais para frente, tenha mais atitude, essa palavra não está boa", diz Ester GGF.

    Dar conselhos é uma prática comum também na casa de Soffia. A mãe e a avó ajudam a garota a compor suas músicas. "Minha família começou a me levar a eventos de hip-hop e a desfiles de mulheres negras com cabelo grandão, 'black power', e adorei".

    As três meninas têm ainda mais uma característica parecida: defendem que meninos e meninas tenham os mesmos direitos.

    A canção que Soffia lançou na semana passada, "Menina Pretinha", por exemplo, começa assim: "Esconde-esconde, peteca, bolinha de gude e pega-pega; menino e menina podem brincar de boneca".

    Entre as inspirações delas estão artistas americanas e brasileiras, como Rihanna e Negra Li. Mas uma delas é especial. "Minha mãe é a grande influência de tudo isso. Ela sempre vai me apoiar", diz Niely.

    *

    O QUE É HIP-HOP?
    É um estilo de vida que junta várias formas de se expressar: música, dança e grafite. O movimento surgiu nas periferias das cidades.

    RAP
    Em inglês, quer dizer 'ritmo e poesia'. É um tipo de música que faz parte da cultura hip-hop. Muitas vezes fala sobre problemas sociais, como preconceito e pobreza.

    BREAK DANCING
    Com piruetas e outros movimentos improvisados, é a dança de rua que acompanha o rap. Alguns dançarinos até 'plantam bananeira' sem as mãos, usando só a cabeça.

    GRAFITE
    Técnica de pintar muros ou outros espaços urbanos com spray. Mas atenção: não vá sair pichando qualquer parede. É preciso ter permissão para grafitar.

    ROUPAS
    Quem faz parte da cultura hip-hop normalmente usa roupas esportivas. Camisetas e calças largas, bonés e tênis fazem parte do estilo.

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