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    Como funciona a única escola de balé de Gaza, na Palestina

    DA REUTERS

    01/12/2015 02h52

    Um grupo de meninas, de rabo de cavalo e roupa rosa, estende os braços para os lados e gira na ponta dos dedos, tentando manter-se em pé. Os movimentos das mais novas aspirantes a bailarina de Gaza são vistos com olhos atentos pela professora.

    Cinquenta meninas, de 5 a 8 anos, estão matriculadas no balé do Centro Al-Qattan for Children, em Gaza, sob o comando de uma instrutora ucraniana. Em meio ao caos e à destruição desse território palestino, que constantemente se vê envolvido em conflitos entre Israel e o Hamas, a escola é uma espécie de refúgio –o que faz com que muitos pais fiquem ansiosos para que seus filhos possam fazer parte da instituição.

    "O projeto é um sonho para muitas famílias", diz Heyam Al-Hayek, responsável pelas atividades culturais do Qattan. "Queríamos ter aulas de balé, mas não conseguíamos encontrar professores. Foi difícil trazer um instrutor do exterior."

    O sonho começou a tomar forma quando encontraram Tamara, uma ucraniana que estudou dança e é casada com um palestino. Ela, que pediu para não divulgar seu sobrenome, tinha ido morar em Gaza com o marido.

    Eles começaram um projeto piloto no verão, sem saber quantos pais inscreveriam seus filhos, uma vez que o balé está longe de ser um passatempo comum para essas famílias muçulmanas. Rapidamente, 50 crianças, todas meninas, se registraram. Agora há uma lista de espera que passa da centena de inscritos.

    Na sala, 14 alunas alinham-se ao longo da parede, a mão segurando uma longa barra de metal. Elas tentam copiar precisamente os passos ensinados por Tamara, dobrando os pés e joelhos, um braço estendido, queixos erguidos.

    Apesar da pouca idade, algumas delas já passaram por quatro guerras. Gaza vive sob o comando do grupo islâmico Hamas desde 2007 e, desde então, Egito e Israel mantêm um bloqueio no território, monitorando cuidadosamente o fluxo de mercadorias e pessoas na região.

    Para os pais dessas meninas, o balé se tornou a chance de preservar suas filhas do dia a dia e da realidade de Gaza. A mãe de Maria, 6, disse que a dança tem ajudado sua filha a superar anos de trauma.

    "Ela vinha sofrendo desde a guerra de 2012, mas sua condição piorou depois da guerra do ano passado", disse Manal Abu Muamar, dizendo que a menina tinha constantes pesadelos e medo na hora de ir dormir.

    "Após a primeira aula de balé, ela voltou para casa tão feliz como um pássaro. Ela repetiu os movimentos que tinha aprendido e andava ao redor da casa como uma borboleta."

    Quase metade dos 1,8 milhão de habitantes de Gaza são menores de 18 anos. A Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) estima que 400 mil deles precisam de alguma assistência psicológica.

    Como se fosse uma fuga ou uma oportunidade para experimentar o que antes só podia ser visto na TV, o balé faz com que a professora descreva muitas das alunas como "excelentes" e "meninas fortes", com o desejo de ir mais longe.

    "Eu costumava imitar a dança do balé que eu via na televisão ou no YouTube", disse Bana Zuarub, 8. "Agora estou aprendendo de verdade –e adoro isso."

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