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    Crianças modelos têm que lidar com padrões de beleza

    JÚLIA BARBON
    DE SÃO PAULO

    12/12/2015 02h00

    Além de ir à escola, Rafaella Maia, 13, trabalha como modelo. Loira de olhos verdes, ela ganhou quatro prêmios de beleza, incluindo o Miss Universo Teen 2015.

    Mesmo com todos os títulos, ela diz que seu perfil não é o mais buscado por marcas para propagandas na TV: "Loiras de olhos claros não são tão procuradas."

    Isso acontece porque existe algo chamado "padrão de beleza" –um conjunto de características que influencia quem as marcas escolhem para vestir e divulgar os produtos.

    "Mas é importante saber que toda criança é bonita, cada uma tem uma beleza particular", afirma a psicóloga Celia Terra.

    A fotógrafa de moda Anie Recinella diz que esses padrões mudam. "Antes, a aparência europeia [pessoas mais claras] era a mais popular. Hoje em dia, os brasileiros se identificam mais com quem tem cabelos castanhos ou é negro."

    Joana Guedes, 8, que é negra, percebeu isso: "Como não tem muitas modelos parecidas comigo, me chamam bastante".

    Existem outras características exigidas. Quando a criança perde um dente de leite, geralmente ela para de fazer comerciais até que um novo, o permanente, cresça –a "janelinha", avaliam as agências, poderia tirar a atenção do produto.

    Há outras cobranças excessivas, comuns a modelos adultos, como as relacionadas ao peso: algumas dessas agências dizem aos pais que as crianças não podem comer muito ou têm que fazer esportes para não engordar.

    ROTINA

    Duda Bündchen, 9, adora fazer penteados e pintar as unhas para ir à escola. E tem dias em que ela precisa se enfeitar ainda mais (leia entrevista).

    É que, desde que descobriram seu sobrenome –o mesmo da famosa modelo Gisele Bündchen–, revistas e marcas de produtos começaram a convidá-la para desfilar e fazer fotos.

    "Nesses dias tem sempre um maquiador para me arrumar", conta a menina, que aprendeu a andar na passarela observando a tia.

    Assim como Duda, há outras crianças que fazem esse tipo de atividade algumas vezes por mês ou por semana. Elas precisam da autorização de um juiz para trabalhar e não podem gastar mais que seis horas por dia nisso. "Quando tenho que sair mais cedo da escola, levo lições para casa", diz Duda.

    As crianças chegam a ganhar de R$ 100 a R$ 5.000 por trabalho, mas isso exige certo sacrifício. Às vezes é preciso ficar várias horas dentro de um estúdio e, mesmo assim, há a chance de não ser selecionado para atuar como modelo, ou mesmo de ganhar muito pouco para tanto trabalho.

    "Uma vez estava quase sendo aprovado em um teste, mas acabaram não me escolhendo. Fiquei triste", conta Bruno Castanheira, 12.

    E como funcionam esses "testes"? "Eu tinha um pai e uma mãe de mentirinha e me pediam para fazer coisas enquanto filmavam", lembra Davi Butzge, 4.

    Também há quem se sinta nervoso diante das câmeras: "No começo, pensava que não ia sair bem. A fotógrafa me pedia para sorrir e mandar beijo", diz Vivian Ueno, 9. "Mas depois fiquei mais solta e relaxei."

    *

    DE SOL A SOL
    A rotina* de uma criança que faz trabalhos como modelo

    6h - ACORDAR
    O dia de uma criança que vai modelar começa como qualquer outro: sair da cama, tomar café da manhã e escovar os dentes são as primeiras tarefas.

    7h - IR PARA A ESCOLA
    O ideal é que os testes ou gravações aconteçam fora do período de aula. Caso tenham que faltar, elas pedem aos colegas a matéria dada no dia.

    12h - IR PARA O ESTÚDIO
    Às vezes não dá tempo de passar em casa antes do trabalho, então a criança se troca ou come no caminho mesmo. Tem algumas que até estudam no carro.

    13h - ARRUMAR-SE
    Adultos profissionais maquiam, penteiam e vestem os modelos. Normalmente há lanche ou almoço, e alguns usam o tempo livre para brincar.

    14h - FAZER POSE
    É a hora de sorrir ou atuar na frente das câmeras. Quando o trabalho é longo, as crianças fazem uma pausa para descansar ou para comer.

    18h - VOLTAR PARA CASA
    Após o dia cansativo, elas tomam banho e jantam. Depois, brincam ou acabam a lição de casa e voltam para onde o dia começou: a cama.

    * Os horários foram estimados com base na rotina de duas crianças entrevistadas

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