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    Criança deve ter mais livros que telas, diz autor de 'Diário de um Banana'

    JÚLIA BARBON
    DE SÃO PAULO

    29/10/2015 02h00

    Para o cartunista Jeff Kinney, 44, autor da série "Diário de um Banana", as crianças "devem ter mais livros do que telas".

    Com mais de 150 milhões de exemplares vendidos no currículo, Kinney vai aumentar esse número quando lançar mundialmente, no dia 3 de novembro, o décimo volume da coleção.

    A história de "Diário de um Banana - Bons Tempos" –que continua com a fórmula de misturar quadrinhos ao texto – foi baseada justamente no excesso de telas que usamos hoje.

    "Estamos exagerando na tecnologia, às vezes olho para a minha família sentada à minha volta e todos estão olhando para alguma tela", diz.

    No novo livro, o protagonista azarado Greg terá que abrir mão das facilidades tecnológicas a que está acostumado, já que todos da cidade decidem passar alguns dias sem aparelhos eletrônicos.

    O garoto também terá que conviver com o avô, que se mudou para a sua casa.

    "Diário de um Banana" já foi traduzido para 48 línguas e inspirou três longas em "live action" (com atores de verdade). Segundo o autor, o quarto está no forno.

    Para o Dia Nacional do Livro, comemorado nesta quinta (29), conversou com a Folha por telefone. Além de escrever a série, Jeff Kinney também desenvolve jogos on-line e administra uma livraria na cidade onde mora, Plainville, no estado de Massachusetts.

    *

    Folhinha - O novo livro, "Diário de um Banana - Bons Tempos", é sobre a relação entre crianças e tecnologia. Por que decidiu falar sobre esse assunto?
    Na história, a cidade de Greg fica sem eletrônicos por alguns dias, e para uma criança como ele é muito difícil se separar dos dispositivos. Assim como é difícil para a maioria das pessoas hoje. É o que vejo no meu dia a dia. Todos nós estamos exagerando na tecnologia, às vezes olho para a minha família sentada à minha volta e todos estão olhando para alguma tela, e penso que fomos longe demais. Sou dono de uma livraria na minha cidade e essa é nossa premissa. Pensamos que as crianças devem ter mais livros do que telas, e acho que estou passando essa mensagem.

    Jeff Kinney - O protagonista Greg evoluiu desde 2007, quando o primeiro livro foi publicado nos Estados Unidos?
    Não, ele ainda é o mesmo personagem. Acho que nos cartuns os personagens têm que se manter consistentes. É a mesma coisa do desenho animado, como o Bob Esponja. O personagem não pode mudar tanto. Não é um drama, é uma comédia, eles podem até se transformar durante o programa, mas sempre voltam ao que eram no início.

    A série já vendeu mais de 150 milhões de exemplares no mundo. O que faz as crianças gostarem tanto do livro?
    Eu acho que as crianças se sentem atraídas pelo humor e pelas ilustrações. Quando elas abrem um dos meus livros, veem que não é trabalho, é diversão. Elas também se veem no Greg, porque ele não é um herói como Harry Potter. Não é corajoso, forte ou poderoso. É fácil de ser reconhecido, é engraçado.

    A série também já foi traduzida para 48 línguas, inclusive o latim. Como agrada crianças de culturas tão diferentes?
    Eu me pergunto a mesma coisa. Quando eu encontro crianças no Brasil e em outras partes do mundo, fico sempre maravilhado com o fato de que não compartilhamos a mesma língua ou a mesma cultura. A única coisa que temos em comum são as histórias, e eu realmente acho que é porque a infância é universal. Existe uma linguagem comum na infância.

    Você veio ao Brasil em 2013, para lançar o sétimo livro da série, e voltou em setembro deste ano, para a Bienal do Livro no Rio. O que achou das crianças brasileiras que conheceu?
    Elas não são como as crianças de outras partes do mundo. Elas parecem mais expressivas e abertas com suas emoções. Elas me receberam de um jeito que eu nunca tinha sido recebido antes. Eu realmente amo ir ao Brasil. Quero ter certeza de que vou passar por aí nesta turnê.

    Elas receberam as histórias de uma maneira diferente ou não?
    Tem alguma coisa no protagonista com a qual as crianças brasileiras parecem se identificar. Eu não sei o que o Greg tem. Acho que parte da mágica que atrai as crianças brasileiras está no nome do livro, "Diário de um Banana" [diz em português]. O editor veio com esse título e eu acho que é um título engraçado, faz você querer ler a história.

    Como é seu processo criativo? Você desenha à mão ou no computador?
    Eu passo seis meses apenas escrevendo as piadas. Depois, gasto um ou dois meses como o primeiro rascunho e, por último, faço todas as ilustrações, o que leva mais uns dois meses. Então demoro cerca de nove meses para acabar um livro. Faço tudo no computador.

    Acha que as imagens dos quadrinhos podem de alguma forma atrapalhar a imaginação das crianças?
    Eu não acho que os livros de quadrinhos prejudiquem a imaginação das crianças, mas você está certa, elas provavelmente não têm que usar tanto a imaginação quando leem um livro assim. O cartum é a arte da simplificação, então, como cartunista, tento usar a menor quantidade de informação e de linhas possível para contar a história. Acho que um cartunista tem que dar ao leitor o suficiente, não muito.

    Você disse uma vez que inicialmente escreveu a história para adultos. Quando percebeu que era um livro para crianças?
    Quando meu editor me contou [risos]. Ele disse: "Uau, esse livro que você escreveu para adultos é, na verdade, perfeito para crianças". Foi uma surpresa muito grande para mim. Levei muito tempo para me acostumar com a ideia. Passei oito anos escrevendo um livro para adultos, para depois me contarem que era para crianças.

    Em 2013, você disse à "Folhinha" que, a princípio, a série terminaria no décimo volume. Este é o último livro?
    Não, eu vou continuar. Pode ser que tenha sido o meu último no contrato, mas estou fechando um novo contrato agora. Eu gostaria de escrever mais dez deles se pudesse.

    'DIÁRIO DE UM BANANA - BONS TEMPOS'
    AUTOR Jeff Kinney (tradução Alexandre Boide)
    EDITORA V&R
    PREÇO R$ 36,90

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