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    Crianças que não têm um braço usam mão robótica que imita super-heróis

    JÚLIA BARBON
    DE SÃO PAULO

    07/11/2015 02h00

    Kelvin Braga, 6, que nasceu sem a mão esquerda, ganhou um braço robótico inspirado no seu personagem favorito, o Ben 10. "Às vezes também brinco que sou o Wolverine", diz.

    Assim como o herói da história em quadrinhos, com garras indestrutíveis, Kelvin percebeu que também pode ter superpoderes (veja vídeo abaixo).

    Antes, não brincava muito com os amigos. Não por dificuldades causadas pela deficiência, mas por vergonha dela. "Sempre gostei de subir em árvore e jogar bola, não ter uma mão não muda nada."

    A engenhoca o ajudou a ver que não precisava se esconder –afinal, todos têm suas diferenças e devem ser respeitados por elas.

    A invenção imita uma mão de verdade, só que é produzida com elásticos e plástico, entre outros materiais. Custa de R$ 650 a R$ 1.500 (bem menos que próteses comuns, que podem passar de R$ 100 mil), porque foi feita em uma impressora 3D: em vez de imprimir fotos ou textos, ela faz objetos.

    Como a mão robótica é feita

    Além de Kelvin, que ganhou a mão robótica em 2014, cerca de 30 crianças têm esses aparelhos no Brasil, doados por voluntários de um projeto chamado e-Nable.

    "A única coisa que não conseguia fazer bem era andar de bicicleta. Agora consigo", conta Rafael Costa, 7, que nasceu sem o antebraço esquerdo e usa uma prótese azul e laranja. "Meus amigos falam: 'Quando perder a mão, vou querer uma igual a essa'."

    VAI UMA MÃOZINHA?

    O braço robótico pode ajudar em algumas tarefas, mas acaba atrapalhando em outras. Um dia, o professor de educação física de Ryan Víctor Santos, 7, passou um exercício em que os alunos precisariam se pendurar numa corda.

    O menino nasceu sem a mão esquerda e esperava receber a prótese em alguns dias. Ele achava que conseguiria fazer a atividade da aula quando o aparelho chegasse.

    Mas, quando ganhou a prótese, viu que ela não o ajudaria a se pendurar na corda ou em outras tarefas que sempre fez sem precisar dela. "Tiro o braço para surfar, andar de skate e lutar taekwondo, porque atrapalha", conta.

    Como está acostumado desde pequeno a fazer as coisas do jeito dele, Ryan acha estranho agir de outra forma. É diferente, por exemplo, de quando a pessoa perde a mão em um acidente. Nesse caso, ela pode sentir mais necessidade de algo que substitua esse membro.

    Os braços robóticos impressos em 3D, porém, fazem só um movimento e exigem força: quando a criança dobra o punho, os dedos se fecham; quando estica, eles abrem.

    Para Rafael Costa, 7, usar a invenção faz diferença em algumas situações. Ele, que nasceu sem o antebraço esquerdo, gosta de ser goleiro: "Às vezes me ajuda a defender".

    Mas, na hora de jogar tênis, vôlei ou de cozinhar, ele prefere os próprios braços. "Tenho medo que encoste na panela", diz.

    Kelvin Braga, 6, testa sua prótese; assista

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